William Blinn, co-argumentista de “Purple Rain” (que em Portugal se intitulou, insipidamente, “Viva a Música”), queria que o filme se chamasse apenas “Dreams”. Mas Prince bateu o pé e insistiu junto de Blinn e do realizador e co-argumentista Albert Magnoli, que não só não gostava do título, como a palavra “purple” tinha que fazer parte dele, já que a fita tinha sido concebida para “puxar” pelo álbum homónimo, e para ser um cabide cinematográfico para pendurar a figura e o talento musical do próprio Prince, sendo ainda a sua estreia no cinema como ator. É claro que o músico tinha toda a razão. “Purple Rain” prosperou nas bilheteiras e Prince ganhou o Óscar de Melhor Banda Sonora Original em 1985.
No ano seguinte, Prince realizou a sua primeira longa-metragem, menos por desejo próprio do que por necessidade de circunstâncias. Mary Lambert, a realizadora de “Sob o Luar da Riviera”, um drama musical “rétro” passado na Riviera francesa, que tinha sido contratada após ter assinado dois telediscos de Madonna (“Like a Virgin” e “Borderline”), abandonou a produção após um “choque criativo” com Prince. Este decidiu então tomar conta da realização (com a ajuda do diretor de fotografia Michael Ballhaus) e controlar tudo. Um princípio que aplicou, ao longo de toda a sua carreira, à sua música, à sua imagem pública, aos seus concertos e “videoclips”, à sua relação com a indústria cinematográfica e discográfica, aos seus direitos artísticos, à escolha dos veículos de divulgação das suas canções e à sua relação pessoal e criativa com os media, a Internet e as redes sociais.
Tal como em “Purple Rain”, o que fica de “Sob o Luar da Riviera” é mesmo a música, embora nos EUA, e ao contrário daquele, o filme tenha sido considerado um dos piores de 1986, e ganho cinco Razzies, incluindo Pior Ator e Realizador para Prince. Madonna não chegou a interpretar o papel principal feminino, como estava previsto, que foi para uma estreante chamada Kristin Scott Thomas. A atriz inglesa diria muito mais tarde numa entrevista ter as piores recordações de “Sob o Luar da Riviera”, não por causa de Prince ou dos outros colegas, mas devido ao péssimo argumento.
https://youtu.be/dRNYiFxR2Ps
Em 1987, sempre cioso de controlar tudo, Prince realizou o filme de concerto “Prince – Sign O’ the Times’, assessorado por Albert Magnoli, como qual tinha feito amizade durante a rodagem de “Purple Rain”. Devido à má qualidade da imagem e do som dos dois concertos ao vivo originais na Holanda e na Bélgica que deviam ter composto o filme, a rodagem acabou por ter lugar nos próprios estúdios Paisley Park de Prince. Muitos críticos apontaram que Prince era melhor “ator” no palco do que a interpretar personagens de ficção, como nos dois filmes anteriores.
https://youtu.be/5r1TfPnIZdw?list=PL3A1C0316BE6F1470
Três anos mais tarde, Prince assinou aquela que seria a sua quarta e última longa-metragem, “Graffiti Bridge”, uma dita “continuação não-oficial” de “Purple Rain”. O filme foi pensado inicialmente como um veículo para a banda The Time, criada por Prince no início da década de 80, e o músico escreveu o argumento e controlou toda a produção através da sua Paisley Park Films. O único revés que sofreu foi quando Madonna, de novo convidada para contracenar com ele, recusou após ter lido o argumento e comunicado que o achava “uma merda”. “Graffiti Bridge” fracassou comercialmente e junto da crítica, e chegou a aparecer em várias listas dos Piores Filmes de 1990.
Desde aí, Prince só voltaria a realizar alguns dos seus “videoclips”, mas o seu nome ficaria ligado a uma das grandes bandas sonoras da década de 80: a de “Batman”, de Tim Burton (1989), paralela à composta por Danny Elfman. E Prince ficou assim associado a um dos primeiros filmes da história do cinema a dar-se ao luxo de ter não uma, mas duas bandas sonoras.
https://youtu.be/HUmce-zeaAA