A Comissão de Trabalhadores da TAP saiu insatisfeita da reunião com o secretário de Estado das Infraestruturas, defendendo que a transportadora deveria permanecer 100% pública e opondo-se ao acordo realizado entre o Governo e o consórcio Gateway.
“Satisfeitos não podemos estar porque não defendemos esta situação. Sempre defendemos e continuamos a defender, não só por uma questão de coerência, mas por uma questão de convicção, que a TAP teria de estar ao serviço da economia nacional e isso só era possível com uma TAP 100% pública”, afirmou o porta-voz da Comissão de Trabalhadores da TAP, José Manuel Caixaria.
O representante dos trabalhadores da transportadora aérea falava aos jornalistas no final de uma curta reunião com o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, no primeiro encontro com o Governo depois do acordo com o consórcio Gateway para que 50% do capital da empresa ficasse no Estado.
Questionado sobre se os funcionários estão mais tranquilos com esta posição do Estado na companhia aérea, José Manuel Caixaria disse que “sim, de alguma forma”, mas reiterou que a perspetiva da Comissão de Trabalhadores era que a empresa devia “manter-se 100% pública”.
O porta-voz disse ainda que a reunião deu para “esclarecer algumas coisas, limar algumas arestas”, mas que a Comissão de Trabalhadores não ficou “mais descansada” por isso.
Interrogado ainda sobre como é que o Estado vai poder intervir na TAP, José Manuel Caixaria disse que o Governo pode vir a ter um “papel de alguma regulação”, ou seja, “de intervir quando achar que alguma coisa não está bem, ou quando o nome da TAP possa estar em causa”.
O representante da Comissão de Trabalhadores mostrou-se ainda preocupado com a entrada de capital chinês na empresa e com os postos de trabalho da transportadora, mas ressalvando que “não há nada que diga que possam estar em causa” com a nova estrutura acionista da TAP.
O acordo alcançado entre o Governo e a Gateway prevê que o Estado pague 1,9 milhões de euros para ficar com 50% da empresa (em vez de 34%), enquanto o consórcio privado passe de 61% do capital da companhia para 45%, podendo chegar aos 50%, com a aquisição do capital à disposição dos trabalhadores.
O Estado passa ainda a nomear o presidente do conselho de administração da companhia aérea, composto por 12 elementos – seis escolhidos pelo Estado e seis pelo consórcio privado.
Já a comissão executiva, liderada por Fernando Pinto, terá três membros, nomeados pelos acionistas privados.
O semanário Expresso noticiou na sua edição de sábado que o “Governo deixa entrar chineses no capital da TAP”, sublinhando que o executivo de António Costa “assinou cláusula” para a HNA ter 10% da empresa.
Por outro lado, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, tem criticado a estratégia da TAP para o Porto e admitiu vir a “apelar ao boicote da região” à transportadora, acusando-a de ter em curso uma estratégia para “destruir o aeroporto Francisco Sá Carneiro”, com vista a construir em Lisboa “um novo aeroporto e uma nova ponte”.
Rui Moreira reuniu-se com o diretor de rotas da Ryanair na terça-feira para solucionar as rotas abandonadas pela TAP de Barcelona, Milão, Bruxelas e Roma, e a companhia aérea ‘low-cost’ anunciou também voos adicionais a partir do Porto para Barcelona, Milão e Bruxelas, as rotas que foram suspensas pela TAP, e Madrid, bem como uma nova ligação para Varsóvia (Polónia) a partir de outubro.
A TAP reiterou que as quatro rotas europeias canceladas a partir do Porto representavam um prejuízo de 8,02 milhões de euros, mas a 03 de fevereiro a Câmara afirmou que as ligações tiveram em 2015 uma “ocupação média de 90%”, representando “o transporte de perto de 190 mil passageiros, em 1.867 voos de ida e volta”.