Eram amigos há cerca de 25 anos e a relação forte não era só pessoal, chegou a ser política, quando Nicolau Breyner decidiu ser candidato autárquico em Serpa, no seu Alentejo. Paulo Portas descreve o amigo como um “homem excecional” ou melhor, como “um ser humano muito excecional”, que fica na história do teatro, do cinema, da televisão, sobretudo pelas telenovelas.
Primeiro, o homem. “Transformava qualquer alegria numa inundação de boa disposição. Qualquer tristeza numa alegria”, sintetiza Paulo Portas em conversa com o Observador. O ex-líder do CDS viu o amigo partir no dia a seguir a deixar a liderança do partido. “Antes de tudo o mais era um homem excecional, de uma grandeza, de uma bondade, de um altruísmo, de boa disposição, amigo dos amigos, independentemente das circunstâncias”, conta.
E as circunstâncias podiam ser boas ou más.
“Tinha uma infinita boa disposição. Humanamente era muito excecional. Era natural na relação com os outros, em particular nos momentos difíceis – deu-me muito alento em momentos difíceis. Era muito leal aos amigos independentemente da circunstância política. Havia sempre um telefonema, íamos almoçar muitas vezes”, conta.
Depois, o ator e o homem do cinema, do teatro e da televisão.”Não se pode falar da história do teatro, do cinema, das telenovelas e ate da televisão sem passar pelo Nico. Há um antes e um depois”, conta. “Ele foi produtor e realizador, mas tinha outra dimensão muito importante: Foi em primeiro e em último lugar um ator. Um actor incrivelmente versátil“.
Era simples e natural. Dava a mão a quem lhe pedia uma oportunidade. Uma coisa muito bonita nele era que deu oportunidade a gente com talento. Ele era um criador de talentos
E por fim, o homem com uma “ideia do país”. Foi o homem que quis ter uma ação cívica e por isso chegou a ser candidato à Câmara Municipal de Serpa, em 1993, pelo CDS. “Ele era um português saudável e um alentejano carinhoso. Houve um momento em que ele achou interessante ter um envolvimento cívico no Alentejo e achou interessante ir pelo CDS no coração do Alentejo, em Serpa”. “Se ele tivesse ganho, teria ficado presidente da Câmara. Foi uma campanha muito divertida. Abanou tudo”, sintetiza Portas.
Nicolau Breyner chegou aos 20% nessas eleições, mas não chegou a ser político. Mas isso não o impediu de ter espaço onde dizia o que pensava. Tinha “uma ideia do país”, diz Paulo Portas. A ação de Nicolau Breyner voltou a dar que falar na última escola de quadros do CDS, no verão passado, quando foi dar uma aula aos militantes da Juventude Popular. “Foi ensinar como falar em público. Ficou muito impressionado com dois ou três”. E a Paulo Portas, ensinou? “Não, mas dava muitas opiniões”.