A atriz Lauren Bacall morreu na terça-feira, aos 89 anos. De acordo com o site TMZ, a atriz teve um “forte ataque cardíaco” na manhã de terça-feira e não resistiu.
A notícia foi confirmada pela Bogart Estate, que gere o património de Humphrey Bogart, com quem Lauren Bacall foi casada e teve dois filhos.
With deep sorrow, yet with great gratitude for her amazing life, we confirm the passing of Lauren Bacall. pic.twitter.com/B8ZJnZtKhN
— BogartEstate (@HumphreyBogart) August 12, 2014
Nascida em 1924, com o nome Betty Joan Perske, foi o realizador Howard Hawks que apostou nela e a convidou para contracenar com Humphrey Bogart no filme Ter ou não ter. Para além de ter ganho notoriedade, Lauren Bacall conheceu Humphrey Bogart (na altura casado), por quem se viria a apaixonar e com quem casaria mais tarde. Os dois tiveram dois filhos e foram casados até 1957, data da morte de Bogart.
À beira do abismo, de 1946, e mais tarde Como agarrar um milionário, de 1953, onde contracena com Betty Grable e Marilyn Monroe, são alguns dos muitos filmes da sua carreira.
Só passados 50 anos de carreira é que Lauren Bacall foi nomeada a um Óscar da Academia. A nomeação aconteceu em 1996 pelo desempenho como atriz secundária no filme As duas faces do espelho, onde faz de mãe de Barbra Streisand. O Óscar chegou em 2009, na forma de prémio honorário “em reconhecimento do seu papel central na época de ouro do cinema”, justificou a Academia.
Entre os vários outros prémios que ganhou contam-se dois Globos de Ouro e um César honorário em Cannes.
“A sua vida fala por si. Foi uma vida maravilhosa e mágica”. Foi desta forma que Stephen Bogart, filho de Bacall – assim chamado por ser esse o nome da personagem de Bogart em Ter ou não ter -, se referiu à morte da mãe, que, antes de alcançar o estrelato e conhecer aquele que era, na altura, um dos maiores (o maior?) galãs de Hollywood, sonhava com uma vida nas luzes da ribalta, à semelhança da sua heroína de quando tinha 15 anos, Bette Davis. Nessa idade, Bacall, ainda só Betty Perske, costumava faltar às aulas para ir ver filmes e, mais tarde, ia ao cinema não para admirar as películas mas para mostrar aos espetadores os seus lugares na sala. Terá sido uma altura complicada para Bacall, à data inscrita numa agência de modelos e à procura de papéis em peças de teatro.
Um dia, tudo mudou. Betty Perske, com a sua beleza “felina”, como a define a revista Variety, faz capa da Harper’s Bazaar e, apesar de David O. Selznick – produtor de filmes como E Tudo o Vento Levou; Rebeca e King Kong – a ter contactado, foi a mulher de Howard Hawks, Nancy, que a fez catapultar para uma carreira na representação. Betty deixara-se fotografar em frente a um centro de doação de sangue da Cruz Vermelha.
“Percebe-se porque é que Slim [como era conhecida Nancy Hawks] ficou arrebatada por esta rapariga, pelo seu aspeto. É um look ainda muito moderno. Aborrecido, descarado, sensual. Uma fumadora, uma bebedora, uma jogadora. One of the boys”, é como se refere o crítico Dan Callahan a Lauren Bacall.
Corria o ano de 1944. Betty Perske passa a chamar-se Lauren Bacall, por sugestão de Howard Hawks e faz a sua estreia cinematográfica, no já referido Ter ou não ter, baseado no livro de Ernest Hemingway, onde, para além de ter conhecido Humphrey Bogart, teve uma prestação que o New York Times considera ter sido aquela que mais impacto teve, de toda a sua carreira. Aliás, talvez seja disso sintomático o facto de nunca ter recebido um Óscar a não ser o de carreira, em 2009.
Ao entrar para a carreira cinematográfica, onde participou em mais de 40 filmes, Bacall continuava a ser uma rapariga tímida e insegura. Por isso, reza a lenda, Howard Hawks levava-a para locais onde não pudesse ser ouvida e obrigava-a a gritar imparavelmente. Uma outra versão da história é a de que a atriz se refugiava em Mullholand Drive, uma estrada recatada com vista sobre Hollywood, e lia em voz alta “The Robe”, um livro bíblico (mais tarde convertido no filme A Túnica). “Quem é que ia de carro para o topo de montanhas ler livros em voz alta para os desfiladeiros? Eu ia”, confirmou mais tarde, a própria. Fosse como fosse, a sua voz era-lhe característica. “Aquela voz baixa dela!”, relembra Callahan.
Bacall tinha então 19 anos e Howard Hawks suspirava por ela. Não teve, no entanto, muita sorte.
“Durante as primeiras filmagens de ‘À Beira do Abismo’, Bogart ainda era casado e tentava salvar esse casamento e Hawks, que talvez tivesse desejos próprios relativamente a Bacall, estava principalmente interessado em manter as suas duas estrelas separadas quando não estavam a trabalhar. (…) Bogart e Bacall haviam-se tornado inseparáveis e, como consequência, a relação de Hawks com ambos arrefeceu”, escreve Jonathan Rosenbaum.
Certa noite, Humphrey Bogart – que, lembre-se, já beijara várias outras divas, como Ingrid Bergman, em Casablanca – foi dizer ‘boa noite’ a Lauren e, provavelmente no seu estilo de galã, inclinou-se para ela e deu-lhe um beijo. Ele tinha mais 25 anos do que ela, já estava no seu terceiro casamento e era um dos homens mais cobiçados do mundo. “Ele significava tudo no mundo para mim. Não queria acreditar na minha sorte”, escreveu mais tarde Lauren, que foi casada com Bogart até à morte do ator em 1957 e contracenou com ele em quatro filmes ao todo, entre 1944 e 1949.
Dizem os críticos que, dos quatro, só os dois primeiros valem realmente a pena: Ter ou não ter e À Beira do Abismo, um clássico que Jonathan Rosenbaum, crítico norte-americano, não hesita em classificar como obra-prima. Também o crítico Roger Ebert lhe atribuiu 4 estrelas em 4 possíveis. “Alguns tipos maus são mortos e outros são presos, mas não queremos saber disso – porque o resultado final é que Bogart e Lauren Bacall acabam nos braços um do outro. À Beira do Abismo é uma história de luxúria com um argumento sobre muitas outras coisas”, resume Ebert.
Os fãs gostavam do romance, dentro e fora dos ecrãs, mas a Lauren incomodava-a a atenção, sobretudo depois da morte de Humphrey. “O meu obituário vai estar cheio de Bogart, tenho a certeza. Nunca saberei, mas se assim for, seja”, disse em 2011 à Vanity Fair, já conformada com a inevitável associação entre os dois atores. Aliás, na mesma entrevista, chega a dizer que odiava o Óscar que tinha recebido. “Estou pronta para o atirar pela janela, odeio-o”, afirmou, porque, ao aceitá-lo, apenas falara de Bogart e nunca dos seus filhos nem do seu segundo marido, Jason Robards, de quem teve uma criança. A atriz relacionou-se ainda brevemente com Frank Sinatra.
Depois dos quatro filmes com Bogart, Bacall teve uma carreira errante, ora recusando muitos papéis no cinema ora participando em musicais no teatro, pelos quais recebeu diversos prémios. No grande ecrã, os seus últimos trabalhos foram em Dogville, de Lars Von Trier, Birth – o mistério, de Jonathan Glazer e O acompanhante, de Paul Schrader.