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Marco Paulo é dos mais populares cantores portugueses de sempre
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Marco Paulo é dos mais populares cantores portugueses de sempre

Pedro Granadeiro/Global Imagens

Marco Paulo é dos mais populares cantores portugueses de sempre

Pedro Granadeiro/Global Imagens

De João Simão a Marco Paulo, o romântico que só queria ser cantor (1945-2024)

Os caracóis e o jeito com o microfone ficaram famosos mas foi a voz que garantiu a Marco Paulo um lugar na história da música portuguesa. O cantor e apresentador morreu aos 79 anos.

Contam-se talvez pelos dedos de uma mão os portugueses que não sabem de cor os refrões de canções como “Eu Tenho Dois Amores” ou “Maravilhoso Coração, Maravilhoso”. Durante mais de 50 anos, Marco Paulo gravou sucessos atrás de sucessos, tornando-se um dos mais populares e acarinhados cantores portugueses, com vendas que ultrapassam os cinco milhões de discos. Temas como “Ninguém Ninguém” (o seu primeiro disco de ouro), “Joana”, “Taras e Manias” ou “Nossa Senhora” fizeram com que acumulasse uns impressionantes 140 discos de platina, ouro e prata e até um de diamante. Fazendo saltar o microfone de mão em mão (o seu movimento de marca), Marco Paulo percorreu Portugal e o mundo, atuando junto das comunidades portuguesas de países como França, Alemanha, Venezuela, Estados Unidos da América ou Canadá.

O sucesso chegou-lhe cedo — aos 18 anos já era conhecido — mas a saúde, nem sempre estável, pregou-lhe muitas partidas. A partir dos anos 90, o cantor enfrentou vários problemas graves e após o cancro na mama com que foi diagnosticado em 2020 ter alastrado para o pulmão direito, morreu esta quinta-feira aos 79 anos.

Morreu Marco Paulo, um dos mais populares cantores portugueses

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Apesar da gravidade da doença, Marco Paulo manteve-se positivo até ao fim. Quando se encontrava internado devido a problemas respiratórios, mostrou-se otimista com o tratamento e esperançoso de que teria alta em breve. “Com certeza que Nossa Senhora e Deus, a quem me agarro muito, me vão dar mais um bocadinho de tempo para viver”, disse numa entrevista em junho de 2022, quando confirmou que tinha cancro no pulmão.

[“Maravilhoso Coração, Maravilhoso”, uma das canções mais conhecidas de Marco Paulo:]

“Eu era um jovem e tinha um sonho”: do palco da festa de Alenquer para o do Festival da Canção e a Valentim de Carvalho

Nascido João Simão da Silva a 21 de janeiro de 1945, no concelho de Mourão, no Alentejo, Marco Paulo estreou-se nos palcos quando tinha 12 anos, nas festas de Alenquer, onde cantou a popular “La Campanera”, do cantor espanhol Joselito, o seu herói de infância. Em entrevista ao Observador em 2019, o artista recordou o momento em que decidiu decorar a canção, após assistir ao filme “O Pequeno Rouxinol”, no cinema de Alenquer. “Tinha gostado tanto da experiência de ver o Joselito a cantar [no filme ‘O Pequeno Rouxinol’, de Antonio del Amo], fiquei tão encantado, os meus olhos brilharam tanto naquele momento, eu no cinema a ouvir aquela voz de criança, maravilhosa, aquela voz brilhante. E disse assim: ‘Tenho de aprender esta música'”, contou ao Observador.

[Já saiu o quarto episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo e aqui o terceiro.]

Para decorar a canção, o pequeno Marco Paulo, que só teve oportunidade de assistir uma vez ao filme, sentava-se num degrau à porta da sala de cinema, “ouvia a voz dele e decorava as palavras”. “O Pequeno Rouxinol” esteve em exibição em Alenquer durante cerca de 15 dias. “Foi assim que mais tarde entrei num palco, em Alenquer, e cantei a ‘La Campanera’ em espanhol. Não vou dizer que era uma imitação do Joselito, mas aproximava-se muito”, constatou o artista ao Observador.

Marco Paulo em 1973, no Porto

Arquivo JN

Durante a infância e juventude, Marco Paulo cantou em várias coletividades e teve aulas de canto com a soprano Corina Freire, numa altura em que vivia com a família no Barreiro. No início dos anos 60, foi “descoberto” durante um ensaio por Cidália Meireles, que tinha integrado o famoso trio Irmãs Meireles, com as irmãs Rosária e Milita, que alcançou grande sucesso no Brasil. Foi no programa “Tu Cá Tu Lá com Cidália” que Marco Paulo fez a sua estreia televisiva. Em entrevista à Record TV, o cantor contou que, como não tinha repertório, Cidália Meireles teve de lhe arranjar um. “Pediu a dois compositores, Eduardo Damas e Manuel Paião, que escrevessem uma música para mim. Eles escreveram e eu fui ao programa.” Marco Paulo, que não compunha ou escrevia letras, trabalhou ao longo dos anos com vários produtores e compositores, que o ajudaram a construir uma carreira de sucesso.

