A grande revolução da moda deste outono-inverno não são as golas-chaminé, nem os veludos ou as linhas direitas. Ou se quisermos tudo isto faz parte do ciclo de mudanças habituais de cada estação. A grande, grande mudança é que as modelos da Zara já riem. E se tivermos em conta o peso que a marca criada por Amancio Ortega tem na vida de milhões de mulheres acreditem que esta alteração é de monta.

A pergunta “Porque não riem as modelos da Zara?” animou nos últimos meses discussões na blogosfera e até chegou às páginas do El País: “o que se passa com as modelos da Zara.com? É desassossego. Os ombros pesam-lhes. Vão encurvadas pela vida. Nem a primavera nem o estrear de um jersey com os ombros descobertos lhes prova a mínima alegria. Sentem um vazio existencial. Olham para o chão cabisbaixas”.

A bloguer Alicia Santiago que lançara a questão da tremenda tristeza das modelos da Zara não poupava na ironia na hora de comentar as fotos da página online da grande empresa do têxtil mundial: “Olá, vesti esta camisa azul farda de hospital porque me vão fazer uma ecografia na porta 5 e estou um pouco nervosa e cabisbaixa”, “há vários dias que não tomo o pequeno-almoço por causa da pressa. Amancio, não terás uma modelo com mais 150 gramas que encha o rabo das calças?”, “estou desamparada”.

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As explicações para tanta melancolia eram várias, nenhuma delas definitiva, mas num ponto confluíam: a marca procuraria desse modo criar uma imagem sofisticada. Afinal como bem se sabe não há ninguém com ar mais enfastiado e angustiado que as pessoas a quem não falta nada. Mas em boa verdade as modelos da Zara não se limitavam a afivelar aquele ar esfingicamente inacessível que as mulheres outrora ostentavam nos desfiles de Alta Costura. (Pelo contrário, nos catálogos de roupa barata as pessoas riem como se não lhes faltasse nada!)

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As modelos da Zara iam mais longe. Elas estavam mesmo fartas de viver. Os catálogos de 2012 e 2013 parecem a versão ilustrada de uma manual sobre depressões.

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Estavam as coisas neste ponto quando chegou o catálogo Outono-Inverno 2015/2016 e eis que as modelos da Zara riem. Quererá esta mudança dizer que Amancio Ortega foi sensível à polémica criada em torno do ar taciturno das modelos dos seus catálogos online ou será que esta tendência de mulheres sorridentes quer dizer alguma coisa sobre a crise mundial ou o fim dela?

Pessoalmente inclino-me para esta última opção e explico já porquê mas para tal há que olhar para os modelos masculinos. Tudo aquilo que aqui anteriormente se escreveu sobre a tristeza das modelos femininas se exponencia quando se passa para as páginas reservadas aos homens. Seja lá pelo que for os modelos masculinos da Zara pareciam estar invariavelmente à beira de optar entre o suicídio naquele preciso momento ou adiá-lo por algumas horas para ir pela derradeira vez contemplar Veneza num dia de nevoeiro.

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A bem da nossa saúde mental os homens também já riem no catálogo da Zara de 2015-2016. O que não se pode dizer é que riam todos do mesmo modo. Ou seja os brancos já perderam aquele ar de nevralgia, os negros sorriem abertamente e os asiáticos, esses, ostentam um ar mais ou menos zangado com o mundo. O que interpreto eu como um sinal de que os primeiros, com aquela neura mimada que os caracteriza, lá vão admitindo que o pior já passou, os segundos acreditam no futuro e os terceiros não tiram os olhos dos sobressaltos da bolha especulativa chinesa. Ou seja antecipam não apenas o que  vão os homens vestir mas também a localização próxima dor de cabeça mundial.

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Pode dizer-se que nada sustenta esta minha conclusão. É verdade. Mas a avaliar pelo falhanço total das previsões económicas de tantos reputados especialistas baseados em ainda mais reputados estudos que nos garantiam crescimento e mais crescimento não vejo porque não hei-de eu basear as minhas previsões no catálogo da Zara. As probabilidades de errar são semelhantes e pelo menos sempre escolho alguma coisa com bom ar e não muito cara para vestir. Ou não fosse eu uma das muitas mulheres que por esse mundo fora têm uma enorme dívida de gratidão para com a Zara, a marca que pôs no no nosso corpo a preços acessíveis as peças de roupa que os armanis desta terra faziam só para algumas.