Mais do que os filmes, ficaram as personagens de algumas das obras mais icónicas do realizador português Manoel de Oliveira, como “Vale Abrão”, “Amor de Perdição”, “O Dia do Desespero”, “Vou para casa”, “Aniki Bóbó” e “Palavra e Utopia”.

Ema (“Vale Abrão”, 1991)

Ema é uma personagem inspirada em Emma Bovary, de “Madame Bovary”, do escritor francês Flaubert. A personagem de Oliveira, com uma beleza ameaçadora para os homens, vive uma vida libertina e adúltera, na tentativa de transmitir algum sentido à sua existência vazia e banal. Temas como a vida conjugal e a sexualidade feminina são abordadas na história.

Simão Botelho e Teresa de Albuquerque (“Amor de Perdição”, 1979)

Simão Botelho e Teresa de Albuquerque são dois jovens de famílias rivais que vivem uma profunda paixão proibida. Ambos insistem em valores como a persistência e a fidelidade, na tentativa de ultrapassarem tudo o que os separa para se manterem juntos. Adaptação do romance de Camilo Castelo Branco, os dois jovens representam a relação entre Camilo Castelo Branco e Ana Plácido.

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Camilo Castelo Branco (“O Dia do Desespero”, 1992)

A personagem que dá vida na tela ao escritor português Camilo Castelo Branco mostra a evolução dramática de um homem polémico, instável e de alma triturada. Desde que se agrava a doença nos olhos, até ao dia em que descobre que está cego, Camilo vive perturbado acabando por por fim à vida. Com uma envolvente “Cervantesca”, a personagem de Oliveira revela o conflito interior e o existencialismo.

Gilbert Valence (“Vou para Casa”, 2001)

Gilbert Valence, um grande ator de teatro, vê a vida a escapar lhe por entre os dedos. Se as oportunidades e o talento o empurraram para as luzes da ribalta, a notícia trágica da morte da sua filha e genro num acidente de viação fazem com que a sua vida entre na sombra. Afasta-se do teatro e quando tenta regressar, o mundo das drogas, violência e sexo que sempre o repugnaram, marcam o retorno. Dividido entre os valores morais e a oportunidade de ganhar muito dinheiro, Gilbert começa a perder a memória até esta se diluir e a personagem finalmente avisar: “Vou para casa”.

Carlitos e Teresinha (“Aniki Bóbó”, 1942)

Carlitos e Teresinha são duas crianças pobres que vivem na cidade do Porto durante a Segunda Guerra Mundial e o regime de Salazar. Carlitos é um menino tímido, meigo e apaixonado por Teresinha. Na inocência própria da infância, Teresinha quer uma boneca que não pode ter e Carlitos decide roubá-la de uma loja para lha dar. Tudo entre perigosos mergulhos no Douro.

Padre António Vieira (“Palavra e Utopia”, 2000)

O padre jesuíta António Vieira, famoso pelos seus sermões, é, na lente de Oliveira, uma personalidade extravagante e irónica mas devota à espiritualidade. Pregador apaixonado e convicto, refugia-se em Roma após a morte do rei D. João IV, seu amigo íntimo. As saudades de Portugal fazem-no regressar, mas é no Brasil que acaba por passar os últimos anos da sua vida, após ter recebido um frio acolhimento pelo novo rei D. Pedro. A impetuosa personagem de Vieira põe a sua vida em perspetiva numa reflexão que passa pelas suas várias fases da sua existência.