A atuação no “Tu Cá Tu Lá” correu tão bem que, passadas duas semanas, Marco Paulo regressou ao programa. “Foi nessa altura que a minha editora, a Valentim de Carvalho, falou com o meu primeiro produtor, o Mário Martins, porque queriam que fosse imediatamente gravar o primeiro disco”, disse na entrevista à Record TV. “Eu era um jovem e tinha um sonho, tinha o talento para fazer da voz a minha profissão, mas tinha de rodear-me de alguém que pudesse ajudar, e foi quando apareceu a Valentim de Carvalho e o Mário Martins”, afirmou numa outra conversa com o Observador, em 2021.

Uma entrevista inédita com Marco Paulo: “Vão sempre lembrar-se que há uns quantos anos havia um cantor que emocionava as pessoas”

O primeiro lançamento, um EP, saiu em 1966, no mesmo ano em que participou no Festival da Figueira da Foz, alcançando o terceiro lugar com “Vida, Alma e Coração”.“A partir daí, nunca mais parou”, constatou Marco Paulo na mesma estação de televisão. “Todas as músicas foram sucessos, eu vendia discos sem as pessoas terem gira-discos, compravam pela capa sem saber o que estava lá dentro”, disse ao Observador.

[Marco Paulo no Festival da Canção em 1967, onde interpretou o tema “Sou Tão Feliz”:]

Em 1967, estreou-se no Festival da Canção (então Grande Prémio TV da Canção Portuguesa), com a canção “Sou Tão Feliz”, de António Sousa Freitas e Nóbrega e Sousa, lançando-se depois como cantor profissional. O tema foi posteriormente lançado em single. Em 1970, representou Portugal nas Olimpíadas da Canção de Atenas, com “O Homem e o Mar”.

Marco Paulo recebeu o primeiro de vários discos de ouro em 1978, com com o single “Ninguém, Ninguém / Canção Proibida”. Um dos seus maiores sucessos até hoje, “Eu Tenho Dois Amores”, foi lançado em 1980. O cantor gravou a cação a contragosto (não gostava da música nem da letra). O single vendeu 195 mil exemplares e valeu-lhe três discos de ouro e um de prata.

[“Eu Tenho Dois Amores”, o maior sucesso de Marco Paulo:]

Na mesma entrevista ao Observador, o artista lembrou como, no início, o seu sucesso não foi bem recebido. “As pessoas ficavam um bocado admiradas, perguntavam-se ‘porquê o sucesso’, eu respondia ‘é a minha voz’”, afirmou. “Não sou louro, de olhos azuis e não sou muito alto, mas a minha voz possivelmente dá as emoções que as pessoas querem ouvir. Por isso é que sorriem, choram. Representar é a minha maneira de entregar às pessoas aquilo que canto.”

“Muito divertido”, uma pessoa de “fé” e uma “grande referência da cultura portuguesa”. As reações à morte de Marco Paulo

Marco Paulo regressou ao Festival da Canção em 1982, com “É o Fim do Mundo”, de Fernando Guerra e João Henriques, numa altura em que se tinha afirmado como uma das vozes mais populares do panorama musical português. Foi nos anos 80, a sua época dourada, que lançou algumas das suas canções mais populares, como “Anita”, “Flor Sem Nome / Cá Se Faz, Cá Se Paga” ou “Morena, Morenita”. Em 1984, editou Romance, o seu primeiro disco de platina, que incluía uma versão em português de “I Just Called To Say I Love You”, de Stevie Wonder.

[“Só Falei Para Dizer que Te Amo”, uma versão em português de “I Just Called To Sai I Love You”, de Stevie Wonder:]

A década de 1990 começou com o lançamento de De Todo o Coração, que incluía os temas “Ai Ai Ai Meu Amor” e “Um Amor Em Cada Porto”. Em 1991, saiu uma das suas canções de maior êxito, “Taras e Manias”, e ainda a coletânea Maravilhoso Coração.

Depois de uma paragem obrigatória de um ano, a primeira desde o início da carreira, para se submeter a tratamentos contra o cancro no cólon, o cantor regressou à música em 1997, com o álbum Reencontro. Desde então, lançou mais de uma dezena de discos, entre álbuns originais, ao vivo e coletâneas. O seu contributo para a música portuguesa foi reconhecido em maio de 2022, quando foi condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelos seus 50 anos de carreira.

