A história de Rudolf Vrba é feita de fugas. Em 1941, com 17 anos, fugiu de casa, na Checoslováquia, para se juntar ao exército checoslovaco que se formara no Reino Unido. Rudolf Vrba desfez-se da estrela de David amarela que os nazis impuseram como símbolo identificador dos judeus, excluídos e considerados infra-humanos, e entrou na Hungria. Foi preso, fugiu e voltou a ser preso. O destino foi o campo de concentração de Maidanek, paragem intermédia antes da suposta paragem final. A 30 de junho de 1942 entrou em Auschwitz. Mais uma vez, conseguiu fugir. O relato que fez dos dois anos que passou no campo de extermínio mais brutal do regime nazi abriu, pela primeira vez, os olhos do mundo para o horror que manchava o leste da Europa. A história é lembrada pelo Telegraph, a propósito da comemoração dos 70 anos do final da II Guerra Mundial.

Rudolf Vrba registou na memória tudo o que viu. A chegada dos prisioneiros, a seleção, a organização destes em filas. Aqueles a quem era indicado o lado direito tinham sido considerados aptos para os trabalhos forçados. Continuariam vivos. O lado esquerdo indicava o caminho das câmaras de gás. Ao jovem judeu foi prometido um trabalho agrícola, o que na prática significou ficar responsável por desenterrar as pilhas de corpos que deveriam ser incinerados. Quando Vrba fugiu, dirigiu-se ao Conselho Judaico de Zilina, na Eslováquia, que não quis acreditar no seu relato. Nem nos seus cálculos da matança.

“[As câmaras de gás] levam cerca de 2000 pessoas. Quando todos estão lá dentro, as portas pesadas são fechadas. Há uma pequena pausa – penso que para permitir que a temperatura da sala suba até um certo nível – e depois, os homens da SS sobem ao telhado, usando máscaras de gás. Soltam um preparado em forma de pó que se transforma em gás. Três minutos depois, todos estão mortos. A câmara é aberta, arejada e depois disso entra um ‘esquadrão especial’ que tem a missão de carregar os corpos até aos fornos crematórios, onde acontece a incineração”.

A acompanhar as descrições, Vrba fez desenhos, esquemas e mapas que mostravam a organização dos campos de Auschwitz-Birkenau, bem como a disposição das câmaras de gás e dos fornos crematórios. Ficou tudo reunido num relatório. Mas as dúvidas continuaram e os relatos só foram aceites e considerados verdadeiros semanas depois. Enquanto isso, a Alemanha invadiu a Hungria, que pôs em marcha a deportação de judeus. Vrba chegou a dizer que esta demora resultou na morte de cerca de 50 mil judeus húngaros. Depois de os meios de comunicação internacionais revelarem o relatório, a Hungria cessou as deportações, em julho de 1944.

Rudolf Vrba, que acabou por estudar Química e Biologia e se mudou para o Reino Unido, onde fez trabalho académico e de investigação sobre doenças como a diabetes e o cancro, morreu em 2006.

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