Não é preciso ser míope ou pitosga para saber que esses tempos já vão longe. Os tempos em que os miúdos portugueses brilhavam em Europeus enquanto davam uns pontapés na bola. Como o fizeram em 1994, quando Luís Figo, Rui Costa, João Pinto e companhia chegaram à final e só caíram nos penáltis. Foi há 21 anos e, entretanto, já houve dez Campeonatos de Europa pelo meio, mas não mais os sub-21 voltaram a dar nas vistas. Pode ser que seja agora. Porque é agora que há uma colheita da qual se espera vir a espremer muito sumo.
A prova, mais uma, apareceu esta segunda-feira, quando Rui Jorge se sentou numa cadeira, aproximou a cara do microfone e começou a debitar os nomes dos 25 pré-convocados para o Europeu da República Checa (17 a 30 de junho). Primeiro, porque só dois é que não jogam nas primeiras divisões de campeonatos pela Europa fora. Ambos são guarda-redes — Daniel Fernandes defende a baliza de uma equipa da terceira divisão alemã e Bruno Varela ainda está na segunda liga. De resto, todos andam lá em cima.
Guarda-redes: Bruno Varela (Benfica), Daniel Fernandes (Osnabrück) e José Sá (Marítimo);
Defesas: Frederico Venâncio (Vitória de Setúbal), João Cancelo (Valencia), Paulo Oliveira (Sporting), Raphäel Guerreiro (Lorient), Ricardo Esgaio (Académica), Tiago Ilori (Bordeaux) e Tobias Figueiredo (Sporting);
Médios: Tozé (Estoril Praia), Bernardo Silva (AS Monaco), Bruno Fernandes (Udinese), João Mário (Sporting), Rafa (Sporting de Braga), Rúben Neves (FC Porto), Rúben Pinto (Paços de Ferreira), Sérgio Oliveira (Paços de Ferreira) e William Carvalho (Sporting);
Avançados: Carlos Mané (Sporting), Gonçalo Paciência (FC Porto), Iuri Medeiros (Arouca), Ivan Cavaleiro (Deportivo de la Coruña), Ricardo Pereira (FC Porto) e Ricardo Horta (Malaga).
Uns quantos já sabem o que é jogar na Liga dos Campeões. É só perguntarem a William Carvalho, Bernardo Silva, Rúben Neves, Paulo Oliveira, Ricardo Pereira, Carlos Mané ou Tobias Figueiredo, que o fizeram esta época. Alguns até estão mais habituados a atenderem o telefone a Fernando Santos do que a Rui Jorge.
Bernardo Silva e William Carvalho, aliás, também foram convocados para jogarem com a seleção principal contra a Arménia e a Itália. Como tal, na melhor das hipóteses, apenas se juntam aos sub-21 a 14 de junho — isto se por acaso não forem eles os dois futebolistas que Rui Jorge terá de cortar até dia 7, já que as regras ditam que o selecionador só pode levar 23 homens para o Europeu.
Quem já está de fora é Bruma e o empresário do extremo do Galatasaray não gostou nada disto. “Não convocar o Bruma é como não convocar o Cristiano Ronaldo para a Seleção principal. É o cartaz dos sub-21 a nível internacional, há dois anos ganhou a Bola de Prata na Turquia, esta época fez 70 por cento dos jogos do Galatasaray, acaba de ser campeão, fez todos os escalões das seleções e é agora excluído de uma fase final dos sub-21”, disse, ao jornal A Bola.
Depois de, um a um, dizer os nomes dos convocados, Rui Jorge confessou que lhe “faz confusão” ouvir dizer que Portugal tem uma das seleções favoritas à conquista do Europeu. “Os nossos números fazem de nós uma equipa forte, sem dúvida, mas não favorita ao título europeu. A Inglaterra fez 12 jogos, venceu 11 e empatou um; a Alemanha fez dez, ganhou oito e empatou dois. Há várias equipas muito fortes em prova”, defendeu, antes de indicar que o principal objetivo é garantir a qualificação para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Como? Chegando, pelo menos, às meias-finais.
Ou seja, conseguindo um quase brilharete.