A sociedade gestora de fundos do Novo Banco está a sangrar: o património gerido em fundos de investimento mobiliário caiu 64,6% nos 12 meses que terminaram em agosto. Há 1 ano, a ESAF – Espírito Santo Fundos de Investimento Mobiliário era líder na indústria de fundos com uma quota de 27,1%. Em agosto passado, tinha caído para a quinta posição com 10,7%, mostram as estatísticas da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a entidade supervisora dos mercados de capitais.

O grosso dos 2,5 mil milhões de euros que saíram dos fundos da ESAF abandonaram a gestora no último trimestre de 2013, explica Paulo Tomé, do departamento de comunicação do Novo Banco. Em novembro desse ano, entraram em vigor novas regras de gestão de fundos que limitam a exposição dos fundos a instrumentos financeiros de entidades ligadas ao grupo da sociedade gestora. Paulo Tomé explica que os subscritores dos fundos que tinham elevada exposição ao Grupo Espírito Santo resgataram as suas aplicações, mas que “grande parte do valor global ficou noutras aplicações no banco”.

O dinheiro é dos investidores

Os problemas do Banco Espírito Santo e a resolução do Banco de Portugal que criou o Novo Banco no início de agosto criaram uma nova de onda de resgates (um pouco mais de mil milhões de euros em julho e agosto), mas não há razões para isto. “O património de cada fundo de investimento é património dos investidores nesse fundo específico e não do banco depositário, estando segregado dos restantes ativos que a instituição possa deter”, esclarece Rui Castro Pacheco, diretor da gestão de ativos do Banco Best.

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No seu recém-lançado serviço de seleção de fundos, o Best destaca o Espírito Santo Liquidez, gerido pela ESAF. Este produto chegou a ser o maior fundo português de sempre (tinha 2,2 mil milhões de euros em agosto de 2013, a maioria aplicada no Grupo Espírito Santo), mas, desde então, perdeu 84,7% do seu património. No seu auge, um em cada seis euros investidos em fundos portugueses estava neste produto, apesar de existirem 253 fundos mobiliários registados na CMVM.

No seu portal, a ESAF esclarece que o banco depositário, a entidade que guarda o património dos subscritores dos seus fundos, já não é o Banco Espírito Santo mas o Novo Banco. Jorge Duarte, economista da Proteste Investe, ligada à Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, conta que a transferência para o Novo Banco não alterou a avaliação que a publicação financeira faz dos fundos da ESAF. “Contudo, a nossa avaliação é permanente e as recomendações atuais poderão vir a ser alteradas sempre que a qualidade de gestão se torne menos boa”, avisa o analista.

Dois bons fundos da ESAF

O Observador consultou três especialistas independentes no mercado de fundos – Citywire, Morningstar e Proteste Investe – para encontrar os melhores fundos da ESAF. Descobrimos dois fundos que reúnem consenso das três casas. O Novo Banco não tem o exclusivo na distribuição destes produtos: são seis as entidades comercializadoras, incluindo o ActivoBank, o Banco Best e o Banco Invest.

Espírito Santo Obrigações Europa

Tipo fundo de obrigações europeias de taxa fixa
Rentabilidade de 1 ano 19,1%
Rentabilidade anualizada de 3 anos 16,7%
Rentabilidade anualizada de 5 anos 12,2%
Nível de risco a 3 anos 5 em 7
Comissões de gestão e de depósito 1,425%
Comercialização ActivoBank, Banco Best, Banco Invest, Banque Privée Espírito Santo, Novo Banco, ESAF

Este fundo de obrigações europeias foi o melhor entre a concorrência nos últimos 10 anos, calculam os analistas da Citywire. Ganhou 120,7%, enquanto o segundo melhor avançou 67,7%. Vasco Teles, o gestor responsável pelo produto, diz que se diferenciou pelas suas apostas em dívida pública portuguesa e grega. “Quando entrámos no último trimestre de 2012, tínhamos perto de 40% do fundo em PGB [Obrigações do Tesouro português] e GGB [gregas], mais cerca de 20% noutros periféricos, como dívida italiana”, revelou ao Citywire. No final de agosto passado, a dívida helénica ainda era uma das maiores apostas: absorvia 24,7% da carteira, só ultrapassada pela dívida pública italiana (29,8%) e francesa (27,7%).

Espírito Santo PPR

Tipo plano de poupança-reforma
Rentabilidade de 1 ano 20,2%
Rentabilidade anualizada de 3 anos 15,8%
Rentabilidade anualizada de 5 anos 9,5%
Nível de risco a 3 anos 5 em 7
Comissões de gestão e de depósito 1,175%
Comercialização ActivoBank, Banco Best, Banco Invest, Banque Privée Espírito Santo, Novo Banco, ESAF

A Morningstar atribui cinco estrelas, a sua classificação máxima, a este plano de reforma nos prazos de três, cinco e dez anos. A Proteste Investe inclui o Espírito Santo PPR entre os quatro melhores fundos de poupança-reforma.
David Dias, o gestor responsável pelo produto, investe até 25% da carteira no mercado acionista, reservando o remanescente para aplicar maioritariamente em obrigações. Tal como no Espírito Santo Obrigações Europa, a dívida pública italiana, francesa e grega eram as suas preferidas no final de agosto. As suas ações favoritas eram as da Galp Energia.