“O livro do século”, como lhe chamou o prémio nobel da economia Paul Krugman, e o seu autor, apelidado por muitos como o economista mais influente no novo século, Thomas Piketty, têm enfrentado vários desafios e críticas. Desta vez, a ganhar sério peso, está um mais improvável: Piketty pode ter encontrado o seu rival num jovem de 26 anos.
Chama-se Matthew Rognlie, tem 26 anos, e em abril do ano passado, perto das 03h00 da manhã, ainda acordado, decidiu publicar seis parágrafos na caixa de comentários de um conhecido blogue de economia. O resultado já é chamado de a mais influente crítica do livro de economia mais influente deste século.
Num resumo muito simplista, Thomas Piketty conclui no seu O Capital no Século XXI que a desigualdade tem vindo a aumentar e pode explodir a uma velocidade que levaria a que continuasse a aumentar, basicamente, em piloto automático. A fórmula em que r (taxa de rendimento do capital) tende a ser maior que g (taxa de crescimento da produção) é a base do livro (o trabalho de Piketty dá ainda um contributo massivo em termos de bases de dados sobre a distribuição de rendimentos).
O livro bateu todos os recordes de vendas da Harvard University Press e Thomas Piketty foi alvo de rasgados elogios, mas também de vários ataques. Depois de alguns menos bem-sucedidos (onde se inclui uma célebre polémica com o jornal inglês Financial Times), será que chegou a altura de Thomas Piketty encontrar o seu nemesis?
Matthew Rognlie contra-argumentou nesse post em abril que o livro de Thomas Piketty falha um “ponto subtil, mas absolutamente crucial” e que faz com que, na opinião do jovem economista, possa ter levado Piketty à conclusão contrária. Em vez de os rendimentos de capital aumentarem perpetuamente, diz Rognlie, eles podem estar condenados a diminuir. E assim desafiou a mais importante conclusão sobre a desigualdade na memória recente.
O jovem, a quem falta ainda um ano para terminar o doutoramento, viu a sua popularidade explodir e esta sexta-feira enfrenta algo sem precedentes para um jovem economista: apresentará na Brookings Institution, em Washington, a sua análise perante uma plateia com alguns dos melhores economistas do mundo e o seu trabalho será alvo de uma crítica por Robert Solow, prémio nobel da economia.
O que diz Matthem Rognlie
São duas as principais conclusões do jovem economista. Em primeiro lugar, que Thomas Piketty terá tirado uma conclusão mais abrangente sobre a natureza do capital na atual era do que devia se se tivesse baseado apenas nos dados. Piketty diz que os rendimentos de capital estavam a aumentar transversalmente na economia, mas Rognlie diz que isso está quase completamente isolado no setor imobiliário.
A segunda é que Piketty terá sobrestimado quão elevados serão os rendimentos de capital no futuro, o que para acontecer teria de significar que as pessoas mais ricas, que conseguem cada vez mais capital, teriam de manter uma elevada rendibilidade nesse capital, o que Rognlie contesta, dizendo no seu artigo que a rendibilidade desse capital iria cair à medida que o tempo passa, a menos que a economia consiga substituir muito facilmente capital (como máquinas) por trabalho (trabalhadores), muito mais do que a histórica económica sugere que é normal.