O recém-criado Agir, nascido da cisão do (novíssimo) Juntos Podemos, dá o pontapé de saída já este fim de semana, numa conferência internacional na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, que vai receber convidados do partido grego Syriza, do Podemos espanhol e, claro, Joana Amaral Dias, uma das fundadoras do movimento político que tem ambições de “se apresentar nas próximas legislativas como um partido político e uma verdadeira alternativa a ter em conta”, como a própria explicou ao Observador.

A ex-bloquista, que ajudou a criar o irmão português do partido fundado por Pablo Iglesias, admitiu que “não há muito que distinga” o Juntos Podemos do sucessor Agir, até porque “o que aconteceu no Juntos Podemos foi uma tentativa de take over por parte de outro partido, que se queria apropriar do movimento, algo que não podíamos consentir”, sublinhou a ex-deputada. O problema não era o projeto em si e o facto de “14 dos 21 fundadores do Juntos Podemos integrarem agora o Agir” é prova inegável, diz, de que grande parte do código genético do Juntos Podemos está gravado no movimento agora criado.

Mas, então, quais são as principais bandeiras do Agir? A estratégia assenta em três eixos, explicou a psicóloga: “O primeiro, é o combate à corrupção, que passa pelo reconhecimento de que a corrupção não é um problema de maus rapazes, mas sim um problema sistémico”. O objetivo é travar os efeitos negativos e o peso que a corrupção do sistema financeiro, por exemplo, tem nos destinos do país, nomeadamente “no valor da dívida pública que devemos ou não pagar”.

Sendo uma “plataforma política de coligação, que acolhe pessoas independentes e de vários quadrantes político-partidários, desde o PCP, ao BE, passando pelo PS e até do PSD”, o Agir também ambiciona “aprofundar os mecanismos de participação democrática, através de modelos já testados, como a realização de referendos, por exemplo”. O objetivo, esclareceu a antiga deputada do BE, “é encurtar a distância entre os portugueses e os órgãos de decisão política”.

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A discussão do papel de Portugal na Europa acaba por cruzar os dois primeiros eixos e desaguar num terceiro: a discussão em torno de um modelo económico que encontre respostas aos problemas que, na opinião do movimento, o atual não conseguiu. E, por isso, Joana Amaral Dias defende que é preciso contrariar a “primazia da economia sobre a política”, até porque “nós [portugueses] temos direito a escolher o nosso modelo económico”. Essa deve ser “a prioridade” do futuro Governo, disse.

E numa altura em que o Partido Socialista parte ligeiramente à frente na corrida a São Bento, ambiciona o Agir tornar-se uma alternativa válida para ser parceiro de coligação? Joana Amaral Dias preferiu rematar a questão com uma reposta telegráfica: “Nós [Agir] já somos uma coligação”. Ou seja, o mesmo que dizer que ainda é muito cedo para pensar em coligações.

Além disso, a liderança de António Costa e o rumo que o PS está a escolher parecem não agradar a Joana Amaral Dias: “Eu sempre disse que o melhor momento de António Costa foi no Vimeiro [onde foi a realizada a Comissão Nacional do PS, quatro dias depois de Costa ter dito que estava disposto a avançar para a liderança do PS]. A partir daí, foi sempre a descer”, considera a representante do Agir.

Nesse sentido, desafiada a comentar as últimas sondagens que dão PS e PSD/CDS praticamente empatados, a ex-deputada disse não “estar muito surpreendida”.

“Sinceramente, não tenho muita pena. É aliás um problema dos partidos socialistas europeus que continuam a afirmar-se como um mal menor e não com como uma alternativa verdadeira. Depois pagam a fatura”, rematou Joana Amaral Dias.