Os ‘rankings’ também enganam e Gastão Elias é a prova disso. Nas últimas semanas, o 121.º jogador da hierarquia deu passos firmes, ultrapassando três fases de qualificação para entrar nos quadros principais de três torneios ATP e chegar, apenas pela terceira vez na sua carreira, a primeira fora de portas, a uns quartos de final no principal circuito do ténis mundial, em São Paulo.
“Tive algumas vitórias consecutivas sobre ‘top 80’, o que quer dizer que tenho nível para jogar com jogadores assim. Estive quase a ganhar a um ‘top 20’ [o austríaco Dominic Thiem], o que não quer dizer que podia estar nos 20 primeiros, só que naquele dia poderia estar a jogar melhor do que ele. No geral, acho que o meu nível está no ‘top 80′”, assumiu o número dois nacional, que hoje joga precisamente contra Thiem, na jornada inaugural da primeira eliminatória do Grupo I da zona euroafricana da Taça Davis.
Olhando para a forma recente, Elias sabe que este é o ano em que tem maior possibilidade de entrar na elite dos 100 primeiros do ténis mundial, uma barreira que esteve quase a quebrar em maio de 2013, quando se situou na 103.ª posição.
“Ganhei muitos pontos no final do ano passado, comecei este ano também a ganhar muitos pontos e tenho agora uma grande parte do ano sem pontos para defender, o que é ótimo. Tenho a certeza de que se continuar a jogar a este nível farei, mais cedo ou mais tarde, farei parte dos primeiros 100 do ‘ranking'”, explicou à agência Lusa.
Com o seu jeito otimista e sempre positivo, o jovem da Lourinhã, que nesta fase da temporada trocou os ‘challengers’ pelas fases de qualificação dos torneios ATP, não desespera com a ascensão lenta na hierarquia mundial.
“É normal, é uma fase por que todos passam. Jogar o ‘qualifying’ é sempre difícil, porque jogas muitos jogos e ganhas poucos pontos. Mas tem o seu lado positivo, na medida em que ao jogar muitos jogos, ganha-se muito ritmo. Isso também me ajudou. Cheguei aos quadros principais dos três últimos torneios com bom ritmo, com boas vitórias. Obviamente, a parte negativa é o físico. Quando começas o torneio já começas com alguma fadiga e os outros estão completamente frescos”, ressalvou.
Ainda assim, o ‘Mágico’, alcunha que ganhou nas últimas eliminatórias da Taça Davis, não culpa o cansaço pelas derrotas, mas sim os eternos detalhes que procura limar.
“Nestes jogos de alto nível, é sempre importante melhorar, além dos detalhes, algumas coisas táticas, como jogar o mais agressivo possível. Às vezes, jogo demasiado defensivo e deixo os adversários começarem a controlar o ponto primeiro e isso faz toda a diferença”, reconheceu.
O novo fôlego do número dois nacional terá o dedo do argentino Fabian Blengino, o novo treinador que orientou tenistas como Guillermo Coria, antigo número três mundial, Agustín Calleri ou Carlos Berlocq, vencedor do último Portugal Open, e que passará a viajar com o português, radicado na Florida, a tempo inteiro.
“Faz diferença ter um treinador a acompanhar-me. Viajar algumas semanas sozinho não tem grande importância, não afeta tanto, mas é evidente que é bom ter o treinador o máximo de semanas possíveis. Eu no meu nível já sei ler muito bem o jogo, sei o que tenho de trabalhar, mas um treinador a ver o jogo de fora consegue ‘pescar’ outras coisas que eu não vejo”, acrescentou.
Considerado por muitos como um dos maiores prodígios do ténis português, Elias ri-se quando questionado sobre o estatuto.
“O que é que eu posso dizer? Não sei. Fico contente que haja pessoas que acreditem nisso, que acreditem no meu valor. Ser só prodígio não quer dizer muita coisa. Tem de se chegar lá, e como dizem os brasileiros, chegar, ver e vencer. Tenho de fazer jus ao nome”, concluiu, enquanto, de forma inesperada, o hino nacional começava a ouvir-se nas colunas do Pavilhão no Pavilhão Vitória Sport Clube, em Guimarães, onde vai decorrer entre hoje e domingo a eliminatória que vai opor Portugal à Áustria.
Ana Marques Gonçalves, da agência Lusa