O Museu Picasso, em Paris, reabre ao público este sábado, a propósito do aniversário do nascimento do pintor. A abertura acontece cinco anos após o encerramento da respetiva instituição cultural com o objetivo de expor “uma nova visão de Picasso”, tal como disse à Lusa a conservadora Laure Collignon.

“O objetivo não é expor apenas as maiores obras de arte e esperar pelos turistas. Queremos associar os dois aspetos: receber os turistas e mostrar as obras-primas, mas também apresentar uma visão nova sobre Picasso, ao valorizarmos atividades menos conhecidas, como as ilustrações de livros, por exemplo. O objetivo não é sermos um templo de turistas”, resumiu Laure Collignon, uma das conservadoras do museu.

Cinco anos depois de ter fechado portas, e três anos de obras de renovação e restauro, o resultado — assinado pelo arquiteto francês Jean-François Bodin — é o reaproveitamento de todos os espaços da mansão seiscentista e a ampliação da superfície de exposição de 1600 metros quadrados para mais do dobro, com os novos 3800 metros quadrados.

Serão exibidas 378 obras de forma cronológica e temática, ao longo de três percursos de visita, que incluem espaços antes vedados ao público, como as caves abobadadas e o sótão, com um teto em madeira do século XVII. No espólio do museu consta a coleção pessoal do pintor, sendo as suas próprias telas confrontadas com as obras que ele foi adquirindo. Picasso guardou não só quadros de Matisse, Gauguin, Cézanne ou Renoir, mas também testemunhos das suas influências e inspiração: a explosão de cores, o primitivismo do desenho e a geometrização dos volumes ou o classicismo das figuras colossais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Outra novidade é o acesso às caves que evocam os “ateliers” do artista, graças às gravuras, fotografias, pinturas, esculturas monumentais e peças de cerâmica, uma variedade de obras que fazem com que Picasso “continue a ser uma referência para o século XX e XXI, em termos de leque de talentos que abraçou”, disse a conservadora do museu, na visita guiada à coleção.

No rés-do-chão, no primeiro e no segundo andares, concentram-se muitas das obras que colocaram Picasso na vanguarda das artes plásticas e que traçam os seus múltiplos percursos criativos, de 1895 a 1972, da infância até perto da morte, ocorrida em Mougins, em 1973.

A exposição começa com as pinturas monocromáticas dos períodos azul e rosa, passa pelos esboços de “Les Demoiselles d’Avignon”, rumo ao cubismo, e pela primeira colagem cubista -“Nature Morte à la Chaise Cannée”. Há, ainda, “La Course”, a marcar o regresso às formas neoclássicas, “Femme au fauteuil rouge”, a piscar os olhos ao surrealismo, “Massacre en Corée”, a evocar os desastres de guerra de Goya, e muitos outros diálogos com os mestres como “Le dejeuner sur l’herbe d’après Manet”.

Pelo caminho estão, também, as esculturas em ferro, gesso, madeira e bronze, chapas recortadas e pintadas e, ainda, a icónica “Tête de Taureau”, uma assemblagem de um selim e de um guiador.

Com tantas obras, o desafio foi devolvê-las, sãs e salvas, ao museu, confessou Laure Collignon. “Durante cinco anos as obras estiveram guardadas na região de Paris e foi bastante complicado organizar a transferência. Não foi fácil trazer as obras em camiões escoltados até ao centro de Paris e até este bairro tão apertado”, descreveu à Lusa.

A conservadora responsável pelos arquivos, biblioteca e documentação do museu acrescentou que há, ainda, muitas surpresas no imenso arquivo de 4755 obras, entre as 4090 gravuras, 297 pinturas e 368 esculturas que compõem o acervo, ou seja, “a maior coleção pública mundial da obra de Picasso”.