Em Espanha, o WhatsApp está a revolucionar a forma como os políticos chegam até aos seus potenciais eleitores. Um dos últimos a aderir à nova tendência foi Gutiérrez Iglesias, presidente da Câmara de Brunete, perto de Madrid. Em vésperas de eleições autárquicas, Iglesias decidiu disponibilizar o contacto telefónico a todos os cidadãos da pequena cidade espanhola para que pudessem enviar sugestões ou colocar perguntas. E a experiência, garante, tem sido positiva: “Recebi algumas mensagens com críticas. Mas é para isso que nós estamos lá – para ouvir as pessoas, independentemente do que pensam ou dizem”, revelou ao The Guardian.

A maioria dos assuntos que os habitantes de Brunete fazem chegar ao autarca – lidera a cidade de 10 mil habitantes desde 2011 – são coisas simples: quanto custa arrendar um campo de padel ou como resolver questões relacionadas com árvores e pavimentos. Ainda assim, conta, desde que lançou a iniciativa começa a trocar mensagens com os correspondentes desde as seis da manhã, numa missão que só termina, às vezes, à uma da manhã do dia seguinte. “A tua vida pessoal fica reduzida a zero. Mas isso faz parte do trabalho”, assumiu o presidente da Câmara.

Gutiérrez Iglesias não é o único político que abraçou o WhatsApp – uma aplicação para smartphones que permite aos utilizadores trocarem mensagens entre si de forma gratuita, desde estejam ligados à Internet. Em Múrcia e em Boadilla del Monte, vários candidatos têm seguido a estratégia de Iglesias. O objetivo? Aproximarem-se dos cidadãos e, de preferência, fidelizar novos eleitores.

Mas o fenómeno WhatsApp não acontece só à pequena escala. Antoni Gutiérrez-Rubí, um consultor de comunicação ouvido pelo jornal britânico, explica que vários partidos, como o PSOE ou a ERC – Esquerda Republicana da Catalunha, conseguiram capitalizar a popularidade da aplicação, ainda que de uma forma mais passiva, pedindo aos apoiantes que os adicionassem de forma a seguirem as atualizações sobre o partido.

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O passo seguinte, explicou Guitérrez-Rubi, foi dado por movimentos políticos como o Indignados ou o Podemos (que mais tarde deu origem ao partido de Pablo Iglesias), que elegeram o WhatsApp como a ferramenta para dizerem que não pertenciam ao “sistema”. “As novas realidades políticas que estão a surgir fizeram redes sociais o seu ecossistema natural”, sublinhou o consultor.

Uma realidade só possível pelo facto de o WhatsApp ter “colonizado” a sociedade espanhola: 99% dos utilizadores de smartphones em Espanha já descarregaram a aplicação, num fenómeno de popularidade sem precedentes.

Os partidos e movimentos políticos tiveram de cavalgar a onda, antes que fosse tarde demais. “Se queres pedir às pessoas para votarem em ti, se queres influenciar as pessoas, se queres ser uma referência política, tens de ser parte da conversação, que se tornou uma conversação digital”, analisou Guitérrez-Rubi.