Não deixa o seu filho ir sozinho para a escola? Prefere que a criança vá de carro na sua companhia ou, então, seja levado a pé pela mão do irmão mais velho? É bom saber que é um pai/mãe preocupado/a, mas talvez isso seja um sinal de que não está a preparar o seu filho para a vida adulta. É que condicionar a liberdade de movimentos das crianças pode ter consequências a curto e a longo prazo, tanto no aproveitamento escolar como na saúde.
Já antes Carlos Neto, professor e investigador da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), em Lisboa, tinha alertado para o facto de estarmos a criar “crianças totós, de uma imaturidade inacreditável” ao fomentar o sedentarismo, a falta de autonomia e uma linguagem terrorista promotora do “não”. Agora, o assunto volta a estar em cima da mesa.
No passado mês de agosto foi publicado um estudo internacional que compara, muito a propósito, a mobilidade infantil em 16 países — Austrália, Brasil, Dinamarca, Inglaterra, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Noruega, Portugal, África do Sul, Sri Lanka e Suécia. Portugal está na cauda da lista, lado a lado com a Itália e exatamente antes da África do Sul. Conclusão? Temos dos pais mais severos no mundo.
Temos um bom clima, um nível de segurança que é dos melhores da Europa, temos uma natureza e uma cultura interessantíssimas e estamos a desperdiçar essa possibilidade. As crianças já não contactam com a natureza, já não saem à rua, desapareceram e, muitas vezes, o tempo que restava à criança para poder fazer isto tudo está restringido.” Carlos Neto em entrevista ao Observador
O estudo internacional, Independent Mobility: An International Comparison (Mobilidade Independente: Um a Comparação Internacional), foi desenvolvido pelo Policy Studies Istitute e integra pesquisa conduzida nos próprios países — o estudo português, de nome Independência de Mobilidade das Crianças, data de 2012.
A comparação internacional contou com a participação de 18,303 crianças entre os sete e os 15 anos, bem como um subconjunto formado pelos respetivos pais, e abrange um período de investigação de dois anos (de 2010 a meados de 2012). A análise permitiu concluir que a mobilidade dos mais novos varia muito nos 16 países estudados. Eis as principais conclusões (por pontos e em gráficos):
- Os níveis reduzidos de mobilidade das crianças representam uma realidade comum, com restrições significativas em crianças de todas as idades (dos sete aos 15 anos). Apesar disso, as limitações são maiores entre crianças com menos de 11 anos;
- Os pais têm receio de deixar as crianças movimentarem-se sozinhas e apresentam os perigos relacionados com o trânsito como a principal preocupação;
- O país que apresenta melhores resultados é a Finlândia, seguida da Alemanha, Noruega, Suécia, Japão e Dinamarca. Juntos, estes países representam o top 5 tendo em conta a comparação internacional;
- Pelo contrário, os países com os níveis de mobilidade mais baixos são França, Israel, Sri Lanka, Brasil, Irlanda, Austrália, Portugal e Itália (empatados) e África do Sul.