Depois de termos esmiuçado a franja mainstream do que o mercado tem para apresentar na primeira parte deste artigo, resta-nos falar de muitos dos jogos que nos entusiasmaram verdadeiramente em todo o evento. Apesar de ser um lugar comum afirmar-se, em todo o espectro cultural, que é fora do mainstream que existem as verdadeiras peças de destaque, aqui, como verão, é um desses casos.
Seguindo a máxima latina de in media res, seguem-se todos os jogos das editoras pequenas e médias ao qual damos destaque e que sabemos que passarão ao lado de grande parte dos média internacionais, especializados ou não, e que o público terá dificuldade em conhecer.
Devolver Digital
A famosa editora indie que de dedconhecido já pouco tem, e cujo jogo Not a Hero do qual já aqui falámos faz parte, trouxe um catálogo de grande qualidade e que tem diversos jogos que merecem destaque.
Hard West, que surpreendeu grande parte da equipa do Rubber Chicken e que ficou posicionado em primeiro num dos nossos tops, traz-nos uma abordagem artisticamente interessante ao género western, num jogo de estratégia por turnos muito interessante.
Hatoful Boyfriend: Holiday Star, a estranha sequela de uma estranha visual novel japonesa que nos coloca na pele de uma rapariga humana que frequenta uma escola habitada unicamente por pombos conscientes. O objectivo é conseguir criar um relacionamento com um desses pombos. Bizarro? Sim. Mas estranhamente viciante.
Perfeitamente integrado no catálogo da Devolver está este Mother Russia Bleeds, que traz o espírito dos side scrolling beat’em ups clássicos como Streets of Rage (que toda a gente no mundo jogou), em todo o seu esplendor retro.
Jogos de estúdios nórdicos
No artigo de apresentação da Gamescom aqui no Observador falámos da qualidade dos estúdios nórdicos, e a capacidade que tiveram para fazer jogos tão relevantes que conseguiram chegar aos nossos tops pessoais.
O primeiro desse jogos, à semelhança de Mother Russia Bleeds, é Zombie Vikings, um jogo cooperativo da Zoink Games, autores do artisticamente brilhante Stick it to the Man! Zombie Vikings é um divertido brawler que nos capta a atenção com o seu look manualmente pintado, e que será lançado já na próxima semana.
O segundo é a um jogo passado no genial universo de Steamworld Dig, de seu nome Steamworld Heist. O estúdio Image & Form arrisca mais uma vez ao mudar do género metroidvania do primeiro para uma abordagem de estratégia táctica para este segundo. Mantendo a mesma qualidade de game design e artística que tornou a série reconhecida, este risco de mudar diametralmente de género parece compensar e trazer frescura ao título.
https://www.youtube.com/watch?v=rehXsNdXjrg
Um jogo com um forte pendor da Realidade Virtual é a experiência exploratória e narrativa de POLLEN, em que pudemos percorrer as diversas salas deste jogo com a utilização do dispositivo Occulus Rift.
Kalypso Media
A Kalypso é uma editora de grande dimensão europeia que conta com séries de estratégia de sucesso. Não contrariando esta tendência, foi apresentado aquele que foi um dos meus jogos favoritos de toda a Gamescom, Crookz – the Big Heist, um jogo de estratégia por turnos ao estilo de Commandos, mas com um visual e uma abordagem dos 1970s. Este jogo foi lançado há três dias.
Na tradição bem europeia dos jogos de estratégia militares ao estilo de Risk, temos mais um jogo da série Grand Ages, neste caso dedicado à era medieval na Europa. Grand Ages: Medieval sairá no final de Setembro e pareceu-nos ter a complexidade que agradará a todos os fãs do género.
Focus Home Interactive
A editora francesa apresentou um vasto catálogo, muito dedicado a jogos de acção de fantasia e sci-fi, dos quais Technomancer, um jogo que só não tem mais do universo de Star Wars por questões de direitos, foi um dos que ao nível de design e apresentação mais nos surpreendeu, entrando para dois dos tops pessoais da equipa do Rubber Chicken.
