Jardel está na moda. Tem nome de goleador, evitou uma derrota em Alvalade e mostrou o caminho para os três pontos esta tarde na Luz (3-0). Jardel sempre foi o patinho feio, mas está na moda. Afinal, os benfiquistas ficaram mal habituados com a companhia de Luisão: David Luiz e Garay eram craques.

Jardel não é nada lento (embalado até é um caso sério), tem maturidade (28 anos) e é fortíssimo no jogo aéreo. Os 192 centímetros ajudam. O que normalmente assustava era o (falso) excesso de confiança com a bola no pé, que parece estar corrigido. Já não inventa nem entra em aventuras malucas. Este brasileiro, nascido em Florianópolis, nunca tinha feito 14 jogos seguidos como titular no Benfica. À exceção do que fez no Estoril Praia (2520′), nunca tinha jogado tantos minutos num campeonato em Portugal como agora (1620′). Ah, e nunca tinha marcado golos na Primeira Liga: já leva três.

Benfica: Artur, Maxi, Luisão, Jardel, Eliseu, Samaris, Pizzi, Salvio, Ola John, Jonas, Lima.

Vitória de Setúbal: R. Batista, Pedro Queirós, M. Lourenço, François, Kiko, Ney Santos, João Schmidt, André Horta, Miguel Pedro, Pelkas, Rambé.

Nesta história da pressão, digam o que disseram treinadores e jogadores, quando o rival fica perto as coisas mudam — FCP estava apenas a um ponto quando Benfica entrou em campo. A ansiedade é uma bomba-relógio, os nervos prometem atacar os pés e a idade do gelo tem viagem marcada para o cérebro. Isto tudo pode ser verdade, mas deixa de o ser quando se marca cedo. E foi isso que o Benfica fez, logo aos 9′, depois de um canto. Pizzi bateu, e que bem, e Jardel, qual conquistador dos céus, impôs-se e marcou o primeiro da tarde, 1-0.

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Respirava-se fundo. Agora adivinhava-se uma tarde mais tranquila. O Vitória, que até tinha entrado bem, ousado, começava a encolher-se. Mas até reagiu à cabeçada de Jardel: Rambé (com a mão), André Horta e o grego Pelkas tentaram a sorte; Artur resolveu tranquilamente. Os homens da casa depois tiveram um momento em que ensaiaram uma espécie de sufoco à baliza alheia. Pizzi estava em grande nível, soltinho, cheio de confiança. O médio fez movimentos e passes que fizeram lembrar Enzo Pérez. A subir de nível está também Samaris, que parece mais confortável e satisfeito naquela posição (trinco). Fez dobras, arrumou a casa, fez carrinhos, sujou os calções e mostrou-se solidário. O meio-campo promete melhorar nos próximos tempos…

O segundo golo dos lisboetas chegou a cinco minutos do intervalo. Antes, Jonas e Maxi estiveram perto de marcar, mas a bola, caprichosamente, não queria nada com as redes da baliza de Ricardo Batista. Ola John, apagado como é hábito, foi lançado na esquerda e ganhou no duelo com o lateral Pedro Queirós. Bom, ou ganhou ou fez falta, que nem é assim tão improvável, mas Queirós foi muito mole e parece ter confiado na proteção eterna que os árbitros oferecem aos defesas naquela zona. O holandês cruzou rasteiro, tenso, e Lima apareceu ao primeiro poste, 2-0.

Intervalo na Luz. O primeiro tempo foi tranquilo para os jogadores de Jorge Jesus, que souberam simplificar as coisas. Jardel, Pizzi e Samaris estiveram em bom plano. Num outro patamar, que às vezes parece já nem merecer avaliação, está Luisão. Este rapaz fez 34 anos há dias, senhores. Parece Benjamin Button, qual fenómeno que trocou as voltas ao relógio. Está sempre no sitio certo, faz quase tudo bem, os rins estão em forma e vai ao chão na dose certa.

A segunda parte teria menos intensidade. Lima, Jonas e Luisão, que tentou uma chapelada, lideraram a equipa na busca pelo 3-0. Mas esse só chegaria aos 71′. Por quem? Lima, um avançado que assinava o sexto golo aos vitorianos — marcou dois com a camisola do Sp. Braga e quatro com a camisola encarnada do Benfica. O terceiro golo da tarde nasceu de um erro infantil de Kiko, que já havia tentado ultrapassar Salvio. Não por necessidade, só porque sim. Arriscou e deu-se mal. Na primeira vez a bola escapou pela linha lateral, mas na segunda Salvio ficou com ela e cruzou para a área. Lima posicionou-se, apoiou o joelho na relva, e encostou com a cabeça, 3-0.

Gonçalo Guedes e Rúben Amorim voltaram a merecer minutos (e muitas palmas vindas da bancada). O primeiro está num processo de encantamento dos adeptos e de crescimento pessoal. Uma fase em que é importante equilibrar a qualidade e a ousadia, que é tanta (viu um cartão amarelo por alegada simulação). Amorim está noutro trabalho: ganhar andamento para a fase crucial da época. O médio poderá até render Samaris no próximo jogo, contra o Moreirense, pois o grego viu o amarelo e estará suspenso.

Jonas voltou a estar muito perto do golo, aos 75′, depois de um cruzamento de Eliseu, mas estava numa relação complicada com a baliza de Batista. Os cerca de 40 mil adeptos que estavam no Estádio da Luz, que sentiram amor à primeira vista pelo avançado brasileiro, não tiveram o prazer de festejar o golo de um dos seus meninos bonitos. Com Salvio idem, os golos não queriam nada com ele nesta tarde de fevereiro em que nem estava assim tanto frio.

Ponto final na Luz. O resultado da meia-final da Taça da Liga (3-0) repetiu-se e manteve a toada da história entre os dois emblemas: em 67 jogos em casa, os campeões nacionais só não venceram em nove ocasiões. Foi uma tarde tranquila para Jorge Jesus e companhia. Nota positiva para Salvio, que foi crescendo durante esta partida. Benfica assinou a 17.ª vitória em 21 jornadas e volta a fugir a FC Porto (quatro pontos) e Sporting (nove).