Qual futebolista, qual quê. De pequeno, em criança, quando a idade e as preocupações eram poucas, não pretendia andar aos pontapés a uma bola quando fosse grande. “Os meus pais saíam às 5h da manhã para trabalhar e voltavam muito tarde. A minha grande referência foi a Rosa, a minha professora de primária, queria ser como ela”, admitiu, já graúdo, com mais cabelos brancos do que escuros e uma carreira feita, afinal, a correr atrás da bola. Só depois de 13 anos como jogador é que, por fim, Paulo Sousa teve o que queria: “Converti-me num professor, mas de futebol.”

E só a explicar, bem explicadinho, a ensinar, a dizer como fazer e a organizar quem o ouve é que o português conseguiria montar um Basileia apto. Para quê? Desmontar uma equipa que, à moda de Lopetegui, era até aqui a quarta que mais tempo tivera a bola na Liga dos Campeões (média de 62,1%) e tinha no uso e abuso do passe a fórmula para baralhar adversários. Os suíços, e Paulo Sousa, tinham que contrariar isto. E as lições do professor terão resultado, já que, na primeira parte, os dragões, mesmo com muita bola a tocar-lhe nos pés, poucas vezes foram vizinhos da baliza.

Basileia: Vaclík; Safari, Walter Samuel, Suchy e Xhaka; Frei, El Nenny e Zuffi; Gashi, Dérlis González e Marco Streller.

FC Porto: Fabiano; Danilo, Maicon, Marcano e Alex Sandro; Casemiro, Óliver Torres e Hector Herrera; Brahimi, Cristian Tello e Jackson Martínez.

Os primeiros dez minutos até surpreenderam. O Basileia pressionava, às vezes com dois, três jogadores na frente, a tentarem bloquear as linhas de passe para os laterais e a obrigarem o FC Porto mandar a bola para Casemiro — aí sim, os suíços, depois, montavam cercos. Os dragões até nem perdiam muitas bolas, mas também não faziam muito de útil e perigoso com ela. O contrário do que os suíços resolveram fazer, aos 11’, quando uma jogada com quatro passes começou na defesa, passou por Fabien Frei que, no meio campo, agendou um encontro entre a bola e Dérlis González.

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Antes de o suíço a levantar num passe longo, o paraguaio, desde a direita, começou a correr para a entrada da área, para o espaço de onde Streller, o avançado, fugira pouco antes. Resultou: o passe entrou, Derlis, com classe para dar e vender, dominou a bola e deixou-a à sua frente, aguentou depois uns empurrões de Alex Sandro e, mesmo à última, rematou com o bico da chuteira para inventar o 1-0. E um golaço, dos bons, do paraguaio que o Benfica vendeu ao Basileia e que, com tanto empurrão e choque, ficou deitado no relvado, a queixar-se da cabeça. Era coisa séria, pois aos 23’ a dor piorou e a substituição foi uma necessidade.

Necessária passara a ser também uma reação, a sério, do FC Porto. Mas a lição do professor Paulo Sousa, aliada à pouca rapidez que, de um lado ao outro, os portistas passavam a bola entre si, fez com que uma jogada com a bola na relva e mais do que três passes nunca conseguisse criar uma hipótese para a equipa marcar. Só aos 19’, quando a cabeça de Casemiro bateu na bola cruzada por Tello, num livre, e aos 20’, quando Danilo executou a imagem de marca (levou a bola para o meio e rematou de pé esquerdo) é que Vaclík teve de desviar bolas da baliza suíça.

Depois, o trintão Walter Samuel, com idade (36 anos) e experiência (uma Liga dos Campeões conquistada, em 2010, com Mourinho) para ensinar, agarrou Jackson na área, o colombiano caiu e o árbitro não apitou. Os dragões começaram a querer acelerar as coisas e a fazê-las com maior pressa. Os passes, por isso, erravam-se mais vezes, mas as jogadas que entravam conseguiam incomodar mais a defesa suíça. Mas alguns problemas se iam notando: Casemiro ia errando uns passes, Óliver era engolido para marcação e Tello, na direita, teimava em estragar as fintas e arrancadas com que, por vezes, conseguia ultrapassar adversários. O intervalo chegava e 15 minutos apareciam para Julen Lopetegui se armar em professor e corrigir os problemas.

