O Brasil e a Indonésia vão assinar, nas próximas semanas, dois acordos de cooperação nas áreas de defesa e proteção das florestas, disse à Lusa o embaixador brasileiro na Indonésia, Paulo Alberto Soares. O acordo na área da defesa, que será assinado a 29 de setembro em Brasília no Brasil, envolve defesa marítima, aeronáutica, treino e transferência de tecnologia, adiantou, frisando que será uma oportunidade de negócio numa altura em que os equipamentos de defesa já representam a maior fatia das exportações brasileiras para a Indonésia. Além dos aviões de treino militar da Embraer e dos “rockets” da Avibras, o Brasil poderá exportar “navios para patrulhar as 17 mil ilhas da Indonésia”, destacou o embaixador.

O acordo será assinado 21 dias antes da tomada de posse do novo Presidente indonésio, Joko Widodo, que tem defendido uma maior aposta no uso do mar e no transporte marítimo. Entre 13 e 17 de outubro, também em Brasília, o Ministério do Meio Ambiente assinará um acordo para proteger e monitorizar as florestas indonésias, no âmbito do REDD+, um mecanismo lançado pelas Nações Unidas para reduzir as emissões dos gases com efeito de estufa provenientes da desflorestação e da degradação florestal. Um estudo de investigadores da Universidade de Maryland divulgado recentemente mostrou que, de 2000 a 2012, a Indonésia perdeu uma área florestal do tamanho da Irlanda, superando pela primeira vez o Brasil na taxa de desflorestação.

“Este acordo tem uma relevância política e estratégica importante, porque são as duas maiores florestas do mundo e o Brasil conseguiu uma tecnologia muito avançada de satélite para monitorar as florestas onde há desmatamento”, frisou Paulo Alberto Soares. O diplomata acrescentou que o programa visa também “tornar as florestas produtivas sem destruir”, ou seja, replantar imediatamente após recolher a madeira e não interferir nas “áreas que são de preservação dos indígenas”. “Interessante, mais até do que o lado financeiro, é a transferência tecnológica entre dois países emergentes, fora do contexto dos tradicionais países capitalistas do século XX – da Europa e os Estados Unidos”, sublinhou.

O embaixador brasileiro na Indonésia adiantou também que entre novembro e dezembro os dois países têm previsto assinar um acordo de cooperação técnica, que envolva transferência de conhecimentos, por exemplo, em ambiente e energias renováveis, e outro nas áreas de ciência e tecnologia. No campo da educação, desde 2012 que os dois países cooperam através da Fundação da Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN) e da Fundação Getulio Vargas. O embaixador tem esperança de que o próximo Governo indonésio acabe com o bloqueio à carne bovina brasileira que vigora desde 2009, até porque o Brasil exporta para 130 países e oferece preços mais baratos do que os que se praticam no mercado indonésio.

Se o diálogo falhar, o maior exportador de carne bovina do mundo irá questionar formalmente a Indonésia na Organização Mundial do Comércio, defendendo que as regiões exportadoras, livres da febre aftosa com vacinação, estão isoladas dos estados cujo estatuto ainda não foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal. Quanto à carne de frango, o Brasil vai mesmo apresentar um julgamento formal das restrições às importações, o que é “muito desgastante”, confessou o embaixador, salientando que o país pode também “transferir tecnologia para melhorar a qualidade do frango indonésio”, que é mais magro e com menos proteínas do que o brasileiro.

A Indonésia é o principal parceiro comercial do Brasil no sudeste Asiático, sendo que em 2014 as trocas comerciais entre os dois países deverão rondar os quatro mil milhões de dólares (3,09 mil milhões de euros), segundo o diplomata. O Brasil vende sobretudo aviões, mas também soja, milho e algodão, enquanto o destaque das exportações indonésias para o Brasil vai para o óleo de palma, pneus e tecidos.

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