Há uma geração de portugueses para quem as calças à boca de sino ficaram como sinónimo dos dias da Revolução de Abril, PREC, caos. Não conseguem ver um look anos 70 sem ouvir em fundo uma canção do José Afonso, dos ABBA ou do José Cid. Porém, a moda não é só uma revisitação do passado feita por olhos moderno — é também uma forma de reinvenção. Portanto, a todos os traumatizados dos anos 70 em Portugal fica o repto: está na hora de trazer as bocas de sino para o século XXI. ‘Bora lá trocar o PREC pelo glamour de umas camisas de laçada, fitas de veludo, rendas e lenços de seda?

As calças à boca de sino não foram inventadas no pós 25 de Abril mas sim na marinha americana dos finais do século XIX. A sua chegada à moda de rua acontece nos anos 60, na swinging London, e foram desde logo adotadas pelas claques de futebol inglesas. Eram uma espécie de uniforme de guerra e estão conotadas com violência e distúrbios. Porém, fartos do look teddy boy, os criadores de moda trouxeram as calças largas em baixo para os seus blocos de desenho, nomeadamente Mary Quant (a criadora da mini-saia).

Mas é nos anos 70 que o seu uso se democratiza mundo fora, quando as calças à boca de sino passam a ser usadas pelos grupos musicais de sucesso como Sonny & Cher, ABBA, Fleetwood Mac ou Jimmy Hendrix. Voltaram brevemente  nos anos 90 e de novo no início do milénio, mas nunca como agora numa versão tão depurada e distinta.

Quem frequenta os blogues de moda internacionais e não perde uma reportagem fotográfica de street style sabe que as calças à boca de sino, ou flares (como são denominadas em inglês e nas cadeias multinacionais), estão a fazer o seu regresso desde o inverno de 2014, embora só este ano os criadores tenham apostado em força nesta tendência fazendo com que as lojas as passem também a disponibilizar.

A marca francesa Chloé apresentou para este outono /inverno uma coleção em que faz reviver as calças à boca de sino numa versão encantadora cruzada com referências aos uniformes militares do século XIX, túnicas vaporosas e românticas com rendas e drapeados e lenços estreitos e compridos ao pescoço. Esta versão glam, ainda que nos remeta para o espírito dos anos 70, não se fica por aqui e renova-se trazendo influências do século XIX.

Por estes dias as calças à boca de sino já não têm meio metro de largura em baixo. São mais equilibradas e usam-se em versão muito comprida a tapar os sapatos e em versão curta a deixar ver os tornozelos. Mas a regra é só uma: elegância. Isto quer dizer: as flares são o foco do seu look, pelo que tudo o resto deve ser simples e depurado.

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