Esta quarta-feira, pelas nove horas, foi dado início à primeira “acometagem” da história da humanidade, confirmou esta manhã a Agência Espacial Europeia (ESA). Embora “acometer” possa ser interpretado como uma investida contra algo, neste caso espera-se que seja mais pacífico. O módulo Philae, que viajava a bordo da sonda Rosetta, vai finalmente pousar no cometa que a nave persegue há 10 anos.

A sonda Rosetta foi lançada a 2 de março de 2004, começando a descrever um órbita em volta do Sol, até que, a 8 de junho de 2011, depois de passar a cintura de asteróides, “entrou em hibernação” até janeiro deste ano. Desde aí tem perseguido o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko que conseguiu alcançar a 6 de agosto. Pela primeira vez uma nave espacial orbitava um cometa. Agora, o módulo Philae prepara-se para “aterrar” nele.

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A missão Rosetta ao longo do tempo – ESA

A sonda Rosetta vai posicionar-se a cerca de 20 quilómetros do cometa, que mede três quilómetros de largura por cinco de comprimento. O módulo Philae foi libertado às 9h03 (hora de Lisboa) e a descida até ao cometa pode ser acompanhada em direto a partir da página da ESA. A primeira imagem enviada pelo módulo, logo após se ter libertado da sonda, já foi divulgada.

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Entre os locais candidatos para a aterragem escolheu-se a região “J” na cabeça do cometa, porque oferecia, segundo a ESA, “um potencial científico único, com indícios de atividade por perto e um risco mínimo para o módulo de aterragem comparado com outros locais candidatos”. Apesar da escolha meticulosa, a manobra do módulo Philae terá de ser muito cautelosa, lembra o Science News. Qualquer erro de cálculo ou mau posicionamento poderá ser o suficiente para que o módulo de aterragem não consiga pousar convenientemente ou que “tropece” em alguma rocha à superfície. “Infelizmente a superfície não podia ser menos convidativa, com rochas afiadas capazes de destruir o módulo de aterragem e fragmentos de gelo por toda a superfície tornando a aterragem plena de perigo”, disse em comunicado Alan Duffy, astrónomo na Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália.

A equipa de controlo na Terra terá de esperar sete longas horas para saber se a missão foi bem-sucedida, porque o módulo Philae só iniciará as comunicações quando estiver na superfície do cometa. A partir desse momento o módulo poderá começar a recolher imagens e amostras científicas.”Quando estiver bem ancorado numa gravidade extremamente fraca, [a missão] Rosetta vai começar a escavar a superfície para revelar a complexidade química da superfície do planeta”, disse em comunicado Geraint F. Lewis, professor no Instituto de Astronomia da Universidade de Sidney, na Austrália. “Esperamos encontrar muita água congelada, mas também um caldo de compostos químicos que devem ter caído sobre a jovem Terra. Estes químicos, especialmente a água, podem ter-se mostrado vitais para o aparecimento de vida neste planeta.”

Simulação da aterragem do módulo Philae no cometa 67P

Quando ainda estava a 580 milhões de o gelo à superfície do cometa já tinha começado a derreter – 300 mililitros de água por segundo (18 litros a cada minuto). “A este ritmo, o cometa poderia encher uma piscina olímpica em cerca de 100 dias. Mas à medida que fica mais perto do sol, a taxa de produção de gás irá aumentar significativamente”, ilustrou, na altura, num comunicado de imprensa Samuel Gulkis, investigador principal no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (agência espacial norte-americana), na Califórnia (Estados Unidos). Entre os compostos químicos que a sonda conseguiu recolher e analisar encontra-se sulfureto de hidrogénio – o composto que dá o cheiro a ovos podres.

Além de cheiro, o cometa também “canta”. O aparelho criado para analisar o campo magnético do cometa captou alguns sons misteriosos, revela o DailyMail. Embora os sons possam ter sido criados por uma série de partículas carregadas, o processo físico que desencadeou esta “música” ainda não foi explicada pelos cientistas. Como o cometa “emite sons” de muito baixa frequência – apenas 40-50 milihertz – os cientistas amplificaram o som para ficar dentro do limite de deteção pelo ouvido humano – entre 20 hertz e 20 kilohertz.

Imaginar uma nave a percorrer cerca de 4 mil milhões de milhas (6.437.376.000 quilómetros) em perseguição de um cometa, que demora seis ano e meio a completar a órbita à volta do Sol, não é fácil. Por isso a equipa de João Martinho Moura na TECField, uma empresa de tecnologia e multimédia sediada em Braga, preparou uma “visualização, que representa e simula toda a missão da sonda” e que pode ser encontrada na página da ESA.