Redondas, quadradas, brilhantes ou gastas pelo tempo. As joias remetem sempre para algo sentimental, quer tenham sido escolhidas ou herdadas, e o valor que lhes atribuímos depende muito do quanto gostamos (ou não) delas. Subjetividade à parte, todas têm um valor de mercado. E é precisamente esse o trabalho de Jessica Silli, perita em joalharia que trabalha na Sotheby’s desde 2012. A sua função é avaliar peças tendo em conta vários aspetos — como o metal utilizado, o estado de conservação das pedras e o seu corte — e pelas suas mãos já passaram dezenas de milhares de joias.

Jessica Silli esteve recentemente em Lisboa para, a mando da leiloeira internacional, avaliar os acessórios que os portugueses têm em casa. À conversa com o Observador, revelou algumas das características que tornam uma joia especial — e cara. Posto isto, perguntamos: quer saber se tem uma joia valiosa? Se sim, a perita mostra-lhe como.

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Jessica Silli / © André Correia

1. Investigue sobre o passado ou origem da joia, se foi, por exemplo, herdada da mãe ou da avó. Perceber isso é meio caminho andado para conseguir atribuir-lhe uma data, uma vez que dá-lhe uma noção do seu período — se tem 10, 20 ou 50 anos — e de quanto se gastou inicialmente. “O background das joias dá-nos uma boa ideia de onde elas vêm. Se foram compradas na década de 1990 são de um determinado estilo e, muito provavelmente, não são pedras preciosas.”

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2. Segure na joia para perceber mais facilmente qual o principal material em causa (se ouro ou prata, por exemplo). Não há nada como manusear uma peça e senti-la, até porque não se pode fiar em fotografias (além de não darem uma noção real do acessório, podem alterar a cor natural das pedras preciosas). Pode ainda pesá-la na balança da cozinha para ver se, no caso de ser ouro, este é oco ou não.

3. Procure por marcas no metal. Caso encontre o número “750” isso significa que se trata de ouro de 18 quilates, embora Jessica Silli relembre que o ouro, em si, não vale muito e que, estando cotado na bolsa, o seu valor oscila diariamente. Já a inscrição “PT950” quer dizer, por norma, que se trata de platina.

4. Há duas coisas a ter em conta no que diz respeito às pedras: se são reais e se estão bem conservadas. Dificilmente vai conseguir perceber isto em casa, mas Jessica Silli dá um exemplo: se for um colar de pérolas que uma pessoa tenha herdado da avó e que esteja na família há mais de 100 anos, o mais provável é estar perante pérolas naturais. A qualidade das pedras preciosas, essa, deve ser avaliada por um gemologista — “Depende muito de onde vêm e, às vezes, é preciso trabalhar-se com laboratórios para conseguir outras informações e fazer o prognóstico.”

5. Foque-se no fabricante. Caso a peça esteja assinada — imagine que em letras reduzidas se encontra escrito Cartier –, isso pode significar que é mais recente, do século XX ou XXI. A título de curiosidade, a idade de ouro da joalharia remonta para meados da década de 1950, numa altura em que as grandes marcas tinham muita qualidade. “Hoje continuam a fazer um ótimo trabalho, mas não é a mesma coisa”, diz Jessica.

6. É tudo uma questão de moda… e, por sorte, a moda é cíclica. Mesmo que algumas peças não estejam in, há sempre colecionadores interessados. Um exemplo? No mercado de Londres facilmente se vendem joias do século XVIII. “Acredito que daqui a uns anos vamos vender joias dos anos 1980”, acrescenta a perita.

7. No fim de contas, o melhor é mesmo o fator surpresa. “Vemos peças todos os dias e ajudamos as pessoas a perceber o tipo de valor da pedra. Perceber quanto vale no mercado atual é outra história”, assegura Jessica. “Às vezes pode ser um bom sinal quando as pessoas não têm ideia do valor. Lembro-me de um broche que uma senhora usava com frequência. Ela pensava que valia perto de 9 mil euros e recebeu mais 100 mil.”