Ana Drago saiu do Bloco de Esquerda e admitiu conversar com o PS para futuros entendimentos… e os dois PS’s (o de Seguro e o de António Costa) admitem falar com a ex-dirigente do BE.
Pelo lado da direção de António José Seguro, admite-se que “há espaço para conversar”, diz o secretário nacional Eurico Brilhante Dias ao Expresso Diário (link para assinantes). Ao jornal, o dirigente socialista fala no geral dizendo que “em abstrato, todas as convergências e todos os compromissos à esquerda são úteis para o país, mas tem de haver uma agenda mais concreta”. Em causa está o facto de o próprio PS estar em debate interno e que só depois do debate é que se devem ponderar essas conversas mais factuais.
Já António Costa apresentou-se desde o início com a promessa de um Governo à esquerda. Foi aliás o mote da apresentação da candidatura do autarca de Lisboa às eleições primárias para escolha do candidato a primeiro-ministro. Pelo que admitir falar à esquerda, e muito mais com uma dissidente do Bloco de Esquerda, é visto com bons olhos pelo lado da candidatura de Costa. Também ao Expresso Diário, Pedro Nuno Santos, apoiante de Costa e que na semana passada apresentou um relatório com Francisco Louçã com soluções para a reestruturação da dívida pública, abriu a porta a uma conversa até porque, lembra “é uma oportunidade para desbloquear um problema que o PS tem à esquerda”.
O problema a que se refere Pedro Nuno Santos tem a ver com o facto de tanto o PCP como o BE não se colocarem como alternativa para integrar um Governo. E esse ponto é vincado por Daniel Oliveira, que abandonou o BE há anos ainda no tempo de Louçã.
Num artigo de opinião na edição desta segunda-feira do Expresso Diário (link para assinantes), Daniel Oliveira partilha de uma visão expressa por Ana Drago: de nada vale uma esquerda se não for alternativa. Ou, pelas palavras do próprio: “Defendo uma força política que participe num governo. Defendo uma força política que participe na governação. Não é a mesma coisa. Não se trata apenas de fazer maiorias com o PS. Trata-se de construir maiorias para uma governação decente, com políticas decentes, em que o PS é,nas atuais circunstâncias, um elemento indispensável!”
E atualmente, para o comentador, não há à esquerda quem o faça: “Não me interessa grande coisa uma ‘esquerda forte’, que não tenho, se ela for irrelevante na vida concreta das pessoas. Se ela se contenta em ter razão e em ser uma força de resistência a trabalhar para a memória e para a posteridade. Interessa-me ter uma esquerda que permita que haja um governo substancialmente diferente do atual”