Está tudo a postos para o arranque da Monstra e os cartazes já estão enrolados a um canto, prontos para serem colados nas paredes. Na Casa do Cinema, em pleno Bairro Alto, uma espécie de cowork dos responsáveis pelos vários festivais de cinema da cidade, os programas do festival de animação começam a chegar em caixas.

No último andar, a equipa da Monstra, sentada em frente ao computador e liderada por Fernando Galrito, o diretor do festival, faz os últimos preparativos gráficos. Como já vem sendo hábito, o diretor não vai poder estar presente justamente no dia do começo do festival, na quinta-feira, 3 de março. Nos outros dias, também há que “repartir a atenção” entre aulas e festival.

É professor na ESAD – Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e o “compromisso com os alunos” fala mais alto, diz-nos. Além de que um dia podem ser esses alunos a apresentar filmes no seu festival, agora na sua 15.ª edição. “Os alunos merecem sempre o nosso maior respeito”, começa. “Estamos a formar pessoas e pessoas que um dia queremos que sejam os eleitos deste festival.”

Este ano, por exemplo, “Senhor Jaime”, a história de um “octogenário apaixonado por literatura e contos tradicionais”, na competição de curtas portuguesas do festival, é de um ex-aluno seu, Cláudio Sá. E é precisamente também este ano que se comemoram 30 anos desde a realização de “Evasão, Invasão”, a sua primeira curta-metragem de animação, premiada no Cinanima, em Espinho.

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Fernando Galrito no espaço a partir do qual coordena o festival

Fernando Galrito no espaço a partir do qual coordena o festival

“Introdução à Animação”, “Projeto de Animação”, são várias as disciplinas que leciona, tanto no curso de Som e Imagem, como no de Artes Plásticas da universidade e muitos convites para masterclasses e palestras pelo mundo fora, “da China ao Brasil”. A nós deu-nos uma aula diferente, relâmpago, a de Animação Para Totós, com 5 passos essenciais a ter em conta no mundo da animação.

Não faz sentido imitar a realidade

“O cinema de animação tem uma característica importante e essa é sempre a primeira lição que costumo dar nas primeiras aulas: Nós gravamos imagem por imagem, para alguma coisa que vai ser projetada sobre um ecrã a 25 imagens por segundo.

É essa revelocidade que vai criar no nosso cérebro a ilusão de movimento. Na verdade, todos os movimentos são ilusão, mas com a diferença de que, no cinema de animação, essa ilusão é criada pelo animador.

Se criamos os movimentos imagem por imagem, não faz sentido nenhum criar movimentos miméticos, ou seja, imitar a realidade. Aquilo que é interessante, e que é a primeira coisa que temos de saber, é que podemos reinventar o movimento. Se estamos a trabalhar com uma arte que tem como matéria-prima o movimento, ele deve ser uma constante reinvenção.”

Há que dar liberdade ao espetador

“Não podemos ter medo de ser completamente subversivos. E a palavra subversão nem sempre está ligado a coisas negativas. Também tem muito a ver com a liberdade criativa e com a liberdade que damos ao espetador quando ele está a ver os nossos filmes.

Se criarmos essa liberdade de olhar no espetador, mesmo com os movimentos que criámos, e que não se parecem com nada, podemos dizer o que queremos, mas deixamos muita liberdade ao espetador.”

Temos de dizer qualquer coisa ao mundo

“Apesar de estarmos a trabalhar só com linhas, pontos e movimentos que não existem, eles devem agitar as pessoas e dizer qualquer coisa ao mundo.”

Impressionarmo-nos

“Outra das lições fundamentais é termos a capacidade de ficarmos impressionados com o nosso trabalho. Um mestre da animação russa dizia-me que se não ficarmos impressionados com o nosso trabalho, não vamos conseguir impressionar os outros, e isso é fundamental.”

O óbvio

“É preciso gostar muito daquilo que se faz. As pessoas vão sentir isso no ecrã.”

A Monstra acontece entre 3 e 13 de Março em vários locais de Lisboa. Os bilhetes, a 4 euros por sessão, podem ser comprados com antecedência no Cinema São Jorge, Cinema City Alvalade e Cinema Ideal. + info em www.monstrafestival.com