O Governo brasileiro recusou a proposta da Petrobras para dar uma garantia do Estado sobre uma emissão de dívida que a petrolífera planeia fazer, disse hoje uma fonte do Governo, que não quis ser identificada, à agência Bloomberg.

De acordo com a notícia da agência financeira, o ministro das Finanças recusou dar o aval do Estado a uma emissão de dívida de quase três mil milhões de dólares que tem como garantia uma dívida de uma empresa elétrica estatal, o que significa, na prática, que a Petrobras terá de recorrer a si própria para garantir o financiamento das suas atividades.

A proposta tinha sido revelada em dezembro pelo ministro da Energia que entretanto saiu do Governo Edison Lobão, e mostra os esforços que o Brasil está a fazer para evitar uma descida no rating do país e seguir o exemplo da Petrobras, que viu a sua avaliação ser cortada para o nível abaixo de recomendação de investimento, geralmente conhecido como ‘lixo’.

De acordo com a fonte citada pela Bloomberg, o ministro das Finanças está mais inclinado a deixar que as empresas públicas consigam elas próprias encontrar financiamento, mesmo que isso signifique cortar drasticamente nos investimentos, o que também significa, acrescentou, que o Governo vai interferir menos nas decisões empresariais, como por exemplo o preço a que a Petrobras vende o combustível aos consumidores.

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O acesso das empresas brasileiras aos mercados financeiros está, na prática, congelado há quatro meses, data da última emissão de dívida internacional, refletindo a falta de confiança dos investidores na sequência do escândalo financeiro da petrolífera estatal Petrobras.

De acordo com a agência Bloomberg, a última vez que as empresas brasileiras estiveram quatro meses sem recorrer a financiamento externo aconteceu em 2008, na sequência da implosão do Lehman Brothers, quando o crédito internacional ficou basicamente congelado.

A ausência de empréstimos internacionais é emblemática da maneira como o Brasil se degradou aos olhos dos investidores estrangeiros, na sequência do escândalo financeiro envolvendo as ligações entre a Petrobras e a classe política e da estagnação da economia, que levou os juros exigidos pelos investidores para emprestarem dinheiro a subir seis vezes mais que a média dos outros mercados emergentes.

A Petrobras não emite dívida internacional desde março do ano passado. A Moody’s desceu o rating da empresa em dois níveis, para o patamar abaixo de investimento, conhecido como ‘lixo’, no final de fevereiro, o segundo corte em menos de um mês, precisamente devido à possibilidade de a investigação judicial em curso poder impedir o acesso ao financiamento.

Para além das dificuldades de acesso ao mercado externo, o país enfrenta também a desvalorização do real de 12% este ano e a previsão de uma recessão de 0,58% este ano, a maior desde 1990.