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Um "ano pessoal" para o campeão

Este artigo tem mais de 5 anos

Um ataque de tubarão e a morte do irmão horas antes de competir no Hawai. O 2015 foi duro com Mick Fanning, que por isso decidiu ter um 2016 a meio-gás. O 3x campeão do mundo de surf vai descansar.

O australiano refletiu e chegou à conclusão que preciso de um tempo para "reagrupar e voltar a atiçar o fogo pelo surf". Fanning vai participar apenas "numa mão cheia" de eventos do circuito, em 2016, a começar pelos dois primeiros, na Austrália
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O australiano refletiu e chegou à conclusão que preciso de um tempo para "reagrupar e voltar a atiçar o fogo pelo surf". Fanning vai participar apenas "numa mão cheia" de eventos do circuito, em 2016, a começar pelos dois primeiros, na Austrália

NICOLAS PESCHIER/AFP/Getty Images

O australiano refletiu e chegou à conclusão que preciso de um tempo para "reagrupar e voltar a atiçar o fogo pelo surf". Fanning vai participar apenas "numa mão cheia" de eventos do circuito, em 2016, a começar pelos dois primeiros, na Austrália

NICOLAS PESCHIER/AFP/Getty Images

Uma vez cheio, é difícil continuar a carregar o saco. São nove meses, entre março e dezembro, a viajar pelo mundo com direito a poucas paragens. Está-se longe de casa, à distância de chamadas por Skype ou telefonemas da mulher, dos filhos e da família, enquanto se carregam pranchas entre aviões, aeroportos e ondas. E, a meio desta aventura, entrar nas águas de Jeffrey’s Bay, na África do Sul, e ter de se esquivar e pontapear um tubarão para, sabe-se lá como, sair do mar ileso. E também é, na última prova do circuito mundial, ter de surfar contra dois dos melhores do mundo (Kelly Slater e John John Florence), no Havai, horas depois de saber que o irmão mais velho morrera, a milhares de quilómetros dali.

O saco que Mick Fanning carregava às costas ficou pesado, em demasia. “O ano passado foi, sem dúvida, intenso. Cheguei ao fim e senti que não tinha muito mais para dar”, desabafa, olhar algo perdido, de quem está perdido nos pensamentos, no início do vídeo que fez com a World Surf League (WSL), para dar uma novidade — que o seu 2016 será “um ano pessoal”. Não serão 12 meses sabáticos, como há muito pensa fazer, mas cuja intenção foi sempre adiada por, teimoso, ter estado na luta pelo título nos últimos quatro anos. Será mais um ano a meio-gás. “Só me quero reagrupar e voltar a atiçar o fogo”, resumiu, com uma sinceridade que não se julga.

BREAKING NEWS: Mick Fanning announces 2016 season as 'Personal Year'

Posted by World Surf League on Wednesday, 24 February 2016

A mesma com que o australiano, de 34 anos, garantiu que isto não é um adeus. “Sem dúvida que isto não é uma reforma. Estou no circuito há 14 anos e tenho feito sempre o mesmo. Quero procurar novas opções. Se calhar até vou ter saudades do pessoal do circuito, voltar e surfar outros 15 anos”, suspeitou, já sorridente, a meio do vídeo que vai mesclando momentos da carreira que já o fez, por três vezes (2007, 2011 e 2013), campeão do mundo de surf. Como Fanning não consegue dizer um adeus nem um até já, perguntou à WSL se podia ir dizendo olá, só de vez em quando. E quem organiza o circuito mundial respondeu-lhe que sim.

A ideia do australiano é participar “numa mão cheia” de provas em 2016, livrando-se da volta ao mundo que os 11 eventos do circuito o obrigam a dar. “Não quero ficar sentado e pedir wildcards [convites dados a surfistas que não integram o circuito]. Não quero criar confusão. Se me posso qualificar com cinco provas, então tiro esse fardo à WSL”, explicou, acreditando que, se fizer metade do que fez em 2015 — venceu duas provas, em Bells Beach, na Austrália, e em Trestles, nos EUA –, conseguirá estar como deve ser no circuito, em 2017.

O que Mick Fanning não quer é roubar um wildcard que a WSL costuma dar aos surfistas que, por exemplo, se lesionam a meio do ano e perdem a hipótese de competir pela qualificação para o ano seguinte. “Não me sentiria bem em tirar o lugar a um dos meus companheiros se posso competir pela oportunidade de voltar ao circuito”, garantiu. Tão pouco conseguiria ficar em casa, rabo no sofá e comando na mão, a olhar para a televisão em Tweed Heads, enquanto via os amigos a surfarem na onda de Snapper Rocks, nem a dois quilómetros de local onde vive. “Daria em maluco se não pudesse ir lá surfar”, confirmou. Em Snapper (10-21 de Março) e em Bells Beach (24 de Março a 5 de Abril), perto de Melbourne, onde se realizar a segunda etapa do circuito. “A partir daí, sinto que tenho de tirar um tempo e descansar do circuito, sair da bolha e perceber onde está a minha cabeça”, resumiu.

Depois, logo se vê. Mas australiano — que já venceu duas vezes na Praia de Supertubos, em Peniche (o Observador até já falou com ele por lá), onde desde 2009 se realiza a etapa portuguesa do circuito –, parece estar disposto a regressar já este ano a Jeffrey’s Bay. À praia sul-africana onde, em abril, foi atacado por um tubarão quando estava na água com Julian Wilson, na final da prova. “Quero lá voltar. Sinto que há algo lá que quero enfrentar. Quero garantir que risco essa da lista. Provavelmente não já não irei lá surfar de novo antes do dia nascer. É mais uma questão de saltar lá para dentro, surfar uma ou duas vezes, e pronto, até ao ponto em que te começas a sentir confortável outra vez”, confessou, ao tocar no trauma do qual se tem tentado livrar.

Fanning sabe que, no dia em que voltar a remar para as ondas de Jeffrey’s Bay, terá “muitos olhos” postos em si, de curiosos “a quererem ver que tipo de reação” o australiano terá. Mas antes e depois disso, passará o ano a descansar.

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