A coordenadora do Bloco de Esquerda Catarina Martins usou hoje a ironia para agradecer ao primeiro-ministro a “clareza” de estar com os empresários Soares dos Santos e Dias Loureiro, “mostrando o ‘lobby’ da política e dos negócios”.

Catarina Martins falava no final de uma marcha do Bloco de Esquerda contra a austeridade, que começou no Chiado e terminou no Largo do Intendente, em Lisboa, num discurso em que também criticou o recente cenário macroeconómico do PS.

A coordenadora do Bloco de Esquerda começou por se referir ao facto de Pedro Passos Coelho ter assinalado o Dia da Europa, esta semana, em Florença (Itália), com a Fundação Manuel dos Santos, “a mesma cujo dono transferiu a sede [fiscal] para a Holanda para não pagar impostos em Portugal”.

“Agradecemos a Passos Coelho a clareza de estar ao lado de quem acha que baixar os direitos do trabalho, baixar os salários e fugir sempre para o país com os impostos mais baixos é o ideal até que não haja possibilidade de sustentar o Estado social em lado nenhum. É bom termos um primeiro-ministro que é tão claro nos seus propósitos”, justificou.

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Catarina Martins referiu ainda que o primeiro-ministro foi também claro ao elogiar o ex-administrador do Banco Português de Negócios (BPN) e da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), o antigo ministro social-democrata Dias Loureiro, “porque aqui está o ‘lobby’ da política e dos negócios a sugar um país com os desmandos da esfera das finanças”.

“É bom que Passos Coelho seja claro, é bom que nos diga que Soares dos Santos e Dias Loureiro são dos seus. É bom que diga que é essa a economia que apoia, assim como é bom que nos diga que, quando pensa na Europa, está ao lado da Fundação Manuel dos Santos, da fuga dos impostos para a Holanda e de quem acha que o feriado do 1º de Maio deve ser dia para mais um garrote sobre os trabalhadores”, afirmou, recebendo palmas.

Mas Catarina Martins, no seu discurso, também citou uma frase usada pelo secretário-geral do PS, António Costa, para criticar a direção do seu antecessor no cargo, António José Seguro: “Se pensarmos como a direita, acabamos a governar como a direita”.

Ora, segundo Catarina Martins, o cenário macroeconómico do PS é precisamente a prova da influência do pensamento da direita “ao desregular o mercado de trabalho, ao manter as privatizações e ao desinvestir nos serviços públicos”.

Antes, na primeira intervenção do comício, a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua provocou risos ao contar uma anedota que tem como cenário o Parque da Preguiça da vila do Alvito, em que um homem altivo, aparentemente abastado financeiramente, se dirige a um cidadão comum alentejano e diz-lhe ao apresentar-se: “FMI”. O alentejano responde-lhe: “Pele de carneiro”.

Mariana Mortágua falou depois mais a sério, considerando que a “austeridade roubou a esperança, substituindo-a pelo medo”. “A falta de esperança e o medo fazem-nos perder a dignidade. A dignidade é a capacidade de dizermos que a democracia vale mais do que os mercados financeiros”, concluiu.

Já o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, fez um duro ataque ao Presidente da República, Cavaco Silva, por tentar colocar condições à formação de um novo Governo que seja minoritário e apelou à luta contra abstenção para combater “a atual opressão dos de cima contra os de baixo”.

“A resignação é um voto em Cavaco Silva e em Passos Coelho, que nos oprimem e querem manter este jogo viciado contra a democracia”, acrescentou Pedro Filipe Soares.