O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, afirmou, esta quarta-feira, que o que aconteceu no Hospital de São José, no passado dia 14 de dezembro, “é incompreensível”, acrescentando que não se tratou apenas de uma questão financeira ou de falta de recursos humanos, embora tenha admitido que “a restrição financeira, em alguns aspetos, foi longe demais”.

“É incompreensível o que aconteceu e não pode voltar a acontecer”, começou por afirmar o governante, em visita ao Instituto Português de Oncologia, em Lisboa. “A restrição financeira na saúde, em alguns aspetos, foi longe demais, e em área que deviam ter sido poupadas, mas neste caso não se trata apenas e só de uma questão financeira, trata-se de um problema de organização”, acrescentou Adalberto Campos Fernandes, lembrando que “a região centro e a região norte funcionam sem nenhum tipo de problema”.

O ministro garantiu ainda que a sua equipa “vai continuar com a máxima energia a reconstruir o Serviço Nacional de Saúde, no sentido de garantir que a prontidão esteja assegurada”.

“Tomado conhecimento foram dadas instruções imediatas para que as restrições fossem ultrapassadas. Tem que ver com a possibilidade de ter equipas completas que estejam de prontidão ao fim de semana para responder a um número de casos que em termos anuais é baixo, mas nem que fosse um caso, eu diria, essa prontidão teria de estar assegurada”, defendeu o ministro que disse ter recebido dos administradores hospitalares de Lisboa a garantia de que “se iam articular para que a resposta e a prontidão fosse assegurada de imediato”.

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“Conto que a partir desta semana a circunstância de resposta esteja devidamente assegurada.”

Ministro fala em atitude ética por parte dos administradores

Uma palavra ainda para a atitude tomada pelos três administradores – o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Central (que inclui o São José) e o o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (que inclui o Santa Maria) – que ontem mesmo apresentaram o pedido de demissão.

“Pela primeira vez os dirigentes assumem uma atitude ética de desprendimento dos lugares e, embora não tenham nenhuma responsabilidade efetiva do ponto de vista material, assumem perante o País e a tutela que alguma coisa nao funcionou bem e isso é um sinal novo na democracia portuguesa e na gestão do SNS”, rematou Adalberto Campos Fernandes.

Quanto ao motivo pelo qual o INEM transportou o jovem de 29 anos de Santarém para o São José e não para Coimbra ou Porto, que poderiam garantir a cirurgia ao fim de semana, o ministro não quis adiantar muita matéria, uma vez que os processos de averiguação e inquérito estão a decorrer. Apenas adiantou que “do ponto de vista clinico já me foi referido que estes doentes têm uma série de riscos de vida quando são transportados ou mobilizados para distâncias que sejam excessivas”.

David Duarte, de 29 anos, deu entrada no Hospital de São José na sexta-feira, 11 de dezembro, ao final do dia, com um aneurisma e a cirurgia – que era urgente – só poderia ser feita na segunda-feira seguinte porque não há dois anos que aquele hospital não tem equipa de neurocirurgia-vascular, nem de neurorradiologia de intervenção, durante o fim de semana. Nem aquele, nem nenhum em Lisboa. O doente acabou por não aguentar e faleceu na madrugada do dia 14. Este episódio levou já três administradores a apresentarem demissão.