Haverá ex-ministros portugueses e um Presidente de um país envolvido nos Panama Papers. A informação é avançada pelos dois meios de comunicação social portugueses do consórcio de jornalistas que investiga o escândalo, TVI e Expresso.

Estes clientes da Mossak Fonseca teriam sido angariados por Jorge Humberto Cunha Ferreira, de 37 anos, gestor de fortunas do Banque Internationale à Luxembourg, o banco mais antigo do condado.

Entretanto, na SIC, Ricardo Costa, diretor-geral de informação do grupo Impresa, esclareceu um ponto: analisando os documentos, ainda “não se consegue provar” que existam ex-políticos portugueses entre os clientes de Jorge Cunha. Nesta altura, diz Ricardo Costa, também não é possível garantir se “esses nomes vão aparecer”.

Segundo a TVI e o Expresso, o português Jorge Cunha terá contactado o filho de um dos fundadores da sociedade de advogados do Panamá em que se baseia todo este caso, a Mossak Fonseca. Michael Mossak e a gestora Kate Jordan encontraram-se com Jorge Humberto Cunha Ferreira, que queria adquirir companhias offshore em Hong Kong e no Panamá para clientes portugueses.

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Que clientes? “Alguns dos clientes finais do contacto em Portugal são ex-ministros e/ou políticos” e, por isso, “irão aparecer como PEP [Pessoas Politicamente Expostas] no processo de dever de diligência” [no processo de verificação de perfil, de ligações pessoais e profissionais e da origem do dinheiro], estará escrito no relatório.

TVI e Expresso falaram com o gestor de fortunas português, que nega a existência de políticos portugueses na sua lista de clientes.

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Imagem do Banque Internationale à Luxembourg a promover o seu Private Banking

Jornais contam como tudo acontecia

O primeiro encontro entre Michael Mossack, Kate Jordan e Jorge Humberto Cunha Ferreira terá acontecido a 20 de junho de 2013. Nesse dia, o português explicou o seu problema. “Normalmente, a Experta [que era uma filial do BIL] poderia arranjar empresas no PMA (Panamá) ou em HK (Hong Kong) e a conta no BIL (Banco Internacional do Luxemburgo), mas a Experta não pode mais atuar como intermediária e o Sr. Cunha está à procura de alternativas”, escreve Kate Jordan num relatório onde conta os detalhes da reunião.

E arranjar alternativas significaria precisamente o quê? Usar a Mossack Fonseca para adquirir companhias offshore no Panamá e em Hong Kong. Jorge Cunha, de resto, é descrito pela TVI e pelo Expresso como alguém que angaria e gere clientes de Portugal, África e América Latina desde 2012. E nesse primeiro encontro terá apresentado um cartão de visita irresistível à Mossack: ex-ministros e/ou políticos portugueses.

Sucederam-se os encontros até que Jorge Cunha terá alegadamente apresentado um novo trunfo na sua carteira de clientes: o Presidente de um país.

“Ele também queria discutir alguns negócios novos. Ele tem um cliente que é presidente de um país, portanto uma importante PEP (Pessoa Politicamente Exposta), que deseja incorporar 10 a 15 empresas panamianas com contas bancárias no Panamá”, escreve Kate Jordan num relatório com a data de 18 de julho de 2014. Foi o terceiro encontro entre os envolvidos.

No espaço de um ano, entre 2013 e 2014, avançam o Expresso e a TVI, a Mossack Fonseca arranjou 12 empresas de fachada ao português. Jorge Cunha referiu aos jornalistas do Expresso e da TVI clientes de países como Angola, Cazaquistão e Chile. No segundo encontro com os dois jornalistas portugueses responsáveis pela investigação, o gestor de fortunas trouxe novos dados e dúvidas: Jorge Cunha entregou a lista das empresas offshore criadas para clientes seus com o apoio da Mossack. A informação foi confirmada pelos repórteres, mas há ainda muitas peças do puzzle por unir.