Shiness, um jogo proveniente de uma campanha de crowdfunding de extremo sucesso, andou a trocar de mãos-em-mãos ao nível de editoras e acabou por ir parar à Focus Home Interactive. Um action RPG feito por estúdio também ele francês, com muito de nipónico na sua execução, e cujos autores estão a desenvolver a difícil tarefa de criar uma língua artificial para acompanhar todo o jogo.
Divinity Original Sin Enhanced Edition é a versão actualizada do jogo de grande sucesso do estúdio belga Larian, mas que demonstrou nesta nova versão uma das melhores formas de cooperação entre jogadores, magias, e ataques que é possível ver num RPG por turnos. Pelo que vimos nesta nova versão do jogo, a fasquia do brilhante jogo base foi elevada para um patamar ainda acima, tornando-o um dos RPGs por turnos mais interessantes do mercado.
Daedelic Entertainment
A editora alemã que tem apostado em diversos títulos de estúdios independentes, que inclusivamente publicou mundialmente um jogo português no ano passado, o Munin, trouxe este ano um catálogo recheado que inclui Skyhill, Valhalla Hills, Bounty Train e Project Daedalus: the Long Journey Home, cujas análises estarão para breve. Mas destacamos AER, de um pequeno estúdio sueco, e que demonstra um dos jogos artisticamente e poeticamente mais interessantes de toda a Gamescom, e que também entrou para os nossos tops pessoais.
A sequela da brilhante aventura gráfica The Whispered World está para breve e tem como título Silence – The Whispered World II, prometendo uma experiência de uma beleza de cortar a respiração e que também chegou ao top das nossas escolhas pessoais.
https://www.youtube.com/watch?t=79&v=WtYpgPQcQM0
Mïcroids
Muitos anos decorreram em que a histórica editora francesa permaneceu afastada da ribalta dos videojogos. Muitas mudanças, alterações de filosofia, e todas as séries de destaque que a editora possuía acabaram por (quase) cair no esquecimento. Foi com grande alegria que, uns dias antes da Gamescom, recebemos um convite para irmos ver a terceira iteração da série Syberia, a genial história escrita e desenvolvida pelo artista de BD belga Benoît Sokal.
E o regresso de Hercule Poirot ao mundo dos videojogos, num jogo que remete totalmente para o universo da animação, com este Agatha Christie – the ABC Murders.
Ripstone Games
A editora britânica veio promover alguns jogos, mas Extreme Exorcism, o divertido jogo over-the-top de caça-fantasmas cooperativo foi dos que mais nos divertiu em todo o evento, e facilmente se percebe o porquê.
Nordic Games
A gigante austríaca trouxe novamente The Guild 3 e Spellforce 3, mas foi The Mandate, o jogos sandbox espacial com um universo sci-fi extremamente coeso que deixou uma grande promessa no horizonte.
https://www.youtube.com/watch?v=mN66UBF2CcE
Depois de desenvolverem a brilhante aventura que é The Book of Unwritten Tales 2, o estúdio KING Art Games vai agora lançar um épico RPG táctico através da Nordic Games, de seu nome The Dwarves.
https://www.youtube.com/watch?v=mN66UBF2CcE
Team 17
A comemorar 25 anos de existência, a editora britânica vai também comemorar os 20 anos da sua série mais famosa, Worms, com um jogo que será lançado este ano Worms W.M.D. e que promete trazer de regresso o brilhantismo de um dos jogos mais divertidos e mais marcantes das nossas infâncias.
https://www.youtube.com/watch?v=ETn-0zvWVOg
Lançado há alguns dias em versão Early Access temos Sheltered, um jogo de sobrevivência num mundo pós-apocalíptico em que controlamos uma família num abrigo nuclear, e que tudo temos de fazer para garantir a sua existência.
Iceberg Interactive
Numa época em que os jogos de sobrevivência ganham um novo destaque, a holandesa Iceberg Interactive traz-nos Into the Stars, um jogo de estratégia em que controlamos uma nave e a sua tripulação na tentativa de atingir o planeta Titus Nova.
NIS of America
Há um nicho de mercado que tem sido ocupado por duas editoras, a NISA e a Marvelous, que têm traduzido e adaptado uma série de jogos apenas lançados no Japão para um mercado mais global.
