A Sala Sophia de Mello Breyner do Centro Cultural de Belém (CCB) terá lotação esgotada, neste sábado, para ouvir Vicky Halls, uma especialista em comportamento dos gatos domésticos com mais de 20 anos de experiência e seis livros publicados. A experiência valeu-lhe a alcunha de Cat Whisperer, a Encantadora de Gatos, como o popular Encantador de Cães, Cesar Milan.

Vicky Halls vem pela primeira vez a Portugal para falar sobre gatos e para ajudar a plateia a descodificar alguns dos seus comportamentos. E vem, também, para conhecer melhor os gatos portugueses, porque, como diz, “em mais de 20 anos de experiência, se há coisa que garanto é que não há dois gatos iguais”.

“Os gatos são animais solitários, não necessitam de outros seres da sua espécie para sobreviver”, afirma ao Observador a especialista em comportamento felino que a clínica veterinária Hospital do Gato, em Lisboa, convidou para esta palestra no CCB. “São uma espécie que conta consigo mesma para sobreviver, o que faz com que gostem de parecer que têm a situação sob controlo a todos os momentos”, diz a especialista. E isso faz com que “escondam muita coisa. Escondem stress, escondem dor. Com um cão, por exemplo, é mais fácil perceber quando há alguma coisa de errado com ele”.

Britânica, Vicky Halls é enfermeira veterinária e conselheira de comportamento felino pela International Society Feline Medicine (ISFM). É autora de livros como “Cat Confidential”, “The Secret Life of Your Cat” e “Cat Detective”, este último com tradução portuguesa pelas Publicações Europa-América.

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Ainda que sejam uma “espécie biologicamente solitária, os gatos retiram muito prazer do contacto que têm com os humanos”. “Há um equilíbrio a atingir entre assumir que eles são 100% independentes ou achar que são totalmente dependentes de nós e que, portanto, temos de os tratar como bebés. A verdade está no meio e o que temos são duas espécies que convivem numa atmosfera de respeito mútuo mas onde também existe muito prazer em ter a companhia um do outro”.

A domestic cat sits in October 17, 2010 in Manassas, VA. AFP PHOTO/Karen BLEIER (Photo credit should read KAREN BLEIER/AFP/Getty Images)

Por serem naturalmente solitários, os gatos tendem a esconder os seus problemas, diz Vicky Halls. (Foto: Karen Bleier/AFP/Getty Images)

Ronronar que se ouvia no outro quarto

Em conversa com o Observador, Vicky Halls conta que nunca teve gatos em criança. Não tinha gatos, mas tinha uma vizinha com um gato. Um siamês que, em algumas noites, quando a vizinha deixava, dormia no quarto de Vicky, sem que os seus pais soubessem. O segredo deixou de o ser quando a mãe de Vicky ouviu um intenso ronronar proveniente daquela divisão da casa. Só quando saiu de casa dos pais passou a ter gatos e, desde então, tem vindo a compensar o tempo perdido.

O que sempre fascinou Vicky Halls nos gatos foi a grande diversidade dos seus comportamentos. “Trabalho há mais 20 anos com gatos, escrevo livros, viajo pelo mundo todo para os conhecer melhor e para falar sobre eles, e nunca conheci dois gatos iguais”, diz, explicando que “o seu comportamento pode ser tão heterogéneo quanto o da população humana. Em parte, porque o comportamento do gato desenvolve-se em interação com as pessoas com quem vive, a sua personalidade é, em grande medida, formada no âmbito dessa relação. E isso é uma das coisas que torna os gatos – e o estudo do seu comportamento – tão entusiasmante”, conclui.

A especialista em comportamento animal usa a sua experiência para ajudar famílias com animais problemáticos ou, simplesmente, com dicas sobre como fazer gatos e donos mais felizes. Algumas destas dicas serão partilhadas com a audiência no CCB, no sábado, num programa que inclui temas tão diversos como a melhor maneira de introduzir um segundo gato numa casa ou como gerir o dia-a-dia com os gatos, incluindo a caixa de areia.

Vicky Halls espera que seja “uma sessão estimulante e que as pessoas não se inibam em levantar a mão e fazer perguntas no final”, até porque, diz a britânica, o seu objetivo é, também, aprender mais sobre os gatos portugueses – “e sobre os donos portugueses”.