Para o leitor mais distraído, os “The Hunger Games” acontecem num futuro onde as pessoas vivem numa pobreza extrema e confinadas a distritos. O poder concentra-se na figura tirana do Presidente Coriolanus Snow, que governa com pulso firme e espalhando o medo nos cidadãos. É um cenário aterrador que junta um governo ditatorial, um estado marcial permanente e a estranha tradição de uns Jogos da Fome durante os quais representantes de cada distrito têm de lutar entre si até à morte. No meio de tudo isto surge Katniss Everdeen —  Jennifer Lawrence –, uma finalista dos Hunger Games que se revolta e passa a liderar a resistência (veja a fotogaleria em cima). É o nascimento de uma heroína.

E é também o nascimento de um símbolo que já saiu do cinema para a vida real. Na Tailândia, o gesto da saudação com três dedos adotada pelos rebeldes de Hunger Games foi utilizado numa manifestação de rua no ano passado contra o regime. Recorde-se que a Tailândia está sob uma ditadura militar desde um golpe de Estado a 22 de maio de 2014. E é claro que o governo decidiu banir o filme no país, não fosse o povo adotar mais ideias rebeldes.

Nos Estados Unidos, simpatizantes de esquerda e de direita utilizam os ideais do filme como mais lhes convém para apelar ao eleitorado jovem. Os da esquerda espalham a mensagem de que os rebeldes do filme respeitam a natureza e recusam viver sob um sistema de injustiça social. Os da direita libertária norte-americana acham que a resistência é claramente contra um Estado esquerdista baseado no culto da personalidade. O jornal inglês The Telegraph adverte para o facto de ter de haver um certo ceticismo em relação à avaliação feita pelos políticos. Ou não fossem as conclusões retiradas da mensagem destes filmes adaptadas ao sabor das ideologias de ambos os espectros políticos.

Confuso? O Observador faz-lhe aqui o resumo das principais ideias que pode encontrar nos filmes e que são identificadas por simpatizantes políticos americanos como sendo de direita ou de esquerda, consoante a ideologia que defendem.

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Katniss é de direita porque:

  • Segundo a direita liberal norte-americana, a heroína luta contra um governo corrupto que aplica demasiados impostos para sustentar a vida luxuosa do Capitólio (o mesmo discurso que aplicam contra o Capitólio em Washington);
  • Os da direita conservadora reconhecem no Estado de Hunger Games uma clara violação à Constituição norte-americana, onde se refere que a corrupção e a tirania surgem de um poder que não é controlado por outros poderes;
  • A fazer lembrar, por exemplo, a Coreia do Norte ou a União Soviética estalinista, existe o rosto do Presidente Snow por todo o lado.

Katniss é de esquerda porque:

  • É o rosto de uma revolução que luta contra um Estado opressor da liberdade de expressão;
  • Nutre um profundo sentimento de injustiça por ser governada por uma elite decadente e sem qualquer empatia com povo;
  • Os militantes do movimento Occupy Wall Street consideram que o filme é um espelho do que acontece quando existe desigualdade económica e injustiça social.

Desengane-se, porém, quem considera que existe uma utopia política na conclusão desta saga. Suzanne Collins, que escreveu os livros que inspiraram o filme, dá-nos, em vez disso, uma visão fatalista da natureza humana. O ponto principal da saga será este: a violência gera mais violência, sendo que não existem heróis, nem ideais políticos que nos valham.

[Veja aqui o trailer do The Hunger Games: Mockingjay – Part 2]