“Anomalisa”

Charlie Kaufman, provavelmente o argumentista mais imaginativo, mais descentrado e mais fantasioso a trabalhar hoje no cinema americano, que escreveu “Queres Ser John Malkovich?” para Spike Jonze, “O Despertar da Mente” para Michel Gondry e “Confissões de uma Mente Perigosa” para George Clooney, meteu-se a realizar em 2008 com o elefantino e pretensioso “Sinédoque, Nova Iorque”, e partilha agora essa tarefa com Duke Johnson nesta sua segunda longa-metragem. “Anomalisa” é uma animação de volumes imagem a imagem apontada a um público adulto, com uma história reconhecidamente “kaufmaniana”, desde a inquietação existencial e de identidade que assalta a personagem principal — talvez o grande tema unificador da escrita cinematográfica de Kaufman –, até pormenores insólitos como apenas os bonecos de David Thewlis e Jennifer Jason Leigh falarem com as suas vozes, estando todas as outras a cargo do mesmo actor, Tom Noonan. Infelizmente, toda a criatividade formal e abundância de weirdness de “Anomalisa” não conseguem ocultar a banalidade afectada de um argumento a armar ao “profundo”, que não consegue superar os clichés do sentimento de angústia, alienação e vazio do homem contemporâneo. O facto de serem bonecos animados em stop motion e não actores de carne e osso a figurá-los e articulá-los, não faz a menor diferença. O aturadíssimo, detalhadíssimo, trabalho de animação tradicional, esse, é inatacável, e “Anomalisa” inclui uma cena íntima entre os bonecos de Thewlis e Leigh infinitamente mais delicada, comovente e convincente do que as equivalentes que costumamos ver nos filmes realistas.

https://youtu.be/DT6QJaS2a-U

“The Revenant-O Renascido”

O mexicano Alejandro González Iñárritu levou o ano passado três Óscares para casa graças a “Birdman”, e arrisca-se a levar ainda mais este ano com “The Revenant-O Renascido”, que tem doze nomeações para as estatuetas da Academia. O filme baseia-se numa história passada nos EUA, no início do século XIX, e cuja autenticidade já foi contestada, a do guia de um grupo de caçadores de peles que foi atacado por um urso em território inóspito, cheio de índios hostis e no pino do Inverno, e deixado para trás pelos companheiros como morto, mas que sobreviveu e conseguiu regressar a casa, após muitas vicissitudes. (Recorde-se que esta história foi já filmada em 1971 por Richard C. Sarafian em “Um Homem na Solidão”, com Richard Harris no papel principal). Leonardo DiCaprio interpreta o guia Hugh Glass no filme de Iñarritu, todo fotografado com luz natural por Emmanuel Lubezki e visual e tematicamente devedor de Terrence Malick e das fitas de “fim do mundo” de Werner Herzog. “The Revenant: O Renascido” teve uma rodagem atribuladíssima, onde equipa técnica e actores estiveram expostos a condições extremas de clima e na natureza, e foi escolhido pelo Observador como o filme da semana, podendo ler a crítica aqui.

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