As “cidades inteligentes” devem preocupar-se com a felicidade dos cidadãos, para além do desenvolvimento tecnológico, envolvendo-os nos processos de tomada de decisão sobre o território, defenderam especialistas internacionais que participarão na conferência Zoom Smart Cities em Lisboa.
“Uma cidade que não ouve os habitantes não pode ser inteligente”, afirmou à agência Lusa Saskia Beer, arquiteta e empresária em transformação urbana, com sede em Amesterdão, frisando que os cidadãos têm o direito de contribuir com ideias e soluções para o bairro onde vivem.
Para Saskia Beer, uma ‘smart city’ ajuda a estimular as pessoas, as empresas e as instituições a trabalharem em conjunto para desenvolverem projetos que beneficiem a cidade, participando de forma ativa na toma de decisões sobre o território, ou seja, “os cidadãos são coprodutores e não meros consumidores”.
A arquiteta considerou ainda que uma cidade inteligente “é uma cidade feliz”, em que os habitantes têm liberdade e privacidade para a viverem como querem.
Neste sentido, a socióloga holandesa Saskia Sassen, professora na Universidade de Columbia (Nova Iorque, Estados Unidos da América) e especialista em globalização e migração urbana, defendeu que os moradores devem sentir que a cidade lhes pertence, o que nem sempre acontece, contando à Lusa que quando viaja pelo mundo e pergunta aos moradores “De quem é a cidade, afinal?”, cada vez mais a resposta é: “Eu não sei, mas não é minha”.
Segundo a socióloga Saskia Sassen, “a maioria das cidades chamadas de ‘smart cities’ não são inteligentes o suficiente”, uma vez que não têm o controlo central sobre as capacidades digitais incorporadas em edifícios e sistemas, porque os comandos centrais estão a maioria das vezes nas mãos das empresas privadas que venderam a tecnologia à cidade.
A especialista em globalização e migração urbana afirmou também que um dos maiores desafios que as cidades enfrentam “é a desigualdade” socioeconómica, acrescentando que uma cidade inteligente tem que “mobilizar os moradores para um envolvimento mais ativo com a tecnologia”.
Sobre os melhores exemplos de ‘smart cities’, Saskia Sassen frisou que “há cidades que têm trabalhado arduamente na incorporação de recursos de tecnologia em todos os tipos de sistemas”, destacando o trabalho de Paris (França).
Responsável do ‘Forum Smart City’, que visa proporcionar o modelo tecnológico e empresarial para uma cidade inteligente sustentável e viável, Carl Piva definiu como ‘smart city’ uma cidade que se centra na”habitabilidade para os cidadãos, empregabilidade para as empresas e sustentabilidade para a cidade”.
Carl Pina defendeu que as cidades devem compartilhar soluções padronizadas, assim como disponibilizar uma plataforma de dados de informação, que permita às empresas locais e internacionais criarem projetos inovadores.
“A cidade deve ser projetada para melhorar a felicidade dos cidadãos”, reforçou o responsável do ‘Forum Smart City’, explicando que tem que abordar em conjunto as áreas relacionadas com a liderança, a governança,o conhecimento, os dados, o financiamento e as tecnologias de informação e comunicação.
De acordo com Carl Pina, “as cidades estão a tornar-se mais importantes do que as nações, quase como as cidades-Estado na era romana”, acreditando que no futuro as ‘smart cities’ vão ser “verdes, com centros vibrantes para pessoas criativas e comunidades fortes capazes de formar um modelo de economia partilhada”.
A arquiteta Saskia Beer, a socióloga Saskia Sassen e o líder do ‘Forum Smart City’ Carl Pina são alguns dos especialistas internacionais que vão participar na conferência internacional Zoom Smart Cities, que se realiza em Lisboa, durante quarta e quinta-feira, contando com mais de 40 oradores e com a participação de cerca de 350 pessoas.