Foi, no mínimo, um momento curioso. Eduardo Catroga, presidente da EDP em representação dos chineses da China Three Gorges Corporation, aproveitou a visita de António Costa à Fundação EDP para, pessoalmente, passar uma mensagem ao primeiro-ministro: “Os acionistas da EDP precisam de conversar consigo”, começou por lhe dizer sobre os seus patrões.
O diálogo foi captado pelas câmaras de televisão da SIC e pelos jornalistas presentes, embora fique por descortinar a que é que se referia exatamente Eduardo Catroga. Se à tarifa social na energia, que o atual Governo pretende alargar para um milhão de famílias, se à contribuição extraordinária sobre o setor energético que custou 62 milhões de euros à EDP só em 2015.
Certo é que Eduardo Catroga logo se prontificou a ajudar nas negociações. “Se você precisar de mim para eu dar aí alguns entendimentos… Eu disponho-me a isso. Porque eu tenho essa visão da política que não é partidária”, atirou o economista e ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva.
Algo desconfortável com a abordagem de Eduardo Catroga, António Costa limitava-se a acenar com a cabeça e a responder “muito bem, sim senhor”.
Recorde-se que Catroga foi responsável do PSD para as negociações com a troika e liderou a delegação do PSD que acordou com o Governo de José Sócrates a viabilização do Orçamento de Estado de 2011. Depois, chegou participar na elaboração da proposta para o programa eleitoral do PSD às eleições legislativas 2011.
Ainda recentemente, António Mexia, presidente executivo da EDP, criticou o modelo escolhido pelo Governo para a tarifa social da eletricidade e pressionou o Executivo socialista a rever a contribuição extraordinária sobre o setor energético. “Os tempos mudaram, parece claro. Se as medidas excecionais entram em conjunto, também saem em conjunto”, afirmou o gestor, recordando que esta taxa de 0,85% sobre os ativos “era para ser temporária” e, por isso, “não se pode tornar definitiva”.
Nem de propósito, na cerimónia de quarta-feira, dos “Prémios EDP solidária 2016”, António Costa não deixou de manifestar o seu “orgulho” em relação ao percurso e à dimensão económica da EDP, num discurso em que agradeceu à elétrica portuguesa por suportar agora uma maior fatura com a tarifa social de energia.