Foi um dos principais rostos do Manifesto dos 74, que juntou nomes da esquerda à direita, sugerindo uma reestruturação da dívida. Mas, agora, Bagão Félix mostra-se abertamente contra o primeiro plano concreto que saiu desse núcleo de pessoas.
Esta quinta-feira Francisco Louçã, Pedro Nuno Santos (deputado do PS) e o economista Ricardo Cabral apresentam na Faculdade de Direito precisamente isso: “Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa”, plano detalhado para cortar a metade a dívida pública. Bagão Félix ainda não leu o documento, mas leu várias notícias sobre ele. E não tem dúvidas em dizer que lhe parece um plano “completamente impossível”.
“Eu subscrevi o manifesto com algumas condições: que não houvesse um perdão; que qualquer solução tinha que ser feita num contexto europeu; e que nada seria feito com relaxamento dos objetivos orçamentais e das reformas para a economia”, diz ao Observador. Não é isso, porém, que retira da proposta de Louçã: “Ia atingir as poupanças das famílias, que nunca mais punham dinheiro no Estado. Os bancos eram nacionalizados ou arriscavam-se a ficar todos em mãos estrangeiras. E, depois, já agora, como é que conseguíamos emitir dívida”, questiona o ex-ministro das Finanças.
O Manifesto dos 74, publicado a 28 de março de 2014, defende que “sem reestruturação da dívida, o Estado continuará enredado e tolhido na vã tentativa de resolver os problemas do défice orçamental e da dívida pública pela única via da austeridade”. Foi assinado por empresários, economistas e figuras da política de esquerda e de direita, como os ex-ministros das Finanças Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, António Saraiva, Carvalho da Silva, Gomes Canotilho, Sampaio da Nóvoa e Francisco Louçã, entre outros. Na altura, João Cravinho explicou à Lusa que o manifesto pretende ser “um apelo de cidadãos para cidadãos”.