Discurso de Alfredo de Sousa, deputado do PPD, proferido na Assembleia Constituinte a 22 de Julho de 1975:

“Nesta onda de histeria em que certas forças políticas quiseram lançar o País, foi transmitido na Rádio Juvenil e pelos vistos apareceu num jornal de parede do MDP em Cascais o boato de que eu teria sido preso quando pretendia fugir com milhares de contos…

(Risos)

… segundo uma versão, e com avultada quantia segundo outra. Desejo esclarecer que o que se passou foi o seguinte. Depois de ter estado no núcleo de Algés e depositado o meu filho na casa de minha mulher, de quem estou separado, dirigi-me para minha casa. No acesso à auto-estrada fui detido por uma barragem de populares que exigiu fiscalizar o meu carro. Respondi que não, porque estavam a violar o meu direito fundamental como cidadão de livre circulação – consignado na Declaração dos Direitos do Homem –, além de me identificar como deputado. (…)

Seguiu-se um diálogo em que as minhas razões e a minha calma não conseguiram demover as pessoas que rodeavam o carro, algumas das quais mostravam sinais de extremo nervosismo, começando a balancear o carro, o que me deu impressão que o queriam deslocar ou virar. (…)

Por fim, mediante a notícia de que estava presente um oficial da 5.ª Divisão, saí para abrir a mala do carro, onde só estava um guarda-chuva. Nessa altura um dos populares revistou-me à força a pasta onde eu tinha alguns fundos que, no decurso da campanha pessoal de fundos para o meu partido, havia recolhido juntamente com algum dinheiro meu. Perguntando-me quanto tinha, respondi que deveria ter 40.000$, porque não havia feito as contas. Verifiquei depois que apenas tinha 36.300$. Isto imediatamente deu origem a insultos, insinuações e ao vexame de me retirarem as chaves do carro. (…)

Por fim, chegou uma carrinha da PM, a cujo sargento me identifiquei, pedindo-me ele para o acompanhar ao Forte do Alto Duque, seguindo a sua carrinha e com dois soldados no meu carro para garantir a minha segurança. Lá chegado, fui imediatamente recebido pelo oficial de dia que me disse antes de mais ser ele o primeiro a lamentar o que se tinha passado. Explicou-me a escassez das forças disponíveis e pediu desculpa. Respondi-lhe que ele nada tinha de pedir desculpa, mas que eu não podia deixar de ali apresentar o meu protesto firme por ter sido detido e por forças não legais. Pedi-lhe por último que me concedesse uma escolta até casa porque temia novos incidentes. Com toda a prontidão providenciou nesse sentido.

E assim se encerrou o caso. Simplesmente, não posso deixar de confessar que fiquei impressionado com a histeria quase descontrolada de alguns componentes das barricadas, embora houvesse outros que procuravam acalmar os restantes. E não posso também deixar de protestar contra a calúnia que se pretende lançar pela deturpação dos factos e esclarecer devidamente os Srs. Deputados e aqui apresentar, mais uma vez, o protesto por esta detenção ilegal.”

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