São poucas as histórias que começam com um “era uma vez” e acontecem de forma inesperada. Mas, de vez em quando, aparece uma. Esta apareceu antes, muito antes, de um treinador espanhol dizer que Paulo Fonseca é “um dos melhores treinadores do mundo” e de nós lhe perguntarmos porquê. Aí ele respondeu que disse o que pensa e que pensa assim porque via no Braga uma equipa “atrativa”. Que lhe reconhecia jogadores a praticarem um futebol dos bons, que “gera emoções e paixões quando vais ao estádio assistir”. Foi assim que Julio Velázquez justificou o elogio que fez e continua a fazer ao homem que coloca os minhotos a jogar à bola.

Mais do que ter sido o primeiro a dizer tal coisa, este texto começa com o treinador do Belenenses por o espanhol ter razão. Emoções não faltaram em Braga e, de início, até foi por culpa dos nervos. A equipa precisava de ganhar e, caso deixasse uma bola entrar na sua baliza, teria a chata obrigação de ter de acabar o jogo com mais dois golos marcados que o adversário. E quem estava do outro lado eram os mesmos da semana anterior: uns turcos, treinados por Vítor Pereira, com mais dinheiro, mais nomes conhecidos e maior obrigação de fazer boa figura na Europa.

Foram eles que entraram duros, a pressionarem, insistentes em encostarem os minhotos à própria área e a não os deixarem trocar passes desde trás. A equipa ficava aflita, mas deixou de estar quando Vukcevic fez os turcos parecerem papel e rasgou um passe para o pé de Hassan marcar. A eliminatória ficava empatada e as emoções estalaram. O Fenerbahce não gostava do impasse. Aceleraram para Van Persie e Potuk ficarem perto de marcar e tornaram-se mais durinhos. O som do apito repetiu-se mais vezes e aconteceu o que os árbitros não gostam — reparou-se que estava ali um. Vítor Pereira não gostou do que ele decidia e, à segunda vez que refilou, o senhor Ivan Bebek mandou-o ir embora.

Braga vs Fenerbahce

Foto: HUGO DELGADO/Lusa

O português já viu da bancada o cruzamento que Nani fez na esquerda e que um desvio fez chegar a Potuk, que chutou para empatar o jogo e desempatar a eliminatória mesmo antes do intervalo. A chata obrigação para o Braga aparecia e Julio Velázquez, em casa, devia esfregar as mãos. De contente, porque o que dali se viu foram “emoções e paixões”. No festejo de Josué, maluco após bater o penálti que acordou os minhotos com o 2-1. No êxtase da equipa e dos adeptos quando Stojiljkovic matou uma bola no peito e, encostado à baliza, rematou para o 3-1. E no golpe final que Rafa deu a correr, aos 83’, para matar a eliminatória com o 4-1.

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O jogo e a Liga Europa ficavam quase perdidos para o Fenerbahce e os turcos resolveram perder a cabeça, também. Mehmet Topal, que marcara o único golo em Istambul, na primeira mão, já vira um cartão vermelho quando usou a mão para parar o remate de Rafa e dar o penálti aos bracarenses. Potuk foi ter com ele ao balneário depois de fazer um carrinho, por trás, a Pedro Santos, quando os adeptos já gritavam “olés” no estádio. A paixão nas bancadas fez as emoções ferver nos turcos, que ainda viram Volkan Sen também ser expulso e empurrar o árbitro antes de sair do relvado. E depois houve festa e um Julio Velázquez, suspeitamos, a sorrir no sofá lá de casa.

Porque via “um dos melhores treinadores do mundo” a colocar o Braga entre as 16 melhores equipas da Europa — sobram agora oito nesta competição, além das oito que estão na Liga dos Campeões, onde está o Benfica. A verdade é que Paulo Fonseca treina a equipa que, em casa, tem 12 golos marcados na Liga Europa e só ficar a perder para o Nápoles (16) e o Tottenham (13).

E que é o único em Portugal que ainda tem que pensar em quatro competições diferentes. E o que acontece a um treinador que, segundo ele, ganha a um Fenerbahce que “tem um dos melhores treinadores do mundo [Vítor Pereira, que acabou a dizer que o Braga ‘apanhou um belíssimo árbitro’] e um dos melhores plantéis da Europa”? Simples, torna-se melhor.

P.S. E agora que venha um de entre Borussia Dortmund, Liverpool, Villarreal, Shakthar Donetsk, Sevilha, Sparta de Praga e Athletic Bilbao.