“Mais vale pouco e acertado do que muito e errado” é um provérbio português que parece ter sido adoptado pelos programadores do NOS Primavera Sound 2015. São apenas três os espectáculos em língua portuguesa, sendo um deles o projecto luso-brasileiro Banda do Mar. Bruno Pernadas e Manel Cruz são os outros dois nomes incluídos na representação nacional.

Comecemos pela Banda do Mar, o trio luso-brasileiro que surge catalogado nas divisórias da MPB (Música Popular Brasileira), Bossa Nova e indie rock nos diversos sítios da internet dedicados à musica. Marcelo Camelo e Mallu Magalhães formam um casal desde 2008, altura em que começaram por retribuir entre si participações especiais nos respectivos álbuns a solo. Marcelo produziu inclusivamente o disco “Pitanga” de Mallu. Com uma relação partilhada entre São Paulo, terra natal da cantora e o Rio de Janeiro de Marcelo Camelo, o casal tem no disco de estreia uma espécie de relato apaixonado das suas aventuras. Melodias simples, conjugando guitarras e percussão em tons suaves a condizer com a voz doce de Mallu que parece flutuar ao longo dos poemas que por vezes parecem declarações sentimentais personalizadas. São 12 canções, sete das quais cantadas por Marcelo Camelo.

A acompanhar a dupla brasileira encontramos o baterista português Fred Ferreira, o terceiro elemento da Banda do Mar. Conhecido pela bateria dos Yellow W Van e Buraka Som Sistema, membro dos Orelha Negra, é um baterista, compositor e produtor com largo currículo. É dele a produção do disco de estreia de Diogo Piçarra, o recente fenómeno de popularidade, vencedor do programa “Ídolos” em 2012. Para este ano está também prevista a edição de um álbum em nome próprio, composto e produzido por Fred Ferreira mas com as interpretações vocais de artistas convidados.

Depois de uma temporada de actuações no Brasil desde 20 de março e durante todo o mês de abril, a Banda do Mar regressou a Portugal e tem espectáculo marcado para o dia 5 de junho às 17 horas. Serão os primeiros a abrir o palco “NOS” onde irão actuar a seguir Patti Smith, The Replacements e Antony and the Johnsons. Esta será mais uma oportunidade para apreciar o talento dos três músicos que estão também a promover o álbum de estreia editado em Agosto do ano passado. Usado na banda sonora de uma novela, e por vezes também em outros programas de televisão, “Mais Ninguém” é porventura o tema mais popular:

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Harmonia é um termo que deve ser aplicado com especial cuidado quando o assunto é música. No caso de Bruno Pernadas a busca por essa nobre característica parece ser uma constante. “How can we be joyful in a world full of knowledge?”, ou como pode a ignorância afinal permitir a felicidade, é o título do primeiro disco assinado em nome próprio e editado em março de 2014. O álbum é marcado pela atmosfera jazz entrelaçada por sonoridades típicas da folk e pela presença da electrónica.

Integralmente composto e produzido pelo músico que começou a tocar violão clássico aos 13 anos, este disco inclui a participação de artistas convidados oriundos de outros projectos, que contam com a colaboração habitual de Pernadas. Caso de Julie & The Carjackers ou os Tape Junk. No seu currículo encontramos ainda colaborações com o jazz ensemble “When we left Paris”, Real Combo Lisbonense, Walter Benjamin, Out of Nowhere Jazz Trio e a orquestra de jazz da Escola Superior de Música de Lisboa. Fez estágios com orquestras como a Big Band do Instituto Piaget, a San Francisco Jazz Collective e a Orquestra de Jazz da Escola de Música de Lisboa.

Compositor, director musical e músico de palco, já participou em vários festivais de música em Portugal, em Itália e no Brasil. O mais recente projecto do multi-instrumentista é a banda sonora do documentário “The Wolf’s Lair”, realizado por Catarina Mourão, que esteve em competição no Indie Lisboa no final de abril. Bruno Pernadas apresenta-se como sinónimo de virtuosismo, exibindo o seu potencial de recriação e improviso ao propor diferentes arranjos para as suas composições em cada actuação. Sobe ao palco “Super Bock” do NOS Primavera Sound para inaugurar o festival – Bruno Pernadas é o primeiro a actuar – quando forem 17 horas na quinta-feira, 4 de junho. No mesmo palco tocam em seguida Mikal Cronin, FKA twigs e The Juan Maclean.

Apaixonado por banda desenhada desde criança, artista multifacetado com inúmeras colaborações no panorama musical português, Manel Cruz dedica-se também à pintura e à ilustração. Dono de um registo vocal característico, o compositor e autor tornado conhecido em 1991 como vocalista dos Ornatos Violeta, um dos mais interessantes projetos da música portuguesa contemporânea, vai apresentar um espetáculo que o próprio designa de “Estação de Serviço”. Aos 40 anos e a tocar em casa (embora tenha de facto nascido em S. João da Madeira) o artista propõe-nos uma paragem nas boxes para avaliar a evolução e introduzir correções aos desvios eventuais na trajectória iniciada com o álbum “Cão!” em 1997. Será uma viagem retrospectiva do caminho feito entretanto com os Pluto, os SuperNada e no projecto Foge Foge Bandido, ao mesmo tempo que se poderão escutar também algumas canções inéditas.

Após um período de ausência Manel Cruz actuou, no final de novembro passado, no Silo-Auto – um parque de estacionamento na zona do Bolhão, no Porto – num espetáculo intimista denominado “Sala”, com lotação para 600 pessoas, organizado pela Porto Lazer. Em abril do ano passado foi publicado no YouTube o vídeo do tema OVO, exercício de estilo com assinatura de Manel Cruz, que ultrapassou as 34 mil visualizações em cerca de um ano. Parecendo um número baixo, é um testemunho de que a comunidade de fãs do ex-Ornato continua a acompanhar os seus projectos. A canção de letra forte e pertinente, assim como o vídeo, registam contribuições de membros das Sopa de Pedra e Olive Tree Dance, do grupo de percussão Re-Timbrar e também de André Tentugal dos We Trust. Além disso a título de curiosidade OVO foi inicialmente apresentada durante uma manifestação contra a Troika, em 2012, no Porto.

Manel Cruz tem actuação prevista para as 17h30 no último dia do festival, no mesmo palco onde irão tocar os Foxygen, Death Cab for Cutie e Dan Deacon. As honras de abertura nos três dias de festival no Parque da Cidade ficam assim entregues aos elementos da selecção nacional indie que, entre 5ª feira e sábado a avaliar pelas previsões meteorológicas, terão ainda muito sol no horizonte para acompanhar o rock n’ roll.