Mais do que ensinar coisas novas, o espanhol terá dito para a equipa insistir no que, na primeira parte, por duas vezes dera resultado: nos cantos, bater a bola para perto do primeiro poste e ter alguém a aparecer nessa zona. Aos 48’ voltou a dar certo quando Maicon cabeceou a bola vinda do pé de Tello, para o guarda-redes defender para a frente — onde estava Casemiro, brasileiro que, de primeiro, rematou o ressalto para a baliza. A bola entrou foi golo e, durante um minuto, o jogo encravou num 1-1. Depois, contudo, o árbitro auxiliar chamou o principal, sussurrou-lhe algo e o golo deixou de o ser.

Culpa de um fora de jogo de Marcano e Jackson, que estão à frente de Vaclík quando Casemiro remata a bola. Decisão tomada, nada feito. A partir daqui, talvez fruto do alarme soado, o Basileia também quase saiu do jogo atacante. Os suíços tinham como prioridade defender e fechar os espaços. Encolhidos? Nada disso. A pressão continuava e era acionada na linha do meio campo, para que as motas de Danilo e Alex Sandro não embalassem para acompanharem jogadas.

A bola, mais do que nunca, era azul e branca. Já não rodava tanto de um lado ao outro e a ordem parecia mandar que se procurasse mais Jackson e os extremos, que corriam mais entre os laterais e os centrais. Óliver Torres, enquanto durou (saiu aos 66′, lesionado no ombro), tratou do resto. Do pé direito do pequenote espanhol vieram os passes que isolaram Tello, aos 58’, que rematou ao lado, e Jackson, aos 64’, que só com Vaclík à frente optou por lhe tentar dar um chapéu novo ao invés de rematar com força para a baliza. Falharam. Como falhou Ricardo Quaresma, aos 67’, quando pontapeou a bola por cima da baliza. Os dragões, agora sim, dominavam o jogo e controlavam quase tudo o que se passava no relvado.

O FC Porto tentava, utilizava mais os extremos e ia acelerando não os passes, mas as corridas dos jogadores que tinham a bola. Lopetegui, de fora, berrava muito. Gritava ordens atrás de ordens. Aos 78’ terá mandado, pela voz ou em pensamento, que Danilo sprintasse para apanhar um passe, na direita, junto à linha de fundo. O brasileiro conseguiu e, ao chegar à bola, cruzou-a. À sua frente, já a deslizar, em carrinho, estava Walter Samuel, a quem a bola bateu no braço que amparava a queda. Ou seja, penálti, bola na marca e, no minuto seguinte, golo de Danilo, o do empate.

E na Champions, já se sabe: golo fora vale por dois e, caso a segunda mão leve a eliminatória para casa, melhor ainda. Os dragões, por isso, abrandaram. Aumentaram a dose de paciência a trocar a bola e não deixar que o Basileia a tivesse passou a ser ainda mais uma prioridade. Mesmo quando os suíços a tiveram, não mais se aproximariam da baliza de Fabiano e a equipa de Paulo Sousa acabaria mesmo o jogo com apenas um remate feito — o do golo de Derlis González. Muito pouco. A lição do português, afinal, apenas sugeriu à equipa formas de tentar bloquear o FC Porto e aproveitar os espaços que lhe fossem aparecendo para contra atacar. E a de Lopetegui ordenava que a equipa mandasse no jogo com a bola, como o fez.

Foi isso que fez, embora nem sempre com a velocidade e o acerto desejados. O empate deixa os portistas com o à vontade para tudo resolverem no Estádio do Dragão, na segunda mão, e obriga o Basileia a ir ao Porto numa caçada à vitória ou a um empate por mais de um golo. A partida até serviu para uma aula de história — ao contrário do que aconteceu em 1984, quando o FC Porto perdeu a sua primeira final europeia da história, agora os dragões conseguiram, pelo menos, empatar. Os quartos-de-final da Liga dos Campeões dependem agora da palestra que Julen Lopetegui der na casa azul e branca, onde os portistas marcaram nove golos e sofreram apenas dois na fase de grupos.