Quando se entra num armazém no Beato que, à porta, anuncia tapas e vinho, a última coisa que se espera encontrar lá dentro – descontando, quiçá, pinturas rupestres – é um autocarro vermelho, tipicamente inglês, com dois andares. Mais inusitado é perceber que esse autocarro, depois de uma vida ao serviço da frota da capital londrina, funciona agora (e nesta localização) como garrafeira, com vinhos apenas nacionais, para já, na sua maioria de pequenos produtores. Uma espécie de reforma dourada para o veículo, à imagem do que fazem tantos compatriotas seus de carne e osso em Lisboa ou no Algarve.
Carlos Moreira, o responsável pelo espaço, comprou o dito autocarro no eBay numa altura em que o negócio para ficar com o armazém estava em andamento. Por isso, com ou sem viatura haveria Beatus. Mas – citando um anúncio mais gasto que a sola de certos sapatos –, não seria a mesma coisa. O autocarro, que entrou no local a funcionar (“com três ou cinco centímetros de espaço para cada lado”, segundo Carlos), é a face mais visível e impressionante do espaço. Mas não é a única. Aliás, se há coisa que não falta por ali é espaço, na aceção volumosa da palavra.
Em baixo, à entrada, fica o bar e um primeiro conjunto de mesas, ladeado por prateleiras de vinho onde se servem refeições. Há pratos do dia tradicionais, com destaque para o arroz à antiga ou para a sopa de tomate com ovo escalfado: “é uma refeição”, garante Carlos. À sexta-feira e ao sábado assa-se leitão no espeto, algo que, em breve, se estenderá aos outros dias da semana. O que não depende do calendário são as várias tapas disponíveis diariamente: moelas, salada de polvo, enchidos diversos ou torresmos com tomate, entre outros.
Apesar da grande preponderância vínica do espaço, a cerveja também não foi descurada. Tanto que Carlos optou por ter a artesanal Bolina à pressão, em vez de outra marca qualquer mais comum. Para o lanche, e porque o Beatus funciona em horário contínuo, há uma carta de chás e bolos secos diversos, bem como outros à fatia.
Será tudo? Não. A dimensão do armazém permite fazer todo o tipo de planos e Carlos tem-nos. Em breve, a meio do piso térreo juntar-se-á uma frutaria e uma mercearia, com os produtos usados na cozinha e comprados nas redondezas, já que o responsável diz ser adepto da máxima “support your local business”. Mais ao fundo, outro conjunto de mesas e um palco.
Em cima, na mezzanine, há uma escola de música. Ou seja, enquanto os miúdos aprendem um instrumento, os pais podem ficar a beber um copo ou a ler um dos livros que Carlos tem vindo a comprar por atacado em antiquários e derivados. Os músicos mais habilidosos descem, depois, para acompanhar as refeições num dos dois palcos disponíveis. Ainda no piso superior há uma área considerável que pode ser aproveitada para eventos. O mesmo pode acontecer no segundo andar do autocarro, que foi moldado para encaixar na mezzanine. Ali, o proprietário considera, por exemplo, “instalar um balcão de sushi e fazer workshops”. Se tudo correr bem, o Beatus poderá também vir a receber, todos os meses, diferentes especialistas em comidas do mundo.
Como já se percebeu, não faltam ideias. Nem área bruta para as acolher. Tanto assim é que Carlos promete que, em breve, o Beatus vai receber outro “objeto marcante, pós Segunda Guerra Mundial”. Um tanque? “Isso era o meu sonho. Aliás, o meu sonho era ter aqui um helicóptero daqueles do tempo da Guerra do Vietname ou então metade de um avião…” Promete.
Nome: Beatus
Morada: Rua Acácio Barreiro, 3 (Beato), Lisboa
Horário: De segunda a sábado, das 10h00 à 00h00
Telefone: 21 595 3156
Preço Médio: 15€
Reservas: Aceitam