O músico Fernando Alvim, de 80 anos, morreu esta sexta-feira de manhã, em Lisboa. A informação foi confirmada pela família à Agencia Lusa. O músico encontrava-se hospitalizado.

Fernando Gui San Payo de Sousa Alvim nasceu a 6 de novembro de 1934, em Cascais. Nos mais de 50 anos de carreira, 25 foram passados a acompanhar à viola o guitarrista Carlos Paredes, com quem gravou cinco discos. Por ser a segunda figura do autor de “Verdes Anos”, dentro do meio musical era conhecido por “o sombra”. Num entrevista ao site Rua de Baixo, em 2011, admitiu que ao longo da carreira sentiu alguma falta de protagonismo.

Com Carlos Paredes gravei cinco discos, e qualquer palavra de apoio, ou de estímulo, ou de apreço pelo meu trabalho, nunca foi falada, nunca foi dito nada. Só na última edição dos “Verdes Anos” é que o Zé Niza, que faleceu há uns meses, escreveu um artigo sobre o papel do meu trabalho como acompanhador do Carlos Paredes… e realçou a importância desse trabalho, está a ver?

Mas sempre encarei isso com certo desportivismo… Eu soube pelo Rui Veloso que eu era conhecido, na gíria do fado e no mundo artístico, como “O Sombra”. Eu gostava que os meus colegas guitarristas e violistas começassem a ter mais protagonismo, a serem mais valorizados, porque sem eles não havia fado”.

Entre as várias colaborações que fez contam-se concertos e gravações com António Chainho, Pedro Jóia, Zeca Afonso, Manuel Freire, Luz Sá da Bandeira, Mísia e Vicente de Câmara. Amália Rodrigues convidou-o para gravar o tema “Formiga Bossa Nova”, de Alexandre O’Neil e Alain Oulman.

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Quando Caetano Veloso atuou em Portugal no Teatro Monumental, ainda antes do 25 de abril, e quis cantar um fado, Fernando Alvim foi chamado para o acompanhar. Um momento especial para quem, nos anos 60, na Emissora Nacional, conduzia o programa “Nova Onda”, com que Portugal travou conhecimento com o Bossa Nova que chegava do outro lado do Atlântico.

Em 2011, Fernando Alvim editou o CD duplo O fado e as canções do Alvim, constituído exclusivamente por composições suas interpretadas, entre outros, por Camané, Ana Moura, Ricardo Ribeiro, Cristina Branco, Rui Veloso, Fafá de Belém, Vitorino e Carlos do Carmo.

Em 2012, o trabalho d'”o sombra” foi reconhecido. Recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores, que referiu na ocasião que era uma “forma de reconhecimento pelo trabalho de décadas ao serviço da dignificação da música portuguesa”. Em 2005 recebeu a medalha de mérito cultural atribuída pela Câmara Municipal de Cascais.

O Secretário de Estado da Cultura emitiu uma nota de pesar onde descreve Alvim como “um dos mestres da viola e um dos mais notáveis músicos da sua geração”.