O sono não quis nada com ele. A cabeça, em choque, a tremer com o que lhe acontecera, fez com que a primeira noite após o episódio fosse passada “sem descanso”. Horas antes, Mick Fanning estava tranquilo, sentado na prancha, à espera de uma onda para surfar, quando um tubarão o atacou no ambiente onde sabia que o animal costuma ganhar ao homem. “Aconteceu-me mesmo? Ainda não consigo acreditar que saí dali intocado. Mentalmente, estou desvastado, mas com o tempo vou ficar bem”, disse, a 20 de julho, um dia após ser atacado por um tubarão nas águas frias de Jeffrey’s Bay, África do Sul, na final da sexta etapa do circuito mundial de surf. Agora era dar tempo ao tempo e esperar que a coragem o puxasse de volta ao mar.
Pelos vistos, demorou 11 dias a levá-lo de novo até às ondas. Mick Fanning, que já foi três vezes campeão mundial, fintou o trauma e aventurou-se. Regressou a casa, pegou na prancha, agarrou-se ao volantes e conduziu até Hastings Point, praia de Tweed Heads, em New South Wales, província do Este australiano, onde reside. Enfiou-se dentro de um fato e lá foi ele. “Primeiro surf, soube bem. Surfei sozinho, mas tinha o Andy no meu pensamento. Parabéns, irmão”, escreveu, na legenda da imagem que publicou no Instagram, no sábado.
Este Andy é Andy Irons, antigo surfista profissional, norte-americano, falecido em 2010. “Ainda vai demorar um bocado, mas sinto-me melhor a cada dia que passa”, disse, depois, ao Courier Mail, jornal australiano. O problema é que, nesse dia, Mick voltou a coincidir com um tubarão na água.
Aconteceu, por coincidência, logo quando estavam câmaras a acompanhá-lo — as da estação televisiva responsável pela versão australiana do programa “60 minutos”. Mick Fanning, 34 anos, estava na mesma praia, a surfar, com o apoio de uma mota de água, quando terá abandonado o mar, à pressa, por ter visto a barbatana de um tubarão. “Está ali, de fora, acabei de a ver”, exclamou, empolgado, já em terra, ao falar com um jornalista. É esta a história contada pelo trailer de um minuto e quatro segundos que o canal montou, a antecipar a reportagem que será transmitido esta domingo. Na praia, a assistir a este novo susto, até estava a mãe do surfista. Nesse dia, escreve o Courier Mail, outra praia da região chegou a ser encerrada devido à presença de um tubarão na água.
O australiano, atual segundo classificado do mundial de surf, entretanto, já voltou a entrar na água, na segunda e terça-feira — no segundo dia, aliás, conduziu sozinho até Snapper Rocks, praia onde, em fevereiro, arrancou a atual edição do circuito. “Está tudo bem. Estou só a tentar voltar à minha vida normal. O mar é um sítio fantástico e estou feliz por ter regressado à água”, confessou. “Estou feliz por estar em casa, por ver a família e os amigos. Temos tido um ano cansativo e tem servido mais para descansar do que para outra coisa”, explicou o australiano, antes de, uma vez mais, ter visto uma barbatana de tubarão nas mesmas águas onde surfava.
A próxima etapa do circuito mundial arranca a 14 de agosto, no Tahiti, à boleia das esquerdas tubulares de Teahupo’o. E Fanning já disse que “mal [pode] esperar” pela competição.