José Veiga não deverá conseguir comprar o Banco Internacional de Cabo Verde ao Novo Banco mas essa nunca seria a sua estreia na banca. Veiga esteve na origem do Banque Africaine pour l’industrie et le Commerce (Banco Africano para a Indústria e o Comércio) em 2013 e fez mesmo parte da administração daquele que é considerado o principal banco privado da República do Benim alegadamente em representação da família de Denis Sassou Nguesso, presidente da República do Congo.
São precisamente essas relações próximas entre Veiga e Denis Sassou Nguesso que estão a ser passadas a pente fino na investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária denominada Operação da Rota do Atlântico.
Com um capital social de 15,2 milhões de euros, o Banco Africano para a Indústria e o Comércio (BAIC) foi inaugurado no em novembro de 2015 com pompa e circunstância – e com José Veiga em lugar de destaque. Apresentado como um banco pan-africano, o BAIC terá nascido, segundo a imprensa local, da cooperação entre Boni Yayi, presidente do Benim, e Denis Sassou Nguesso, presidente da República do Congo. Foi precisamente o presidente Yayi quem liderou as cerimónias de inauguração da sede e da primeira agência do BAIC, em Cotonou, tendo José Veiga ao seu lado quando cortou a fita vermelha da inauguração.
Apesar de formalmente aparecer como representante de uma empresa suíça que negoceia o petróleo da República do Congo, Veiga é visto como o ‘homem’ de Denis Sassou Nguesso no banco.
Durante a cerimónia de inauguração, Veiga continuou a ter um papel de destaque. Sentou-se ao lado do presidente Boni Yayi, como o Correio da Manhã noticiou e como podemos ver na foto.
Além do site oficial do Governo da República do Benim ter destacado a presença de José Veiga, também a televisão pública do Benim dedicou atenção ao ex-empresário de futebol durante a reportagem de 16 minutos sobre a inauguração do BAIC.
Veiga representante de empresa comercializadora de petróleo
José Veiga foi administrador do BAIC até fevereiro de 2014. Segundo o Registo Comercial do Benim, Veiga foi substituído por Yaya Moussa na administração do banco, tendo este último assumido o cargo de presidente do Conselho de Administração.
O empresário, contudo, continuou a ter uma ligação formal ao BAIC como representante permanente do accionista Atlantic International, juntando-se assim a Ikenna Okoli, um banqueiro nigeriano que gere a empresa Philia Trading, Limited.
A Atlantic International é uma empresa suíça, com sede em Genebra, ligada à comercialização de petróleo – um trader –, tendo como principal accionista a Atlantic Industrial & Trading Pte Ltd, de Singapura, ligada à comercialização de produtos agrícolas e derivados do petróleo, assim como a área financeira de gestão de activos.
A Philia Trading, Limited, por seu lado, é igualmente um trader de petróleo com sede em Genebra, estando ligada a diversos casos de alegados desvios de fundos públicos na Nigéria e na República do Congo. De acordo com um relatório da organização não governamental suíça Declaração de Berna, citado pelo jornal nigeriano Premium Times, existem suspeitas de que empresa pública de petróleo da Nigéria (Nigerian National Petroleum Corporation) terá perdido mais de 6,8 mil milhões de dólares (6,1 mil milhões de euros) entre 2009 e 2011 para diversos traders suíços como a Philia. O mesmo terá acontecido com a congénere congolesa, a CORAF, a quem são imputadas alegados desvios de fundos de mais de 600 milhões de dólares (540 milhões de dólares) entre 2011 e 2012.
Segundo o relatório da ONG Declaração de Berna, a sociedade Philia Trading, Limited terá como accionista um testa-de-ferro de Denis Christel Sassou Nguessoa, filho do presidente da República do Congo: Jean-Philipe Ndong. É importante referir que Denis Christel é o principal administrador da empresa pública CORAF, que detém os principais poços de petróleo da República do Congo.
De acordo com relatos da imprensa local, José Veiga aparece igualmente no BAIC como representante da família de Saossou Nguessoa – o homem que lidera com mão-de-ferro os destinos da República do Congo desde 1997, depois de já o ter feito entre 1979 e 1992.
A importância que José Veiga e os investidores congoleses que representa têm dado à área financeira prende-se, segundo diversas fontes próximas da investigação a Veiga, com a necessidade de ocultar os proveitos alegadamente ilícitos que provinham da venda do petróleo da República do Congo. Este país é o quatro maior produtor africano de petróleo – matéria que domina 95% das suas exportações, segundo relatório da Declaração de Berna.
José Veiga continua detido no Tribunal Central de Instrução Criminal por suspeitas da prática de corrupção ativa no comercio internacional, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, esperando-se que esta segunda-feira sejam conhecidas as medidas de coação que lhe serão impostas, assim como aos igualmente arguidos Paulo Santana Lopes e à advogada Maria Barbosa.