As emigrações recentes de portugueses são menos definitivas, registando-se frequentes saídas e reentradas no país, o que significa que Portugal “não está a perder os seus melhores recursos para sempre”, disse à Lusa o coordenador de um estudo nacional.

“Os movimentos migratórios, hoje, são provavelmente mais rápidos e certamente mais circulares que eram no passado. Em vez de os portugueses irem lá para fora, passarem uma vida inteira e depois eventualmente virem passar a reforma a Portugal, o que encontramos hoje são muitas saídas de pessoas muito jovens, por vezes muito qualificadas, mas com posteriores reentradas”, afirmou João Peixoto, professor catedrático no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG), coordenador do estudo “Remigr”, que pretende estudar o fenómeno das migrações portuguesas desde o início do século XXI.

Para o responsável, não está em causa “uma perda definitiva, para sempre”.

“Nos anos 60, as pessoas emigravam para França e encontravam empregos para a vida toda. Isso hoje já não existe e por isso é normal que os trajetos sejam muito mais precários. As pessoas arranjam trabalho lá fora, ficam lá algum tempo em trabalhos mais ou menos precários e depois ou vão para outro país ou regressam a Portugal ou mudam de emprego”, explicou.

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Estes são dados baseados no último recenseamento nacional, de 2011, que “transmitem algum otimismo”.

“Grande parte do pânico mais recente em relação às saídas tem a ver com a possibilidade de estas saídas serem definitivas e permanentes e de o país estar a perder para sempre os seus melhores recursos. Não é isso que nós vemos”, garantiu.

Esta é uma realidade que um grupo de investigadores de quatro faculdades nacionais pretende agora aprofundar, num projeto que pretende fazer um “retrato o mais fiel possível”, disse à Lusa João Peixoto.

Intitulado “Remigr”, o projeto é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e reúne especialistas em migrações do Centro de Investigação e Sociologia Económica e das Organizações, do ISEG, e do Centro de Estudos Geográficos, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, ambos da Universidade de Lisboa; do Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, e do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE, do Instituto Universitário de Lisboa.

“Queremos apanhar um retrato da emigração portuguesa tão fiel quanto possível sobre as saídas após a viragem do século”, disse o coordenador, que afirmou que o expectável é que “a maior parte sejam muito recentes”, sendo certo que “as saídas nunca pararam e, agora, aumentaram”.

Os dados estatísticos “mostram ainda que os não licenciados continuam a ser os que mais saem do país”, afirmou.

Além da emigração dos portugueses, o estudo pretende também perceber “em que medida estas pessoas mantêm relações com Portugal, seja na perspetiva de regresso, de férias, de investir em Portugal ou fazer negócios”, referiu.

O projeto está a basear-se nos dados estatísticos disponíveis, nomeadamente o censos de 2011, e num inquérito online, que está disponível na página da internet do projeto (www.remigr.pt), e que pode ser preenchido por qualquer pessoa.

Em cerca de dois meses, o inquérito já reuniu cerca de três mil respostas, mas continuará disponível até ao outono, disse João Peixoto, que conta ter os primeiros resultados provisórios do trabalho no final deste ano.

Por fim, o trabalho passa ainda pelo seguimento mais detalhado da realidade em quatro países – Reino Unido, França, Brasil e Angola -, onde os investigadores vão contactar as embaixadas, consulados, associações de emigrantes e pontos de encontro.

“Os portugueses estão de facto em quase todos os países. A diáspora portuguesa continua a ser gigantesca, continuamos a ir para tudo quanto é lado”, disse. O trabalho deverá estar concluído em meados de 2015.