Um banco russo está a financiar o partido político francês Frente Nacional. Marine Le Pen confirmou esta semana que recebeu um empréstimo no valor de 9 milhões de euros, adquiridos no final de setembro, de um banco sediado em Moscovo. A notícia da quantia, que o partido garante aplicar em futuras campanhas eleitorais, colocou na ordem do dia uma tema que, diz a Time, está a gerar preocupação entre alguns europeus. O Le Monde coloca mesmo a questão: “O empréstimo tem um significado político?”.

Para Le Pen, citada pelo Le Monde, trata-se de uma questão “ridícula”, cujas insinuações são “ultrajantes e ofensivas”. Diz ainda que o facto de contrair um empréstimo não determina uma posição internacional e refere que a Frente Nacional defende “há muito tempo” uma linha pró-russa. “Com as eleições para os departamentos dentro de quatro meses, e as regionais no fim de 2015, precisamos de 30 milhões de euros. Temos urgência! Só temos cinco milhões de euros de subvenções por ano e já não temos mais bens imóveis para vender. Somos obrigados a pedir empréstimos, a bancos franceses ou estrangeiros”.

O tesoureiro do partido contou, inclusive, que vários bancos franceses e europeus foram contactados, no sentido de emprestar dinheiro, os quais responderam “sempre” de forma “totalmente negativa”. Wallerand de Saint-Just explicou ainda que não havia outra solução e que as instituições bancárias do seu país estão a recusar dar empréstimos a partidos políticos franceses. “É uma operação perfeitamente normal”, acrescentou, referindo-se ao dinheiro de origem russa.

Segundo a Time, que contactou um assessor de Le Pen, o empréstimo russo era urgente, uma vez que o partido estava próximo da falência depois de investir nas bem-sucedidas eleições europeias. “Tem sido uma verdadeira luta”, disse Ludovic de Danne, que contou que a Frente Nacional passou meses a pedir empréstimos e a angariar fundos. “Os bancos não quiseram emprestar-nos [dinheiro]”, disse, acrescentando que entre esses incluem grandes instituições norte-americanas.

O empréstimo, com uma taxa de juro a 6%, foi dado pelo banco First Czech-Russian Bank, fundando na República Checa em 1966. O site noticioso Mediapart, o qual avançou a notícia, explica ainda que o acordo adveio, em parte, de uma visita que Le Pen fez a Moscovo no passado mês de fevereiro, onde se encontrou com um legislador russo com ligações a Putin — Alexander Babakov detém negócios em território ucraniano, pelo que foi sujeito às sanções atribuídas pela União Europeia, tendo em conta a situação vivida em torno da Crimeia.

O partido nacionalista de Le Pen tem feito uma escalada pautada por sucessos — no final do mês de setembro conseguiu, pela primeira vez, entrar no Senado francês, nas eleições parciais para a câmara alta. O feito foi considerado uma “vitoria histórica” pela própria líder partidária. Este é também o partido que defende a desagregação da União Europeia — em junho Le Pen dizia numa entrevista à revista alemã Der Spiegel “O que eu quero é destruir a UE [União Europeia], não é a Europa. Acredito numa Europa de nações”.

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