Lost Dimension e Danganronpa Another Episode: Ultra Despair Girls são duas visual novels (sendo que o primeiro tem elementos de RPG táctico) com um grande sucesso no Oriente e que foram anunciados para o mercado europeu e norte-americano para gáudio dos fãs.
Um jogo cheio de exageros, over-the-top ao estilo de Tarantino derrotam horas de zombies das formas mais mirabolantes possíveis? É isso que Onechambara Z2: Chaos nos traz.
Uma das séries japonesas com uma maior legião de seguidores é mesmo Disgaea, que teve o anúncio da adaptação para o Ocidente de mais uma iteração, Disgaea 5: Alliance of Vengeance, que nos traz mais uma vez um dos RPGs por turnos de maior longevidade, atingindo usualmente mais de 100 horas de conteúdo jogável.
Marvelous
Ainda que possua muitas séries com algum destaque, é mesmo Senran Kagura: Estival Versus que faz as maravilhas de todos os consumidores ocidentais que reconhecem na série jogos de qualidade, ainda que repletos de fan service. Jogos cheios de combate com raparigas com poderes especiais, que ao transformarem-se recebem armaduras, habilidades sobrenaturais e um aumento dos seus atributos físicos. Porquê? Porque é isso que os fãs procuram.
Paradox Interactive
Mais uma editora sueca com um catálogo recheado de excelentes títulos de estratégia e que apresentou dois jogos de destaque em settings distintos. O primeiro foi Stellaris, um jogo de exploração e colonização espacial que é uma das primeiras “aventuras” da editora em terrenos sci-fi.
Uma das grandes surpresas foi mesmo Hearts of Iron IV, um jogo ao estilo de Risk, passado em plena Segunda Guerra Mundial, e que nos permite divergir historicamente do que conhecemos. Foi-nos mostrada, por exemplo, a possibilidade de efectuar uma série de mudanças políticas e militares à Alemanha que a conduzam a uma viragem à esquerda e a uma aliança com a URSS, ou dirigir a França numa clivagem à direita levando-a a uma união voluntária ao Reich. Portugal, assim como qualquer país europeu é uma das facções jogáveis, ainda que acredite que seja virtualmente impossível dominar a Europa de forma militar com a nossa nação. Mas fica o desafio para quando o jogo for lançado.
Independentes
Punch Club, uma homenagem a toda a cultura pop dos anos 1980 foi o meu jogo favorito de todo o evento. Um jogo em que gerimos o dia-a-dia de um aspirante a boxeur. Toda a paixão impressa ao jogo torna-o um jogo de génio.
Kôna
Na linha de diversos jogos narrativos, Kôna (sim, todos rimos de forma pueril quando nos convidaram para esta apresentação) foi um dos destaques do que o mercado independente tinha para nos mostrar.
Renowned Explorers
Já me tinha surpreendido com este jogo (quase) de tabuleiro digital, com um visual animado que o fez destacar-se de tantas outras abordagens do género, e que está já disponível para compra desde há alguns dias.
Warhammer: End Times Vermintide
Num ano em que o universe de Warhammer tinha quarto jogos distintos de diferentes editoras em exibição, acabou por ser este End Times Vermintide a conquistar toda a equipa do Rubber Chicken.
https://www.youtube.com/watch?v=G1rdqUZlx7s
Realpolitikz/KURSK
Dois jogos distintos dos polacos da Jujubee S.A, que trouxerem dois títulos sólidos que conseguiram chegar aos nossos tops. E que nos parece que são mesmo daqueles casos em que ninguém os vai referir.
Realpolitikiz é um Risk completamente politizado, em que a balança entre a tirania e a democracia depende unicamente das nossas acções, e onde podemos controlar todas as nações do Mundo. O que inclui Portugal e o Zimbébue.
KURSK traz-nos uma tentativa narrativa de desvendar o que se passou com o submarino russo que explodiu misteriosamente em Agosto de 2000, trazendo história jogável antes e depois do acidente.
Ricardo Correia, Rubber Chicken