Um metro no comprimento. Dois e meio na largura. Benditas obras de remodelação. Não, nada de conversas mobiliárias: o relvado da Mata Real é que aumentara. Não muito, mas o suficiente para mais espaço haver para a bola rolar. Logo aqui, uma diferença. Num dos bancos, estava outra. Ou o outro. Era Paulo Fonseca, o ‘ex’, o treinador que, no Dragão, na época passada, durara sete meses e 35 jogos. Esta temporada, voltou a casa. Regressou ao Paços.

Mas apareceu diferente. Mesmo com a barba do costume, milimetricamente aparada, o técnico exibiu o cabelo rapado. Um ar mais duro, mais sério, mais decidido. Três traços do que a sua equipa mostrou na primeira parte. Afinal, já sabia ao que ia: pela frente teria um FC Porto a mergulhar-se cada vez mais num vício, o da bola, de a ter a toda a hora para o adversário nem lhe tocar.

E teve-a. Mas lá está: o Paços não deixou que lhe desse bom uso. Aos dois minutos, no arranque, um contra-ataque ainda deu um remate a Minhoca que Fabiano defendeu. De resto, contudo, o Paços não se aventurou no ataque. A prioridade era outra — manter os dragões no hall de entrada da sua casa e cerrar a entrada para a sala de estar.

Fê-lo bem. Este Porto, de costela espanhola e embriagado na sede de ter a bola o máximo de tempo possível, até cumpria a missão. Aos 20’, já ia nos 72% de posse e, aos 45’, dizia olá ao intervalo com 70%. É muito, sim, mas era raro o Paços de Ferreira deixá-lo espreitar o resto da casa. Rúben Neves e Evandro mexiam-se, corriam, batiam à porta e ninguém abria. Pelo centro do campo, os pacences não deixavam que os dragões ligassem dois passes. Tello, à direita, lesionou-se aos 15’ (entrou Juan Quintero, não se esqueçam dele).

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Adrian, na esquerda, rematou aos 18’, dentro da área, mas bola bateu num adversário. Aos 36’, com o peito, acalmou a bola para Rúben rematar, mas de novo surgia um pacense no caminho. De eficaz apenas se via Casemiro, o brasileiro que, com dezenas de passes longos, de um lado para o outro, tentava forjar uma chave que abrisse o cadeado amarelo. Não foi ele a abri-lo, mas deu a pista — o truque estava assaltar a casa pelo ar.

Juan Quintero concordou. Após a defesa do Paços cortar a bola vinda de um canto, Alex Sandro devolveu-a ao colombiano. Dominou-a com o pé esquerdo, levantou a cabeça, viu Jackson Martínez, bateu a bola e ela acabou no pé esquerdo do avançado. Ou melhor, na baliza. Dois pontapés colombianos arrombavam a porta. Era o 1-0, aos 37’, e o FC Porto arrombava a porta da sala do Paços. Aos 44’, Sérgio Oliveira deu um berro, num livre, mas bomba que disparou foi defendida por Fabiano.

Quando a segunda parte chegou, os dragões já cheios estavam de vontade em verem o resto da casa. E o Paços com um dilema: ou se barricava na sala e impedia que o adversário explorasse as restantes divisões, ou, estando a perder, arriscava em desafiá-lo cara-a-cara. Aos 54’, uma Minhoca rompeu pelo soalho e mostrou que a opção do Paços era o risco.

O extremo (sim, Minhoca é o seu nome) pegou na bola à esquerda, saltou por cima de Maicon quando o brasileiro se atirou a ele com uma rasteira, ainda iludiu Casemiro para, depois, cruzar a bola que Cícero cabeceou por cima da baliza. Aos 59’, era Minhoca a bater o canto curto, daqueles matreiros, inventados para surpreender, que Hélder Sousa, o destinatário da bola, rematou por cima, já dentro da área. O duplo foganho do Paços, contudo, não os libertou. Os homens de amarelo davam uns passos em frente, levantavam-se dos sofás, iam pressionar os jogadores do Porto. Arriscavam. Mas sofreram com isso.

Os dragões iam tendo assim mais espaço. Mais tempo para pensar o que faz a tanta companhia da bola. E o que fizeram foi rematar. Hector Herrera tentou-o, por duas vezes. Jackson, também. O mais perigoso foi de Quintero, já aos 89’. Pelo meio, e já com Óliver Torres em campo, o Porto fartou-se de cerimónios e estatelou-se na sala do Paços. Dali partiu para os quartos e espalhou-se por todo o lado. Ou seja — passou a conseguir circular a bola, quase à vontade, um pouco por todo o lado.

O serão terminou sem mais golos. Era altura para despedidas. E lições. Para o Paços, e após perder (2-0) na Luz, frente ao Benfica, na primeira jornada, auguram-se boas coisas. Voltou a ser derrotada, sim, mas de novo chateou um grande e obrigou-o a suar. Sérgio Oliveira, pré-convocado por Paulo Bento para o encontro frente à Albânia, ganhou o ritmo que sempre lhe fatara até agora, e Minhoca, à esquerda, tem pés e ideias para desmontar os adversários que o enfrentem.

Já o FC Porto, voltou a ganhar. E fê-lo sem Danilo e Ricardo Quaresma, dois supostos titulares, e com uma equipa remendada por ordem de Julen Lopetegui — Ricardo esteve a defesa direito, Evandro jogou de início e Adrian também. A máquina vai-se afinando e esta sábado teve a paciência para pensar na melhor forma de abrir as portas de um rival que teimava em mantê-las bem fechadas.