Além de seleccionador nacional, Paulo Bento vai coordenar um gabinete coordenador técnico nacional, para “estar mais perto da formação” da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). A decisão foi esta terça-feira anunciada por Fernando Gomes, presidente da entidade, dois meses após Portugal vencer (2-1) o Gana, no último encontro que realizou no Mundial 2014. O líder da federação revelou também que José Carlos Noronha, cirurgião ortopedista — em janeiro operou o joelho de Radamel Falcao, avançado colombiano –, como o diretor da nova unidade de saúde e performance da federação.

As decisões surgiram após “um processo de audições internas e externas” à prestação de Portugal no Mundial de 2014. Em suma, a federação decidiu intervir em três áreas: a técnica, a clínica e a regulamentar.

As duas primeiras terão novos organismos a funcionar a partir de setembro, de acordo com o anunciado por Fernando Gomes, em conferência de imprensa realizada em Lisboa, na sede da FPF. “Pelo perfil e pelas competências, decidimos que o seleccionador nacional deveria estar mais próximo do trabalho de formação”, referiu o presidente da entidade, antes de indicar Paulo Bento como coordenador do novo gabinete técnico para a seleções nacionais.

Neste gabinete, aliás, ficarão também Rui Jorge, atual treinador da seleção sub-21, e Ilídio Vale, responsável pelo escalão de sub-20 — com o qual, em 2011, perdeu na final do Mundial da categoria, contra o Brasil. “Por estes treinadores passará todo o processo de decisão em matéria de treino e interação das seleções nacionais”, argumentou o líder da federação.

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E “ao fim de 14 anos sem qualquer alteração na área”, recordou Fernando Gomes, o dirigente anunciou a criação da unidade de saúde e performance. O novo departamento, que será liderado por José Carlos Noronha, cirurgião ortopedista que, até agora, se encontrava no Hospital da Ordem da Trindade — o médico é especialista em intervenções a problemas nos ligamentos do joelho, e Pepe, Falcao, Derlei, Bebé, César Peixoto ou Anderson são exemplos de jogadores que o cirurgião já tratou.

O adeus (?) de Henrique Jones e o reforço na aposta dos jovens

O objetivo, prosseguiu Fernando Gomes, é assegurar que, a partir de 2 de setembro, um “diretor esteja presente em todos os estádios e jogos, pelo menos da seleção A”. O presidente da FPF defendeu que “era preciso dar um salto em frente, e estruturado”, esperando que o novo organismo seja “uma unidade de referencia internacional, que sirva as seleções e a recuperação de atletas”. A unidade contará também com Paulo Beckert, que vai exercer funções de médico coordenador, e João Brito, que ficará responsável pela “área da fisiologia”.

Mesmo sem o referir diretamente, esta decisão implicará a saída de Henrique Jones da FPF, após 16 anos de ligação à entidade. Em 1998, recorde-se, o médico foi apontado pela federação como médicos das seleções jovens e, dois anos volvidos, foi nomeado responsável pela área de Ortopedia da seleção nacional A — portanto, esteve presente em sete fases finais (nos Mundiais de 2002, 2006, 2010 e 2014, e nos Europeus de 2004, 2008 e 2012).

Por último, a nível regulamentar, a Federação Portuguesa de Futebol confirmou que, no próximo Fórum do Desenvolvimento do Futebol — agendado para 20 e 21 de setembro –, vai propor “um aumento dos atletas formados localmente no campeonato nacional de seniores [terceira divisão do futebol português]” e no escalão de juniores. “Vamos manter uma linha de defesa de proteção de jovens atletas nacionais”, assegurou Fernando Gomes.

A seleção no Mundial: “Não fomos competentes”

Antes, porém, de enumerar e explicar os novos organismos da federação, Fernando Gomes lamentou que a seleção nacional não foi “capaz de cumprir o objetivo mínimo exigível” delineado para o Campeonato do Mundo. “Trabalhámos para bastante mais do que aquilo que alcançámos”, concluiu, após enaltecer que a FPF, “como o seleccionador nacional já frisou, proporcionou todas as condições para que ela fosse adequada”.

O presidente defendeu e, por várias vezes, sublinhou, que “nem a escolha do local, nem a passagem nos EUA, foram fatores determinantes para aquilo que, desportivamente”, a seleção “não [produziu]” no Brasil. O dirigente lembrou que “mais de metade das seleções” estiveram em território norte-americano, antes do Mundial, e que “a maior parte” das equipas “estagiou” na zona de São Paulo. “Não foi isso que determinou a competência que não tivemos na nossa performance desportiva”, reiterou.

O próprio Humberto Coelho, vice-presidente da FPF, que permaneceu sentado ao lado de Fernando Gomes durante a conferência de imprensa, frisou que, “por alguma razão, mais de metade das seleções optaram por ficar na região de São Paulo”. O dirigente até referiu que “a Alemanha ia de barco para o seu local de estágio e não foi por isso que venceu o Mundial”. Humberto Coelho, contudo, foi sucinto no resumo que fez à prestação portuguesa no Brasil: “Não fomos competentes.”

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