Marco Paulo manteve paralelamente uma carreira como apresentador de televisão, iniciada em 1993 com o programa “Dois Amores”, um sucesso de audiências durante dois anos. Apresentava com Ana Marques o programa “Alô Marco Paulo” na SIC, transmitido aos sábados. Foi também na SIC que estreou, em janeiro de 2023, uma minissérie produzida pela Coral inspirada na sua vida e carreira.

Marco Paulo no espetáculo "Canção Popular 97", no Coliseu de Lisboa

Manuel de Almeida/LUSA

Um “lutador” que nunca perdeu a esperança na luta contra o cancro

Marco Paulo enfrentou vários problemas graves de saúde ao longo dos anos. “Não quero usar a palavra guerreiro, mas sou um lutador”, disse em entrevista à TV Guia. Em 1996, foi diagnosticado com cancro no cólon. O diagnóstico foi feito na sequência de uma consulta de emergência, por causa de um problema numa perna. Marco Paulo, que estava com dificuldades em mexer a perna direita, julgou que se tratava apenas de um problema de coluna, mas o médico descobriu que tinha um tumor “do tamanho de uma laranja”. Foi operado em junho desse ano e submetido a sessões de quimioterapia. Regressou aos palcos um ano depois, recuperado, mas sem a sua imagem de marca: os caracóis.

Em 2020, o artista confirmou que tinha sido novamente diagnosticado com cancro, dessa vez da mama, o que o levou a ser submetido a uma nova intervenção cirúrgica e a um novo tratamento de quimioterapia. Em entrevista ao jornal da tarde da TVI, em fevereiro de 2020, o cantor admitiu que nunca pensou que fosse possível ter cancro na mama, uma doença que sempre associou mais às mulheres. Foi por essa razão que, ao início, quando começou a sentir um caroço sobre o mamilo direito, desvalorizou. “Os homens que tomem cuidado”, alertou.

“É mais uma luta que tenho de travar”, afirmou o cantor, que dois anos antes tinha sofrido um princípio de AVC durante um concerto no Coliseu do Porto. Pensou que ia morrer em palco. Antes disso, em 2017, passou por um outro susto: teve de ser operado para remover uma massa no rim direito.

Em 2022, Marco Paulo descobriu que tinha um problema num pulmão. Em entrevista à TV Guia em junho do ano passado, explicou tratar-se de “uma coisa muito localizada”, que seria alvo de um tratamento também “localizado”. “A minha médica dá-me esperança. (…) Dão-me esperança de que vai ser ultrapassado”, disse, sem especificar o problema em causa, que agora sabe tratar-se de metáteses que surgiram no pulmão direito na sequência do cancro na mama.

Marco Paulo durante um concerto no Coliseu do Porto em 2018

Pedro Granadeiro/Global Imagens

A situação terá piorado no mês de março de 2023. Em declarações ao Correio da Manhã, no dia 10, Marco Paulo confessou que os médicos estavam preocupados e que se sentia muito cansado e sem forças. Impossibilitado de participar nas gravações de “Alô Marco Paulo”, a SIC transmitiu a 18 de março uma emissão especial do programa, dedicada ao cantor. “Obrigada por se ter juntado a nós neste abraço a Marco Paulo. Foi uma emissão muito especial do ‘Alô Marco Paulo’. Força, Marco Paulo!”, refere uma publicação feita nesse dia no Instagram oficial da SIC.

O agravamento do estado de saúde do cantor e o súbito aumento dos valores do cancro obrigaram à antecipação de um exame ao pulmão que estava marcado para a semana de 20 de março. Nesse mesmo dia, o Correio da Manhã noticiou que o artista estava internado com dificuldades respiratórias num hospital em Lisboa, onde estava a fazer drenagem de líquido no pulmão, e que devia continuar sob acompanhamento médico por mais dois ou três dias. Em declarações ao mesmo jornal, Marco Paulo mostrou-se otimista com o tratamento, revelando que ia mudar de medicação.

O regresso de Marco Paulo aos palcos estava marcado para 11 de março de 2023. No final de janeiro, foi anunciado que o concerto no Campo Pequeno, em Lisboa, de apresentação do último álbum de originais, Por Ti, lançado em novembro de 2022, ia ser adiado para 21 de outubro, mas também não chegou a realizar-se por motivos de saúde. Nos últimos meses, o cantor esteve ausente do programa de televisão com o próprio nome, na SIC, continuamente entre tratamentos.

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