Na vila de Bambadinca, na Guiné-Bissau, vai ser possível a ligar aparelhos à corrente graças a uma companhia de eletricidade criada pela população com o apoio da Cooperação Portuguesa e da União Europeia. Num país habituado a viver às escuras, os habitantes daquela vila juntaram-se e criaram uma associação que a partir desta semana vai produzir e distribuir energia (por enquanto, em fase de teste), explicou à agência Lusa, David Afonso, um dos responsáveis pelo projeto.

Para já, vão ser abastecidos 100 clientes piloto, mas o objetivo é que até final de 2015 a iniciativa comunitária intitulada “Bambadinca Sta Claro (está iluminada)” consiga produzir energia e cobrar as contas a 6500 habitantes, tornando-se autossustentável. Os promotores preveem grandes mudanças no dia-a-dia: a população vai poder usar eletrodomésticos, como rádios, televisões, ventoinhas ou frigoríficos, que até agora só estavam ao alcance de quem pudesse pagar geradores e gasóleo para os alimentar.

O primeiro impacto nota-se na paisagem: chegou com a instalação de uma central fotovoltaica híbrida de 312 kilowatt (kw) de potência. São 1248 painéis fotovoltaicos voltados para o céu, um rasgo tecnológico na paisagem rural de Bambadinca.

A central conta ainda com 216 baterias e três geradores “diesel” para garantir fontes de abastecimento alternativo e distribuição de energia em permanência. “O Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB) é uma solução técnica e de gestão inovadora, em que uma associação de base comunitária é autorizada pelo Estado para a produção, transporte e venda de energia elétrica à população, num modelo de parceria público-comunitária”, refere David Afonso.

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O projeto é promovido pela TESE- Associação para o Desenvolvimento pela Tecnologia, Engenharia, Saúde e Educação, sendo financiado pela União Europeia (UE) e pela Cooperação Portuguesa (através do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua) com um custo total de cerca de 2,1 milhões de euros. São parceiros dos trabalhos o Estado da Guiné-Bissau, a organização não-governamental guineense Divutec e a Universidade de Lisboa.

Os testes “irão decorrer em regime intensivo até final do ano e incluem o arranque da central fotovoltaica híbrida, a ligação à rede elétrica de média e baixa tensão e a assistência técnica à ACDB para a implementação dos procedimentos de gestão, operação e manutenção desenvolvidos durante os últimos meses”, acrescentou David Afonso.

Vai ser beneficiada “toda a população de Bambadinca, nomeadamente os agregados familiares mais carenciados que usam petróleo, pilhas ou geradores para iluminação”. “Também as instituições e comerciantes passam a ver assegurado um serviço de energia moderno e fiável, que funcionará 365 dias por ano”, realçou, destacando o potencial da iniciativa o desenvolvimento de novos projetos.

A TESE é uma organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD), de direito português, criada em 2002, que utiliza o conceito de inovação social como âncora da sua atuação em Portugal e em países em desenvolvimento.