A controversa barbearia do centro de Lisboa que não deixa entrar mulheres chegou à assembleia municipal e já tem bilhete marcado para a câmara. No dia em que o órgão parlamentar da capital realizou o primeiro debate temático sobre a erradicação da violência contra as mulheres, o PCP apresentou um requerimento onde questiona a legalidade de não deixar as mulheres entrarem na barbearia e pressiona a câmara a fazer parar essa prática.

A barbearia Figaro’s, situada na Rua do Alecrim, no coração de Lisboa, tornou-se notícia em outubro de 2014 por ter na porta um cartaz onde se lê que homens e cães são bem-vindos — mas mulheres, nem por isso. A prática não é nova em muitas cidades do mundo, mas surpreendeu os lisboetas e levou mesmo um grupo de ativistas a invadir a Figaro’s recentemente, em jeito de protesto.

“Não se trata de uma exclusividade de prestação de serviços mas sim da prática reiterada e pública da violação de direitos fundamentais e da prática ilegal e discriminatória da proibição de entrada de mulheres num espaço privado de atendimento ao público”, salienta o PCP no requerimento.

Mais à frente, lembrando que “cabe à Câmara Municipal de Lisboa a fiscalização dos estabelecimentos comerciais em tudo quanto não seja matéria da ASAE”, o grupo parlamentar comunista insta a autarquia a dizer o que é que já fez para verificar se as mulheres são mesmo impedidas de entrar. E, se tal for verdade, o PCP quer saber que “medidas irá adotar para garantir que em nenhum estabelecimento comercial, designadamente a Barbearia Figaro’s, impeça seja quem for de entrar no seu espaço.”

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Para os comunistas, “tal prática [é] violadora dos mais básicos direitos fundamentais e absolutamente atentatória aos direitos das mulheres”, que “representa um retrocesso absolutamente inaceitável naquele que é o trilho de muitas lutas pela emancipação das mulheres e pela igualdade”.

Falando com o Observador em outubro, um dos barbeiros da Figaro’s, Fábio Marques, desvalorizava as críticas de alegada discriminação. “É humorístico. Achamos que a emancipação das mulheres é um dado adquirido em pleno século XXI e que há questões mais sérias, como a igualdade salarial”, dizia, alegando que “as mulheres, quando acompanham os maridos ou os namorados, devem entender que este é um espaço reservado a homens. A sua presença vai deixá-los pouco à vontade”.

Compete agora à câmara responder às perguntas do grupo parlamentar comunista, mas tal poderá nem sequer acontecer. Tal como o Observador noticiou na semana passada, mais de metade dos requerimentos feitos pela assembleia municipal à autarquia não obtém qualquer resposta.