Os governos português e francês, apesar de cores políticas diferentes, estão em sintonia em dois aspetos: reformas estruturais e crescimento. Manuel Valls disse em Lisboa que os dois países recorrem a caminhos diferentes para o fazer, mas, agora que têm a confiança dos mercados, o mais importante é manter o caminho do crescimento, recusando que a prioridade seja apenas a disciplina orçamental. Perante o governante francês, Passos Coelho garantiu que Portugal não tomará medidas adicionais que “ponham em causa o crescimento”.
O primeiro-ministro português disse que não valia a pena “regurgitar” as medidas já tomadas pelo Governo, embora fosse importante lembrar o que custou ao país chegar ao ponto de crescimento, que Passos Coelho situa entre 1,5 e 1,6% já em 2015. “Não pode ser só disciplina orçamental, embora seja importante. Nada deve ser feito que prejudique o crescimento”, disse Manuel Valls na conferência de imprensa conjunta, reconhecendo que os sacrifícios em Portugal foram “muito duros”.
Num encontro durante a manhã com empresários portugueses e franceses, Manuel Valls disse que as perspetivas do crescimento económico de Portugal em 2015 “são encorajadoras”, acrescentando que isto acontece pelo restabelecimento da confiança no país e como “resultado das reformas” que o Governo tem levado a cabo. No entanto, o primeiro-ministro francês disse que a austeridade aplicada em Portugal nada tem a ver com as reformas implementadas, já que no seu país não houve corte nos salários dos funcionários públicos e haverá um maior investimento na educação, com a contratação de milhares de professores.
Os dois países disseram ainda em declaração conjunta que os seus governos estão “empenhados em ambiciosos programas de reformas, que visam favorecer o crescimento e o emprego”, mas afirmam que estas medidas tomadas a nível nacional “devem também ser acompanhadas por medidas coordenadas ao nível europeu”.
O dia de Valls em Portugal começou com um encontro com António Costa de onde seguiu depois para este encontro. Questionado pela plateia sobre os vistos gold em Portugal e as potenciais vantagens desleais dadas aos investidores, Valls disse que os países da União Europeia são livres de implementar estas medidas, já que vivem em economia aberta e que a própria França também dá vantagens a investidores que venham de fora da UE. Sobre os franceses que fogem aos altos impostos no seu país de origem e se vêm instalar em Portugal, Valls contrapôs que os níveis de imigração de portugueses para França fazem lembrar os anos 60 e 70.
Quanto à política interna e à possível alteração de rumo na economia francesa pedida por vários elementos do Partido Socialista a Hollande – o prazo para a entrega das moções ao Congresso do PS, que acontece no início de junho, termina este fim de semana -, Valls recusou responder à imprensa francesa. Com a possibilidade de Martine Aubry, autarca de Lille e opositora da linha Valls – Hollande, tentar ganhar apoio dentro do PS para derrotar a atual direção, o primeiro-ministro disse que estava em Portugal para falar sobre a relação entre os dois países, para falar sobre Europa e sobre crescimento, adiantando apenas que esta é a linha económica do Presidente da República. Quanto as questões políticas internas, vai retomá-las já esta noite, quando regressar a França.